Curupira é um mito, lenda. Diz a crença popular que são Seres fantásticos. Protegem florestas e animais. Espantam  caçadores indesejáveis e lenhadores predatórios. Seu silvo é assustador que os deixa desorientados. Seus pés são virados para trás fazendo com que caçadores e lenhadores fiquem confusos se percam ou fiquem loucos.
                Neste Brasilzão de tantas confusões e loucuras há um lugarejo chamado Curupira. Fica no
interior do interior.  Lugarzinho calmo e tranqüilo onde vive Carrrrlos, um matuto caipira atarracado.Era bolofo deusde rapazin.  Costumava matutar horas a fio, jururu, quieto, abancado no degrau da porrrrta do casebre desmilingüido e escangaiado pelo tempo. Invariavelmente estava avuado, absorto, perrrdido nos pensamentos.
            As vezes, recolhido dentro de si, via Creuzodete ciscando na casa de lá pra cá, embuchada do apronti de oito meses atrás. Estava de barriga e trabalhando de Sol parido a Sol morrido. Desarrumando e arrumando para ter o que fazer.
            Estava amancebado com Creuzodete. Havia se juntado passados exatamente seis meses. Tudo por causa daquele apronti bão dimais no Celeiro, enquanto se refugiavam de um grande aguaceiro. Creuzodete era o cacho que desaguava no coração de Carrrlos.
            Pensava num agrado, um presentin para Creuzodete. Quem sabe um vidiperfume ou um vestido. Assim Creuzodete recolheria o beiço espichado. Por causa de quê? Causdiquê de um bafafá, um bate-boca de casal. Queria pôr fim naquele banzé, naquele fuá, naquela encrenca de antisdonte. Por uma bestagem. Por causa das galinhas. Causdiquê não estavam colaborando com os ovos do dia-a-dia. Cada dia menos.
            Creuzodete ficava danada, birrenta, marrrcriada. Saia do galinheiro berrano, gritando impropérios para as penosas. Pior, sempre sobrava alguns deles para o pacato Carrrlos que o deixava zonzo e enfezado. Talvez um vidiperfume ou um vestido chique no úrtimo resolvesse. Carrrlos cismava internamente com uma cara de coió.
            Já se imaginava deixando o embrulho na badacama, debaixo da cama. Dendapia, dentro da pia talvez ou denduforno. Creuzodete o haveria de encontrar. Pegaria o embrulho. Abriria o pacote. Certamente viria correndo e saltitante nos cambitos e sorrindo com os beiços esticados de  zorêia-a-zorêia.
            Poderia até ganhar um chamego da Creuzodete. Sentir, novamente, cósca no lombo. Creuzodete sabia fazer cócegas com maestria, que o deixava prá lá de mole. Provocando um faniquito, tremeliques por todo o corpo. Deixando-o pronto para festá. Fazer uma fuzarca, uma folia só. Carrrlos até se esqueceria da espinhela caída, daquele probleminha de coluna que possuia.
            Uma coisa o desagradava. Iria campiá, fuçá e procurar lá nos cafundó do judas. Na cidade. Lugar longe. Uma lonjura, distância dimais.
            Confórfô eu vô dimanhã.
            Pensou e decidiu. Merrrmo porrrque tinha que comprar, pela quinta vez, um galo  novo. Precisava alegrar as penosas para que colocassem mais ovos, nem que fosse um cadim a mais, só um pouquim mais. Carecia, com urgência, pôr fim na marcriação da Creuzodete, que pararia de chorar as pitangas em casa.
            Isturdia, otru dia, nem o Sol havia mostrado a cara amarela e o galo velho Dhadá cantou bem alto. Cacarejava avisando para qualquer concorrente que o galinheiro tinha comando e que estava vivo. Todo galinheiro que se preze só pode existir com um único galo. Sua ância de continuar no comando das galináceas era tanta que não admitiria outro macho. Disputaria cada espaço do seu territótio. Depois de uma ótima noite de sono amanhecia com muita disposição.
            Cocorocóóóóó!
            Cantava tão alto que não deixava mais ninguém dormir, nem mesmo a jabiraca da Creuzodete, mulher valente que imediatamente pulou da cama e acendeu o fogo para preparar o café da manhã.
            Carrrlos acordou decido garrar a estrada empuleirado na corroça puxada por uma parelha de éguas. Antes porém, foi tirar aquele lundum, a inhaca da noite quente que dormira enrolado nos lençóis de linhage. Depois iria beber uma caneca de café fumegante preparada pelo Creuzodete.
            - Quainahora. Vou picá a mula.
            Pensou carrrlos. Foi se despedir.
            - Creuzinha vou garrá estrada pra cidade. Comprá outro galo pro galinheiro.
            - Ôtra veis Carrrlos? Não tens onde cair morto e vais pra gastança dinovo?
            - Só hoji. Vô regater ôce vai vê.
            - Afff! Ôce que sabe.
