NÃOFONIA DOS MOSQUITOS & MAIS
Nãofonia dos Mosquitos I (21 mai 12)
Eles chegaram em grandes multidões
Para a semana da música erudita.
Tocam os sopros em sinfonia maldita,
Tocam zabumbas, agogôs e badalões.
Os seus ensaios sem quaisquer noções,
Até pensando ser música bonita;
Ocupam a cidade antes bendita,
Vampiros mil em alados batalhões...
Eu tenho para mim, com azedume,
Que virei servo dessa estranha raça,
De inseticida vivendo no perfume,
Enquanto o teu odor não me repassa
E assim eu sinto as picadas do ciúme,
Como mosquitos adejando na vidraça!...
Nãofonia dos Mosquitos II
Ninguém explica o porquê dessa invasão.
Tem gente pondo a culpa no prefeito,
Que não mandou o veneno por direito,
Só porque poucos zumbiram no verão..
Mas muitos deles, após fumigação,
Continuam a zunir, em voo estreito,
Mil manobras para não botar defeito
O mais garboso ás da aviação!...
Segundo contam, estão até no aeroporto,
Bem no alto do cerro da cidade:
Cá embaixo não me comem por um triz!
Fico a pensar que o julgamento é torto,
Pois bebem sangue em vampiricidade,
Porém não morrem: devem ser zumbis!...
Nãofonia dos Mosquitos III
Vejo essa gente a se queixar do frio
E a agradecerem, caso aqueça um pouco;
Mas esse bando de mosquitos deixa louco:
Cada picada pior que um calafrio!...
E chegam as baratas, que arrepio!...
Colegas dos mosquitos, quando ao rouco
Poema nãofônico eu faço ouvido mouco,
Porque de suas picadas não me fio...
Examinados sob a lupa, se mostraram
Os mosquitos irritantes de costume,
Não são Aedes com pintinhas de seus lados...
Porém no outono se manifestaram
E nova ideia surge em meu acume:
Talvez no Norte tenham sido derrotados!
Nãofonia dos Mosquitos IV
Ou quem sabe são até nossos amigos
E somos nós a nos mostrar ingratos,
Usando sprays, mata-moscas e sapatos,
Para matar os insetos, que perigos
Não oferecem... São os nossos inimigos
Esses outros, de estranhos aparatos,
Que trazem dengue e malária lá dos matos,
Enquanto estes é que sofrem os castigos...
Que estão somente aprontando regimentos
Para o combate contra os invasores,
Nem sei o que o Ibama irá dizer...
Talvez registrem estes coitados nos assentos
Como espécie em extinção e seus doutores,
Nos obriguem aos mosquitos proteger!...
Estenose I – (estreitamento) – 11 Abr 12
O doce azul nas papilas se acomoda
E sobe a meu olhar como cereja;
Esse sabor é qual se aos olhos veja
A cor do gosto girando feito roda.
Doce laranja se apresenta como a moda
E insiste ferozmente por que seja
Talho de cor e som quando se enseja:
Que seja a cor de todo o gosto a coda...
O doce verde a música acompanha
E se faz na dominante mais sensível,
Nessa tônica que insiste em toda a escala.
Que seja a cor da música a piranha
Que me devora o gosto do impossível,
Na cor morena que a solidão empala...
Estenose II
O dó da cor não me demonstra pena,
A dor é ré de todos meus pecados
E para mi conserva dons irados
Enquanto o fá somente a mim condena.
Eu busco o sol no palco de minha cena
E só descubro lá meus tristes fados,
Como si fossem compassos mais alados,
Na tonadilha da sonata mais amena...
E conto as emoções também por sete,
Iguais às notas do canto ocidental,
Embora, às vezes, perceba um semitom
E no gosto do som sinta o confete
De papel seco de um velho carnaval
E a cor da serpentina em róseo som.
Estenose III
Assim o som meu coração estreita,
Na panóplia multicor de minha saudade,
Nessa aquarela de sabor sem castidade,
No óleo e guache em que arco-íris se deleita.
E nos toques de tua pele assim se ajeita
A táctil plenitude da verdade,
Longe do fosco de toda a opacidade,
Na maciez da cor então se ajeita...
