JORJÃO E A LEI MARIA DA PENHA

Se havia algo que deixava o delegado Carlos Henrique consternado, era choro de mulher.

Ainda mais quando ela tinha 30 anos, era bonita e sensual:

- Mas, o que foi que aconteceu, meu anjo? Conta pra mim...

Maristela - era esse o nome da vítima - fez beicinho:

- Ele me bateu!!!

Dr. Carlos Henrique trincou os dentes:

- Ele, quem?

- O Jorjão!

Ele sentiu o peito arfar:

- E quem é esse Jorjão?

- É... Bem, como eu posso dizer? Ah, deixa pra lá, doutor. Acho melhor não registrar nada.

Dr. Carlos Henrique pousou a mão naquele ombro macio, carnudo:

- Posso lhe dizer uma coisa?

Maristela ficou em silêncio.

O delegado insistiu:

- Com toda a experiência que tenho nesses casos?

Ela balançou a cabeça, afirmativamente:

- Pode!

- Se você não denunciar esse patife, ele vai te bater de novo.

Ela abriu o olho roxo:

- O senhor acha?

- Tenho certeza, meu doce...

Alisou o hematoma:

- Aliás, vou expedir uma guia para o Instituto Médico-Legal fazer o exame de corpo de delito. Está horrível...

Apesar dos pesares, ela sorriu:

- O senhor ainda não viu nada.

- Ele fez pior ainda?

Maristela pôs a mão na coxa:

- Me deu um chute aqui...

- Ficou a marca?

- Uma mancha enorme.

- Entre aqui no meu gabinete, que eu quero ver.

- Então, feche a porta, doutor.

Dr. Carlos Henrique deu três voltas com a chave e mais quatro com o ferrolho. Tapou o buraco da fechadura com uma fita adesiva:

- Assim está bom?

- Ótimo. Agora, ligue o ar e prepare uma bebida para nós dois.

- Vinho?

Maristela mordeu o lábio ferido e exigiu:

- Se tiver uísque, eu prefiro.

- Tenho sempre um litro guardado para essas emergências, meu anjo. Puro ou com gelo?

- Puro.

O delegado serviu duas doses. Maristela pegou a sua e bebeu tudo em apenas três goles. Estalou os beiços:

- Vou tirar a roupa.

- Mostra tudo, meu doce. Quero ver todos os hematomas.

- Apague aquela luz ali. Deixa só a do corredor...

Dr. Carlos Henrique estava arrepiado:

- Isto aqui tá parecendo estúdio da Playboy... Tira tudo, meu anjo, tira.

- Tô tirando... Pronto!

O delegado, nervoso:

- Preciso acender. Quero ver de perto para poder descrever nos autos... Epa!!!

- O que foi, doutor?

- Você é homem, cara!

- É com isso que o Jorjão não se conforma, doutor ! ! !

Clara da Costa
Enviado por Clara da Costa em 01/06/2012
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