São Pedro e o Curitibano

Um rapaz chega na entrada do céu, é abordado por um homem de aparentemente um quarenta anos.

- Oi, eu queria falar com o responsável.

- Ele mesmo. – responde o homem.

- São Pedro?

- Sim.

- Sério?

- É, por que?

- Sei lá, você não tem cara de São Pedro.

- Como assim não tenho cara de São Pedro? Que cara tem São Pedro?

- A mesma dos outros santos, velho, barba branca, bata.

- Ah, todos me imaginam assim, alias eu não sei por que?

- É, acho que passa mais credibilidade do que jeans e sapatenis.

- O que é que tem, jeans não tem erro, e sapatenis é uma das melhores invenções do ser humano... é um sapato misturado com um tênis.

- Ainda bem que o senhor não conheceu o crocs.

- Crocs?

- Esquece.

Silencio.

- Então, é o seguinte, o senhor é São Pedro mesmo.

- Isso.

- Então é com o senhor mesmo que eu quero falar, eu sou de Curitiba.

- Conheço Curitiba, varias coisas legais lá, museu do olho, jardim botânico, Oilman.

- É, essa mesmo.

- O que é que está acontecendo com Curitiba.

- O clima.

- O clima?

- O que o senhor tem contra os Curitibanos?

- Eu, nada, que isso, acabei de falar que sou um grande admirador do Oilman.

- Pois é, mas não é o que parece.

- Não to te entendendo.

- Vou te explicar, por que o senhor faz...

- Ãhm? – para e fica olhando para ele.

- ter as quatro estações num só dia lá?

- Eu não faço isso.

- Ah faz!

- Não faço!

- Faz!

- Não faço!

- Você quer saber mais do que eu que moro lá, e pego gripe semana sim, semana não.

Silencio.

- Sabe qual é a comida típica de Curitiba?

- Não, isso ninguém...

- Sopa e Resfenol.

- Você está exagerando.

- Ah estou exagerando?

- Sim.

- Ta bom... O senhor sabe o que é acordar, ver o sol, achar que está calor, sair sem camiseta e ter o mamilo congelado.

- Não. – São Pedro ri.

- Não ri não, quem o senhor pensa que é? O Serginho Malandro?!

São Pedro para.

- Você acha que é fácil, sair cedo com cinco blusas, levar um guarda-chuva e a tarde voltar carregando tudo por que fez calor. E no outro dia não levar nada pra não precisar ficar carregando e por um acaso naquele dia fazer frio?

- Não...

- Parece que o senhor perdeu alguma coisa lá e está brincando de ta quente, ta frio, ta quente, ta frio.

Silencio.

- Mas em todos os lugares é assim.

- Não é não, não é por que eu já viajei pra conferir. Tem lugares que é só calor, muito calor, mas só calor. Outros que faz frio, outros o clima normal, e tirando esses tem Curitiba.

Silencio.

- Os incomodados que se mudem.

- Oi?

- Isso mesmo que você ouviu! Se você não gosta do clima de Curitiba por que não se muda.

- Ah tá!

Roda a baiana.

- Você acha que eu vou deixar o lugar onde eu nasci e cresci. Uma cidade limpa, segura, onde as pessoas são educadas, não falam com você, mas são educadas, só por que você quer? Não. A culpa não é minha, é sua.

- Minha culpa não.

- Sim.

- Não é.

- É.

- Não é.

- Quem é o responsável pelo clima?

- Eu!

- Então, pronto. É culpa sua.

Silencio.

- Quando foi a ultima vez que você teve em Curitiba?

- Ah, não faz muito tempo.

Silencio, fica encarando São Pedro.

- Ei eu não cuido só de Curitiba e do Brasil, cuido do mundo todo. Você viu o que aconteceu no Japão? Sabe o pepino que foi aquilo? Então não venha me cobrar assim não.

- Venho sim, ou você quer que eu vá falar direto com o seu patrão? – olha pra cima.

- Não, não precisa disso. Acho que a gente pode resolver isso só nós, sem colocar o chefe no meio.

Silencio.

- E aí, o que você quer afinal de contas?

- Quero que o senhor de um pouco mais atenção pra Curitiba.

- Eu já fui mais presente, mas, poh, o Curitibano também não ajuda.

- É, eu sei, somos difíceis, mas aos poucos você se acostuma.

- Ta bom.

Saca o celular do bolso.

- O que você está fazendo?

- Ligando para o meu estagiário. Vou falar pra ele que vou supervisionar pessoalmente Curitiba agora.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 07/07/2012
Reeditado em 07/07/2012
Código do texto: T3765458