E dorme nessas redes violeta,
Engalanada pelo som do anil,
Nesse acalanto feito de encarnado
E cheiro a cor do pássaro encantado,
Suas asinhas a cumprir missão secreta
De dominar-me o coração com seu ardil.
Estenose IV
Também a alma no amor assim se estreita
E não se expande mais ao diapasão
De tantos olhos que por aí se vão,
Nessa estenose mórbida; que aceita
A somente uma visão estar sujeita,
Deixando o arco-íris por um único clarão,
Das sete notas só escolhe uma emoção,
Qual telescópio que só uma estrela espreita.
Amor é assim, irreal estreitamento,
Que delimita as opções da sorte
E se dedica apenas a uma só,
Igual que o visgo, que no arrebatamento
Vai restringindo em asfixiante corte,
Enquanto engrossa suas lianas de cipó.
TOGAS RASGADAS I (12 abril 12)
Quando saio a caminhar e vejo os mortos,
alegres, conversando em celulares,
nessas frases inúteis, populares,
repetições de nadas, nos desportos
de esqueletos revestidos, tristes portos
de que os navios zarparam, seculares
na ausência de si mesmos, aos milhares,
a bater sobre o vácuo os dentes tortos,
ainda recordo que em tempos mais antigos,
quando eles tinham maior dignidade,
não projetavam sons inúteis pelo espaço;
pois que fala essa gente dos jazigos
que insistem em chamar de sua cidade,
senão desse vazio de seu regaço?
TOGAS RASGADAS II
São inquietos esses mortos, pois não sabem
que deveriam se quedar em suas mortalhas,
togas rasgadas em guerras sem batalhas,
contra rezes e ovelhas... E mal cabem
nessas tolices que no ar propaguem
por celulares ou nessas redes falhas,
que chamam de sociais, enchendo as malhas
de tanta coisa inútil que eles babem...
Sei muito bem que sempre achei idiotas
ao meu redor, mas não gritavam pelas ruas,
gesticulando como a seus interlocutores,
proclamando em altos brados suas lorotas,
nesse nevoeiro de palavras cruas,
que meus ouvidos inundam de bolores!
TOGAS RASGADAS III
Prefiro a paz dos mortos enterrados,
que só falavam em seus telefones,
ou limitavam da solidão as fomes,
só seus amigos por eles perturbados.
Mas hoje vejo os mortos tresloucados,
que desgastam teus ouvidos, sem que os domes
e apenas penso: “Por que tu não somes,
para atender em silêncio a teus pecados?”
Eu só escrevo. Ninguém tem obrigação
de ler a multidão de minhas mensagens;
de fato, são bem poucos os que as leem,
pois reconheço que meus versos demais são,
revelando tão somente minhas miragens,
nesses vapores que só meus olhos veem.
TOGAS RASGADAS IV
Por que essa ânsia de verbal alocução?
Por que não vão para um canto retirado,
sem a escutar suas conversas ser forçado?
A mim me basta meu próprio coração.
Porém não creio que seja solidão
que tanta gente a falar tenha incitado.
É mais o medo de sentir-se descartado,
qual se fantasmas tenham virado então...
E assim mostram das togas os rasgões,
impondo a todos a voz de seus pulmões:
“Vem-me escutar, porque ainda não morri!”
Mas eu não quero suas chagas desvendar
e enquanto posso a mim mesmo contemplar,
sei muito bem por que ainda estou aqui.
GRANEL I [20-8-1979]
A flama ardente que de amor sentia,
De tanto crepitar-se, em labareda,
Brotou centelhas verdes como seda,
No teu olhar de espanto e nostalgia.
A flama ardente fez-se em melodia,
Teu coração tocou de ideal discreto,
Mui destramente, em gesto bem secreto,
Até fazer brilhar toda a harmonia...
Qual brilho quente, em teu olhar luzia,
Mas recoberta, como em almotolia,
De uma camada fina de receio...
E ao sorver deste azeite no teu seio,
Bebi todo o temor que ali jazia,
Plantando em troca amor no teu gorjeio.
GRANEL II
Que pensarão de mim as mulheres que não tive?
As que possuir eu quis, mas nunca me quiseram,
Aquelas que queriam a mim e não disseram
E aquelas que quiseram, enquanto eu me contive?
