MENTIRINHA MAIS OMENO II
Se tem hômi mais mentiroso que Cumpádi Cipriano ainda tá pra nascer.
Fazia mais de vinte anos que nóis não ía pescá no Corgo do Varfrido, aí semana passada eu mais Zé Furquia, Cumpádi Coló e Cumpádi Cipriano resorvemo ir lá pegá umas jurupoca.
Lá do sítio até no corgo é mais omeno uns cem quilômetro.
Dessa vez nóis foi no Del Rei de Zé Furquia, que também é chegado numa mentira.
Depois duns quarenta quilômetro percorrido Zé Furquia começou a mentiraria.
Todo lugar que passava ele falava que lembrava de ter passado à vinte anos atrás quando a gente foi a última vez:
-- Óia, eu lembro dessa porteira...cês lembram? Óia, eu lembro dessa ponte, ela tava caída aquei tempo, cês lembram? Óia esse pé de jequitibá, tá grandão agora! Nossa, derrubaro tudim os coqueiro daqui e metero pasto. Cês lembram?
Nisso Cumpadi Cipriano foi ficando aborrecido... de repente ele viu um casal de papagaio pousado num galho de ingá, e disse pro Zé:
-- Tá veno lá Zé Furquia, aquele casal de priquito... quando a gente passou a última vez ele já tava ali, eu vi e mostrei pra Cumpadi Coló. Cê lembra?
-- Tô lembrado não, sô!
-- É, Cumpadi Coló taí pra num mi dexá menti!
Cumpádi Coló, balanço a cabeça e disse:
-- É, mais omeno!
Daí pensei comigo: se esses papagaio tava aprendendo falá o beabá aquele tempo, agora deve de tá rasgando no ingrês.