A MACADÂMIA DO MINEIRINHO

Era um dia de pré-feriado e a cidadezinha estava deveras agitada para a compra do dia das mães.

Ali pelas bandas do interior das Minas Gerais ainda contamos com aquele gostoso comércio das ruas, nas quais ambulantes, lojistas, clientes e as perenes andorinhas entre as primaveras convivemos harmoniosamente no mesmo espaço dum celeste céu aberto.

Nos arredores da Catedral Matriz, cujo sino badala as horas que por ali parecem não passar nunca, eu me lembrava dum pipoqueiro que vez ou outra eu o via a odorizar o quarteirão com sua pipoca doce, caramelizada com mel.

Aquilo era um sucesso e minha memória olfativa jamais se esqueceu daquela pipoca da esquina que encantava adultos e crianças.

Porém, naquela manhã, a esquina estava ocupada por um personagem diferente.

Junto a uma pequena carriola daquelas de pedreiro, repleta de bolinhas castanhas que mais pareciam feitas de madeiras, um ambulante gritava entusiasticamente uma receita infalível :"olha o ômega- três, e este é dos bão para o coração!".

Achei aquele chamado interessante posto que hoje em dia em qualquer esquina se consagra o velho dito popular, aquele que nos ensina que "de médico e de louco todo mundo tem um pouco".

Acho um pouco algo demais, até.

Então, um senhor mineirinho listava com douta precisão, a alto tom, todos os benefícios das gorduras polinsaturadas das macadâmias para a saúde cardiovascular dos fregueses.

E claro que a primeira da fila era eu.

Nascida na cidade grande e amante de todo tipo de castanhas, a macadâmia é das minhas preferidas e eu, confesso, desconhecia sua forma "in natura" de fruto, dentro do seu pericarpo tão belo.

Fiquei maravilhada!

Não tive dúvidas: adquiri uma porção de medidas daquelas "bolinhas de madeira", graúdas e tão baratas, que em pouco tempo parecia que eu armara uma revolução na calçada: todo mundo se enfileirou atrás de mim e ali não sobrou uma macadâmia para contar o final da minha história, taõ incentivados que estávamos pelo preço e pelo valor nutricional do fruto.

"E senhor, se quebra elas com quebra -nozes?" perguntei eu.

"Oxê gente, ara, que é fácil fácil, se quebra assim ó, pode ser com martelo mesmo" respondeu o mineirinho bom comerciante de fazer gosto, exímio a espocar com facilidade aquelas nozes de cor amantegada e a nos serví-las com maestria a seus fregueses de calçada.

Não vou "encupridar" meu conto.

De volta a casa percebi que aquele mineirinho nos tinha passado o conto da macadâmia: mas nem com quebra nozes, nem com furadeira, nem com martelo, nem com marreta: saibam, nada quebra aquela casca dura com textura natural de madeira que encobre a castanha.

Martelei o dedo, quebrei uma mármore, esmaguei as nozes, até encontrar, enfim, uma liberação artesnal para as minhas macadâmias: Uma morsa de bancada.

Conheço um senhor, torneiro mecânico aposentado, cuja morsa artisticamente manipulada por ele foi a única ferramenta que liberou minhas nozes intactas e por inteiro, todas dignas do mais refinado paladar e do mais saudável coração, embora ali já bem enraivecido por tanta adversidade gastronômica imposta pelo conto do mineirinho.

Uma fato é consumado: devo estar sendo xingada até hoje por toda aquela fila que, atrás de mim, arrematou a carriola das herméticas macadâmias "in natura".

Afinal, não é todo mundo que tem uma morsa à disposição do paladar.

Um consolo: meu coração nunca saboreou algo mais delicioso e saudável nesta minha vida, porém advirto, adquiram as macadâmias nos empórios das cidades grandes, embaladas, portanto livres, leves e soltas das suas cascas naturais.

Facilidade para desenvelopá-las da natureza é puro "conto" de mineirinho bom de papo e de literal maravilhoso bom -gosto.

E um saudável palpitar para todos.

NOTA: A MACADÂMIA É UM FRUTO OLEAGINOSO ORIGINAL DA AUSTRÁLIA, RICO EM ÔMEGA 7, UM ÓLEO MONOINSATURADO QUE PROTEGE A DEGENERAÇÃO VASCULAR ATEROSCLERÓTICA