Que pensarão de mim, essas mulheres todas
Que sentiram pousado em seus ombros, o adejo,
O desejo incontido, brutal, desse meu beijo,
Condor alcandorado e alçado em novas bodas...?
Que pensarão de mim, bem fundo aos corações?
Que tive medo ou antes, fugi às emoções
Bem fundo registradas no âmago do peito...?
Que pensarão de mim, às vezes, no seu leito,
Num devaneio azul bordado de ilusões
Ou antes num desprezo do mais total despeito...?
GRANEL III
Há sonhos e há sonhos... Os primeiros
Nos chegam cada noite, sem memória,
Somente vívidos enquanto dura a glória,
Porém se esquecem os maus e os lisonjeiros.
Os segundos... São os sonhos corriqueiros,
Compartilhados por toda a humana história,
Sonhos sublimes, sonhos mais de escória,
São esses sonhos que nos deixam derradeiros.
Mas sonhos, sonhos são... Ou viram planos,
Ou permanecem no plano da ilusão,
Pois muita vez os planos são quimeras...
Só se conservam os planos dos humanos
Se projetados forem com razão,
Mesmo que durem só por poucas eras...
GRANEL IV
Já os meus sonhos... Tendem a esvair-se.
São devorados por essa ânsia inútil
De tudo registrar, valioso ou fútil,
Nas costas de cartões a destruir-se
Depois que tenham tempo de imiscuir-se
Na digital incerteza do inconsútil,
Retransmitidos num esforço inútil,
De alcançar corações onde homiziar-se.
Que não importa que um sonho eu realize,
Desde que em mentes alheias se introduza,
Que então o possam firmemente realizar.
Alguém que em chão mais sólido assim pise
E o sonho em plano e num projeto cruza,
Para que o possa enfim concretizar...
CÁRCERE VII
Perante a vida, sou uma bolha de sabão
e temo até qualquer felicidade,
porque sinto que os deuses, com maldade,
apenas sopram e me insuflam de ilusão.
Fico assim encarcerado em exultação,
sinto-me pleno, quase em saciedade,
até o momento em que amor ou amizade,
a gargalhar, de mim arrancarão...
É assim que percebo as entidades
que governam o destino: nos assopram,
até ficarmos grandes e brilhantes
e, nos momentos cheios de vaidades,
essa película de súbito já estupram,
com seus ferrões de risos perfurantes.
URGIR I [20-8-80]
Eu bem quisera, sabes? Quisera ser feliz,
Teu nome descrever, em lágrimas de giz,
Na carne meiga e pura, bem fundo ao coração,
Que tem te amado tanto e tanto bem te quis.
Eu bem quisera, sabes? Quisera ser fiel,
Teu nome descrever, em ráfagas de mel,
Na mente a entretecer bem fundo da ilusão,
Prender-te em diadema airoso e sem quartel.
Eu bem quisera, sabes? Porém tão curta é a vida...
Nós nos vemos tão pouco e o tempo de vencida
Vai nos levando aos poucos os dias que inda temos.
Eu te quisera tanto! E as horas se alvoroçam,
Os dias são falazes, os meses quase troçam,
Outro ano já se foi e quase nem nos vemos...
URGIR II
E que vamos fazer do tempo derradeiro?
Tu sabes que é possível que nunca nos amemos!
Por tolo que pareça a tempos mais amenos,
Para nós dois quão raro a amor nos entreguemos...
Já neste fim de século, um gosto alvissareiro
Bem que nos poderia alívio dar à vida!
Ou te parece assim ser coisa de somenos
Que os meses vão passando sem dar a amor guarida?
Quem sabe quanto tempo teremos no futuro?
É bem possível mesmo que deuses desumanos
Te estejam inspirando esse hesitar tão duro...
A renovar assim rituais tão suburbanos,
Enquanto se divertem, ocultos no jamais,
Até que amor se mostre a nós tarde demais...?
URGIR III (24-4-10)
Nem todo o amor tardio, tarde nos chega;
Talvez nos chegue até cedo demais,
Se não estamos dispostos a portais
Cruzar ao mar que incerto se navega.