            Lá se foi Carrrlos suzim-suzim. Só, a corroça e a parelha de éguas foi se distanciando do casebre. Deixando a Creuzodete   morta de réiva tradaporta.
            No dia seguinte, de madrugadinha, Carrrlos chegou com um galo novo e um pacote. O agradinho, o presentim de modi amansar a Creuzodete. Deixou o galo novo de nome Thelda perto da porta do casebre. Pé-ante-pé, devagarinho, de mansinho, se aproximou e colocou o presentim dendapia. Sorrateiramente retornou para a rua, esperou clarear e colocou o Thelda no galinheiro. Ficou olhando, enquanto amanhecia....
            Primeiros raios de Sol no galinheiro...
            - COCOROcocóóóó....
            Cacarejou o Dhadá, o velho galo, se assustando com o visitante inesperado.
            - COCOROCÓÒÒÒÒÒÒ!  COCOROCÓÓÓÓÓÓÓÓÓ....
            Cacarejou o Thelda, o galo novo de peito inchado, crista alta e colorida desafiando o Dhadá.
            - Cocorococóóó....Óia! Ôce está percecebendo que sou um galo véio.
            - COCOROCÓÓÓÓÓÓÓÓÓ.... Ainda bem que reconheces. Te manda rapá!
            - Posso propor um acordo com ôce?
            - Acordo? Que acordo rapá! Acabou teu reinado.
            Enquanto isto o puleiro do galinheiro estava apinhado de galináceas em festivo murmirinho. Galo novo no pedaço...
            ... Cocóó... Corococó....Cocócorococó ...Cocóóóó...
            As penosas estavam alvoroçadas novamente. A disputa pelo território ia começar. O velho galo Dhadá continuou...
            - Cocorococóóó...Ôce poderia deixar pelo menos duas galinhas para mim?
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... (gargalhou o galo novo Thelda)
            - Que qui é isso velhote? Tás brincando! Fico com todas rapá!
            - Cocorococóóó... Só duas Dhadá, tá bãodimais. (insistiu o velho galo)
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... (gargalhou novamente o Thelda)
            - Não e não!! Já disse!! Galinheiro todinho meu. São todas minhas rapá!
            - Cocorococóóó... então vamos fazer o seguinte (propõe o velho galo Dhadá)
            Vamos fazer uma aposta?
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... Aposta? Taí, começas a falar minha língua. Ôce aposta o quê Dhadá?
            - Cocorococóóó... uma corrida...
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ.... COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ...
            - Cocorococóóó... Se eu ganhar fico com duas galinhas...
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ.... COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... (Thelda se finou de rir)
            - Cocorococóóó...Se eu perder o galinheiro é de ôce....
            O galo novo Thelda finado de rir mede o velho galo Dhadá de cima em baixo. Sente que a aposta está no papo. Tão fácil quanto bicar os milhos espalhados no dia anterior pela Creuzodete. Tomou fôlego, estufou o peito penoso. Esticou as cristas multicoloridas e falou.
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ...  tudo bem velhote... COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... Aceito... COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... ôce tá ferrado. Ai, ai. Ôcê ainda me mata de rir COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ...
            - Cocorococóóó... Bem, como minhas chances são tão poucas...serão só cem passadas...
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ.... Sóóó Dhadá? Muito pouco pra mim rapá!
            - Cocorococóóó... tem mais uma coisinha...
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... Ôce, tá me estranhando!?! Só queres levar vantagem Dhadá? Assim não dá Dhadá...
            - Cocorococóóó... Deixa eu ficar vinte passos a frente? Só 20% da corrida... É uma percentagem razoável, não achas?
            Pediu o velho galo Dhadá. O galo novo Thelda pensou uns instantes e aceitou as condições.
            - COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... Tudo bem velhote. Parece que ôce quer aplicar 171 em cima de mim! Mas, tudo bem. Vou arriscar...tás veio e tremendo de medo rapá! COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ.... COCORÓCOCÓÓÓÓÓÓ... ( gargalhou, mais uma vez, o novo galo Thelda)
            Foram para as suas marcas. O galinheiro fica eufórico. Dada a partida. O galo velho Dhadá na frente. O galo novo Thelda atrás, fazendo um esforço dano para alcançar Dhadá. Thelda quando estava quase alcançando o velho galo Dhadá eis que foi atingido por um tiro. Carrrlos sem piedade atirou no galo novo.
            Neste mesmo instante Creuzodete de saia feliz da vida do casebre. Corria serelepe enfiada no presentim do Carrrlos quando ouviu o estampido da espingarda.
            - Aiiiiiiiii ôme! Que sucedeu Virgem Maria. Cruz Creeeeedo!
            - Nada não Creuzinha. Num tô intendendo. Já é o quinto galo gay que compro esta semana! O filho da mãe largou as galinhas e estava correndo atrás do galo velho. Vê se pode???



(*) Imagem Google
Mané das Letras
Enviado por Mané das Letras em 15/06/2012
Código do texto: T3725482
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