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" O ROÇADO"
Extraido do meu livro "o papa risos"
Tonhão solteirão convicto! Motivo de suspiro das donzelas casadoiras do vale de Santa Maria, isto: devido aos seus dotes físicos, caboclo alto, forte, bigodes bem aparados, moreno queimado de sol daquele tipo que enlouquece as mulheres: principalmente por possuir um carro de bois novo com seis juntas de bois, tão treinados que nem precisavam do uso de candeeiro como guia, isto: mais um cavalo negro com arreios gaúcho bordados em prata, e um sorriso meio cafajeste, que parecia ter já sido feito antes dele nascer, davam-lhe o titulo de melhor e mais cobiçado partido do vale!
José das Flores, conhecido como Zé Tuim, era com todo orgulho... Seu melhor amigo! Dois anos mais novo que Tonhão, agora contando vinte e cinco anos, estava casado há três com Margarida, uma linda sertaneja que só não tinha ainda enfeitado a cabeça do Zé com um bom par de chifres, por que naquele vale o respeito era bom e servia... "Entre outras coisas, para a conservação dos dentes". Mas que ela provocava os roceiros, isto provocava! Principalmente o bonitão do seu compadre Tonhão, que tinha batizado o primeiro rebento do casal.
Tonhão tinha quinze alqueires de boa terra, toda coberta de capoeira, árvores não muito altas e que precisavam ser cortadas, pois: o dono tinha a boa intenção de lá fazer: uma lavoura de café a meia com o seu compadre. Acertou com o Zé Tuim de ele cortar e empilhar a madeira e no seu famoso carro, Tonhão faria o transporte do produto que seria vendido na cidade; Tudo muito bem acertado? Vamos ao trabalho! Segunda feira, oito horas da manhã surge lá no começo da reta o carro de Tonhão fazendo bonito e balançando o coração das santas marienses.
Ainhonnnnnnnnnnnnnn! Eia boiada! Ainhoooooooooooooooooo.
Bom... Se o carro era bom eu não sei, mas o barulho era muito bonito! Do começo da reta até a casa do compadre Zé Tuim, tinham seiscentos metros, quando o carro foi passando em frente à casa da sua comadre, Margarida já veio saindo e taramelando a porta da tapera, pois: na roça daqueles bons tempos, não tinha ladrão, ou pelo menos não tinham tantos como hoje. O compadre Tonhão muito gentil parou o carro gritando com os bois dianteiros: ôôôôô! Segura marruá, ôôôôôô segura brinquedo.
- Ô comadre ocê ta indo levar o de comer do Zé, senta aí atrás, é bem uns cinco quilômetros daqui inté lá! Dona Margarida não se fez de rogada, sentou e o compadre choferou os bois, vai brinquedo, entra marruá, ainhonnnnnnnnnnn... Um pouco mais de um quilômetro tinha uma curva, uma ponte e aí o carro entrava no meio de uma mata fechada, e rodava assim: até no local de derrubada! Enquanto Tonhão carregava o carro, o Zé almoçava e o Tonhão logo depois ia embora, deixando o compadre e Margarida trabalhando, já que ele tinha que ir e voltar dando ainda mais uma viagem.
O trabalho pegou ritmo certo e passou a ser rotina, sempre a mesma cantilena do carro e os suspiros do Tonhão pela comadre. Aquilo já estava deixando o carreiro de miolo mole. Quando se aproximava da casa da Margarida o coração parecia que ia sair pela boca, “o resto pelas calças”. A comadre já solta, cantava umas modinhas para alegrar a viagem, o Tonhão rilhava entre dentes, é hoje que vou pedir pra comadre, no outro dia a mesma coisa: hoje eu peço!
Os dias foram passando... O trabalho também já quase terminando: vai marruá... Entra brinquedo já enchendo o saco, o Tonhão ficando puto, o Zé nem aí e Margarida só cantando! Na sexta feira o Tonhão resolveu! Carro cantando, comadre sentando, curva chegando, ponte passando e ele gritando vai marruá entra brinquedo, este compadre quer pedir para a comadre, mas ta com meeeeeeeedo.
E a maldita da comadre, a peste da Margarida, a gostosa muié do Zé Tuim... Gritou lá de traz do bendito carro de boi: afasta boi brinquedo, entra marruá... Se o meu cumpádi pidí, a cumadi dááááá!.
Trovador