Essa certeza com que amor nos cega
Pertence à mocidade. Sempre mais
Se alimenta a prudência e os torçais
Trançaram fios a que a gente mais se apega.
É mais difícil desprender-se desses fios,
Da multidão de coisas materiais,
Do que do amor cessado de existir.
A gente fica a pesar os novos cios
Contra os confrontos lançados no jamais
E perde o novo amor por desistir.
URGIR IV
Pois valerá, afinal, tanta mudança,
A pura azáfama dessa agitação,
Dessa aventura que acelera o coração
E brilha em nós qual raios de esperança?
Será que o egoísmo dos tempos de criança
Não pesa mais na grande decisão,
Quando esses bens de longa duração,
Sopesam mais nos pratos da balança?
Um novo amor é lindo, mas se sabe
Que outros amores, enterrados no passado,
Por serem grandes, mais se desgastaram.
E quando terminar o que mal cabe
Em nossa mente e ficarmos desterrados
Sem tantas coisas que o amor novo nos tiraram?
URGIR V
Se te contar, bem sei não acreditas,
Porque se passa no mundo tanto mal:
Nós não descemos por um só canal,
Pois nos meus olhos raramente fitas.
A tal separação, tu nos incitas,
Apagando impiedosa o bom fanal,
Que este mundo tornaria em manancial,
Transformando as folhas secas em benditas.
São florações matutinas ou noturnas,
Porque assim tal magia brotaria,
Se a teu redor meus braços se encontrassem,
Transformando em fulgor as taciturnas
Mágoas do mundo, que se renovaria,
Se nossas mentes sem pudor se entrelaçassem.
URGIR VI
Não é que eu tenha escolhido a solidão:
Foste tu que escolheste, mesmo perto,
Transformar meu desejo num deserto
E guisar-me, lentamente, o coração.
Para essa ausência, encontro-me desperto,
Não porque queira nutrir-me de ilusão,
Quem me recusa a plena brotação
És tu, mulher... Meu peito aberto
Sempre está para ti, mas não me abraças:
A pouco e pouco trocaste por limalha
O ouro cintilante da bateia...
Foi assim que me revisto de couraças,
Para não mais me queimar nessa acendalha
De um desfecho azinabrado de epopeia.
TABBY I (4 FEV 12)
Eu vi a gata caçando um passarinho,
que então levou na boca a seus filhotes
(alimentados com todos os fricotes,
ração, veterinário, vacina e até carinho).
Mas é como se a felina o seu caminho
quisesse demonstrar, mostrar os botes
e as astúcias, transmitir todos os dotes
com que caçam os bichanos, de mansinho.
Os filhotes a brincar se limitaram
com o cadáver que não mais voaria,
pois já estavam muito bem alimentados;
somente o antigo instinto revelaram,
pois judiaram dessa presa que fugia,
antes que os golpes mortais lhe fossem dados.
TABBY II
Que são gatos criaturas bem estranhas
e se demonstram orgulhosos comensais:
ficam dando voltinhas por demais,
fingindo não querem, cheios de manhas,
para depois, solertes suas patranhas,
condescenderem em aceitar como iguais
ou inferiores os humanos, sem jamais
agradecer, salvo por eventuais lanhas...
É tal e qual se fossem os altivos
senhores desse lar e nós escravos,
que raramente merecem elogios
e assim se mostram sonolentos ou ativos,
no amuo de hipotéticos agravos,
e nos julgam, com orgulhosos mios...
TABBY III
Mas e depois, com o maior descaso,
esses bichinhos lindos de se ver,
vão pela casa inteira descomer,
onde quer que se achem por acaso.
tem bandejas de areia para o caso
e a janela fica aberta. Assim fazer
é pura demonstração de malquerer,
pois seu respeito por nós é muito raso.
Chegam ao ponto de sair para passear
e então retornam, para defecar
no tapete que está junto às janelas.
O que se pode fazer é não deixar,
para não ter os sapatos que limpar,
que em casa durmam gatos ou cadelas!
LIDERANÇA I (5 FEV 12)
Existe um sinuelo no rebanho
Que lhe indica o caminho, o condutor,
Que evita as valas, a lama, o atolador
E o dirige até o caminho melhor ganho.
