Os Ex's

De madrugada, num desses mercados vinte quatro horas. No corredor de bebidas ele tromba com o carrinho no dela, porque está empurrando de cabeça baixa e como ela está abaixada lendo um rotulo na vê. Nenhum dos dois está no seus melhores dias.

- Ei olha por onde... Milton!

- Cintia!

Ela levanta, lembrasse como está vestida e se arrepende de ter levantado.

- Tudo bem. Quanto tempo hein...

Cumprimentam-se sem jeito, é a primeira vez que se veem desde quando terminaram o noivado de 3 anos, que terminou com a louça ganhada no casamento, inteira quebrada.

- Quanto tempo.

- Caramba você ta bem.

- Você também ta ótimo.

Agora quem se lembra como está vestido é ele. Mas não passou na cabeça de nenhum dos dois que ele poderiam se encontrar. Não no mercado. Não no corredor de bebidas.

- E aí, o que você anda fazendo?

- Ah nada demais. Só trabalhando mesmo.

- Ta trabalhando lá na fabrica ainda?

- Ainda.

- Ah que legal.

- Quando estávamos juntos você não achava né.

- Oi?

- Nada não, e você o que anda fazendo.

- Só estudando.

- Ah ta se dedicando para os concursos ainda.

- Sim.

- Achei que já tinha passado em algum.

- Não.

- Logo você passa.

Silencio.

- E a sua mãe como tá?

- Morreu.

- Aí... Sinto muito.

- Sente mesmo? Achei que você não gostasse dela.

- Não, eu gostava, sempre gostei.

- Não foi isso que você me disse antes de terminarmos.

Silencio.

- Comprando bebidas é?

- É.

- Achei que você não bebesse. Começou a beber depois que terminamos?

- Não eu não bebo ainda não. Vou dar uma festinha.

- Ah eu também.

- Achei que você não gostasse de festa.

- Pois é, as pessoas mudam.

- É mudam.

Silencio.

- Então é isso né.

- É.

- Vou indo porque ainda tenho que comprar mais algumas coisas pra festa.

- É eu também.

Ela da um beijo no rosto dele, vira as costas e vai saindo.

- Cintia.

Ela vira com um sorriso no rosto.

- Seu carrinho.

- Ah.

Ela volta, pega o carrinho e sai. Ele vai na outra direção. Ambos arrependidos de não ter ficado mais.

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- Ei me da uma moeda pra eu comer.

O homem passa reto.

- Uma moedinha por favor?

Mais um passa sem nem mesmo se dar o trabalho de olhar. Uma mulher falando ao celular também passa. Ele a acompanha com o olhar.

- Madame, qualquer trocado. Então tomara que você seja atropelada!

Por trás vem uma mulher com algumas moedas, joga na lata.

- Muito obrigada. – vira pra agradecer.

- Pablo.

- Miriam? – ele levanta.

- É você mesmo?

- Sim. – ele abraça ela, todos na rua olham espantados, ele lembra que é mendigo, e que são ex, então desfaz o abraço.

- Nossa como você está bonita. Caramba.

- Você também, ta mais magro.

- Pois é, to fazendo dieta, forçada. – ri sem graça, ela também.

- Quanto tempo hein!

- Pois é. Desde que terminamos.

- 3 anos.

- 3 anos. Parece que foi ontem.

- Parece...

- E aí, o que você anda fazendo de bom?

- A terminei minha pós, fui promovida a gerente regional, comecei a fazer um mestrado, essas coisas.

- Ah você sempre foi estudiosa, esforçada. Merece.

- Brigado e você?

- Eu to bem.

Silencio.

- Quer dizer, depois que a gente terminou eu comecei a beber, larguei a faculdade, fui mandado embora de serviço, despejado do apartamento... Mas agora eu to me recuperando.

Ela da uma olhada pra ele.

- Ah, que bom.

- Pena que não demos certo né. Tínhamos tantas coisas em comum.

- Pois é, mas a vida é assim mesmo.

- Você ta saindo com alguém?

- Não, não to não... To em outro momento da minha vida...

- Nossa eu também não to. Será que o destino não está querendo nos dizer alguma coisa?

- Ih eu estou atrasada. – olha para o pulso que nem tem um relógio. – tenho que ir.

- Vamos marcar alguma coisa.

Ela vai saindo.

- Passa aqui quando quiser, to sempre aqui. Alias você ta pisando na minha sala. – fala e da risada.

Ela fica assustada e continua sorrindo pra não perder a postura.

- Me liga naquele orelhão ali que eu que sempre atendo.

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Numa boate de strip-tease

- Agora vai entrar no palco ela, a dama da noite, a loba, Mélani.

Entra uma musica de fundo. Ela vem desfilando na passarela. Sobre a fumaça e as luzes vermelhas ela desliza no cano.

- Mélani que é nova na casa, mas experiente na vida.

Começa a tirar as peças de roupa, uma a uma. Os gatos pingados presentes, estão um em uma mesa com uma mulher com a bunda na cara. Outro bebendo no balcão. E outro parado de frente para o palco. Gritando e assoviando.

- Tira... Tira... Tira!

Ela vai desamarrando o sutiã e se aproximando dele. Então joga o sutiã na cara dele.

- Cleuza?

- Efraim?

Ela cobre os seios.

- Sensacional Mélani, esta levando os homens a loucura.

- O que você está fazendo aqui?

- Estou trabalhando! – volta a dançar.

- Essa Mélani sabe como seduzir um homem. – continua o locutor.