Ensina-se a criança a tomar banho,
Para livrar-se da sujeira e do fedor,
Numa gentil demonstração de amor,
Sem apelar para o chicote ou para o lanho.
Do mesmo modo, lavar a alma se lhe ensina,
Para que nela não se junte a podridão,
Para que aprenda a viver em sociedade,
Senão ao egoísmo natural se inclina
E sem limites demonstra sua emoção,
Que raramente é uma nuance de bondade.
LIDERANÇA II
Resta saber qual é a podridão
Que firmemente condena a sociedade
Que seus parâmetros varia, na verdade,
Consoante o interesse e a aceitação.
Mesmo por que essas medidas são
Bem diferentes de acordo com a vaidade.
O rico atende, com naturalidade,
A seus caprichos, enquanto o pobre, não.
E com o tempo, transmutam-se padrões:
Hoje se aceita o político correto,
Que era costume repudiar abertamente.
Talvez nos anos de que ainda dispões
Ainda vejas, no sentido mais completo,
Permitido o que o hoje faz-se ocultamente.
LIDERANÇA III
Mas sem dúvida, devido ao raciocínio,
Seres humanos não são iguais a ovelhas;
Não há um sinuelo só, as coisas velhas
São desviadas por um novo tirocínio.
A sociedade segue o novo lenocínio,
Abandonando secas folhas em corbelhas,
Buscando o mel de súbitas abelhas,
Submetendo-se a qualquer novo domínio.
Dos ditames das modas e das mimas,
Segue as mudanças da tecnologia
Por novas ânsias, que nunca se podia
Sequer se mencionar em antigas rimas
E que hoje já nem são mais fantasia,
Que o povo aceita, até quando não queria.
Nãofonia dos Mosquitos I (21 mai 12)
Eles chegaram em grandes multidões
Para a semana da música erudita.
Tocam os sopros em sinfonia maldita,
Tocam zabumbas, agogôs e badalões.
Os seus ensaios sem quaisquer noções,
Até pensando ser música bonita;
Ocupam a cidade antes bendita,
Vampiros mil em alados batalhões...
Eu tenho para mim, com azedume,
Que virei servo dessa estranha raça,
De inseticida vivendo no perfume,
Enquanto o teu odor não me repassa
E assim eu sinto as picadas do ciúme,
Como mosquitos adejando na vidraça!...
Nãofonia dos Mosquitos II
Ninguém explica o porquê dessa invasão.
Tem gente pondo a culpa no prefeito,
Que não mandou o veneno por direito,
Só porque poucos zumbiram no verão..
Mas muitos deles, após fumigação,
Continuam a zunir, em voo estreito,
Mil manobras para não botar defeito
O mais garboso ás da aviação!...
Segundo contam, estão até no aeroporto,
Bem no alto do cerro da cidade:
Cá embaixo não me comem por um triz!
Fico a pensar que o julgamento é torto,
Pois bebem sangue em vampiricidade,
Porém não morrem: devem ser zumbis!...
Nãofonia dos Mosquitos III
Vejo essa gente a se queixar do frio
E a agradecerem, caso aqueça um pouco;
Mas esse bando de mosquitos deixa louco:
Cada picada pior que um calafrio!...
E chegam as baratas, que arrepio!...
Colegas dos mosquitos, quando ao rouco
Poema nãofônico eu faço ouvido mouco,
Porque de suas picadas não me fio...
Examinados sob a lupa, se mostraram
Os mosquitos irritantes de costume,
Não são Aedes com pintinhas de seus lados...
Porém no outono se manifestaram
E nova ideia surge em meu acume:
Talvez no Norte tenham sido derrotados!
Nãofonia dos Mosquitos IV
Ou quem sabe são até nossos amigos
E somos nós a nos mostrar ingratos,
Usando sprays, mata-moscas e sapatos,
Para matar os insetos, que perigos
Não oferecem... São os nossos inimigos
Esses outros, de estranhos aparatos,
Que trazem dengue e malária lá dos matos,
Enquanto estes é que sofrem os castigos...
Que estão somente aprontando regimentos
Para o combate contra os invasores,
Nem sei o que o Ibama irá dizer...
Talvez registrem estes coitados nos assentos
Como espécie em extinção e seus doutores,
Nos obriguem aos mosquitos proteger!...