- Eu não sabia que você era...

- Mas eu não era. – interrompe, antes que ele fale.

- Ufa.

Ela continua dançando.

- Rebola mais para o seu publico Mélani.

- Então você virou depois que terminamos.

- Sim! – rebola.

- Não acredito. Quando estávamos juntos você era tão certinha.

- Pois é...

- Nunca quis nem realizar minhas fantasias.

- É...

- Agora está aí...

- Veja bem o que vai falar, isso é meu trabalho. – tira a calcinha e joga nele.

- Não acredito. – fica inconformado.

Ela volta para o poste e fica se esfregando desengonçadamente sobre ele. Termina a musica.

- Essa Mélani é fogo e paixão. Aplausos para ela.

O homem que estava cochilando no balcão durante a dança, acorda só para aplaudir. Mélani vai até o Efraim buscar a calcinha e o sutiã.

- Quanto você cobra pra realizar meus desejos, de quando ainda eramos namorados?

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Já se aproxima das quatro da tarde, as portas do banco estão quase fechando quando entra dois homens encapuzados e sacam armas, um rende o segurança e o outro desce em direção aos caixas.

- Atenção todo mundo para o chão.

As poucas pessoas no banco nem dão bola e continuam parada na fila, cada uma mexendo no seus celulares, desligadas do mundo.

- Pega fila igual todo mundo. – resmunga alguém que está no meio.

- Isso é um ASSALTO!

Finalmente dão atenção pra ele.

- Todo mundo pro chão. – chacoalha a arma enérgica e desengonçadamente.

As pessoas vão descendo. – Se alguém tentar chamar a policia eu mato. Joguem os celulares pra cá.

Vai recolhendo os celulares.

- Só não tentarem bancar o herói que não vai acontecer nada.

Entrega um saco plástico para os atendentes do caixa e faz sinal pra que eles coloquem o dinheiro lá dentro.

- Não quero cheque, só dinheiro.

- Mas acabamos de colocar no cofre.

- Não colocaram ainda. Eu sei que não.

- Colocamos.

- Não mente pra mim. Coloca logo o dinheiro aí. Não é de vocês. Não vai sair do seu bolso.

Uma mulher que estava no banheiro chega no meio da bagunça. Tenta voltar, mas o bandido a vê antes que ela possa dar ré.

- Parada aí! – aponta a arma pra mulher. Ela está de costas pra ele. – Onde você pensa que vai.

Ela vira lentamente. Ele a reconhece é sua ex. Ele se engasga. O senhor que esta ao lado, da um tapa nas costas fazendo o voltar ao normal.

- Muito obrigado. – diz com as mãos nos joelhos, respirando lentamente.

Todos na fila olham com cara de bravo para o senhor.

- O que? Ele estava engasgado.

Balançam a cabeça negativamente em sinal de desaprovação.

- Vai lá pro canto com todo mundo. – engrossa a voz pra não ser reconhecido.

- Oi?

- Vai lá pro canto. – aponta o caminho com a arma.

Ela passa olhando para ele. Os caixas pararam de colocar o dinheiro.

- Porque vocês pararam?

Eles voltam a encher os sacos. A mulher fica olhando fixamente para o bandido. Ele desvia o olhar. Assovia. Um rapaz ergue a mão.

- O que foi?

- Você vai nos roubar também?

- Não, só o banco.

- Por que?

Todos olham torto para o rapaz, como olharam para o velho.

- Por que eu só quero roubar o banco!

- Mas eu posso falar para o meu patrão que você me roubou?

- Não sei. Pode.

Fica um silencio constrangedor.

- Vamos logo com isso. – faz sinal para os caixas.

- Claudio? – pergunta a mulher

Ninguém responde.

- Claudio, é você?

- Anda...

- É você!

- Daqui, ta bom só isso. – pega a sacola e vai saindo.

Ele vai sair ela entra na frente dele.

- Não acredito que é você.

- Não sou eu!

- É sim.

Começa um murmúrio entre os reféns.

- Calem a boca vocês aí!

- Não acredito que você chegou a esse ponto.

- Não sei do que você está falando. – tenta passar ela não deixa.

- Você está fazendo isso porque eu terminei com você né!

- Você está louca, eu faço isso desde criança. Você esta viajando!

- Ah é você mesmo. Só você fala: você está viajando.

Ele balança a cabeça.

- Tudo isso por que eu terminei com você.

- Isso não tem nada a ver com você.

- Tem sim que eu sei. Ainda bem que eu terminei com você.

Todos ficam olhando pra ele.

- Não foi você quem terminou. Não foi ela. – se explica para os reféns.

- Foi sim. – retruca.

- Nós entramos num acordo.

- Sim, o acordo era você ficar longe de mim.

O murmúrio retoma.

- Calem a boca. – aponta a arma para os reféns.

- Claudio se você está fazendo isso pra chamar minha atenção você conseguiu.

- Como assim chamar sua atenção? Eu nem sabia que você ia estar aqui!

- Ah Claudio, eu não sou boba.

- Você está louca. Vou pegar meu dinheiro e dar o fora.

- Isso, vai mesmo por que eu não vou voltar com você. Ainda mais depois disso. O que meus pais diriam.

- Nada muito pior do que já diziam.

- Nossa como você é ingrato. Meus pais te tratavam como um filho.

- da puta!

Os reféns riem.

- Agora deixa eu indo, que a minha mulher ta me esperando pra jantar. – pega a bolsa dela e sai.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 08/06/2012
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