UMA SOGRA. UMA GATA. DUAS CARTAS. DOIS DESMAIOS...
Esse fato ocorreu no início da década de 1970. O principal meio de comunicação interpessoal à distância eram as cartas, enviadas pelos Correios. Um parêntese: As que não eram escritas com "estas mal traçadas linhas..." ou com "o objetivo desta é...", não eram dignas de ser lidas! O emitente seria tachado a priori de péssimo missivista!
Bom, voltemos ao que interessa!
No início dos anos 70, morava em Campina Grande, esta cidade que "me viu nascer" (e felizmente que não me viu morrer, ainda!), uma família muito unida: Uma gata, uma sogra, um cunhado, uma filha da sogra, outro cunhado.
Época de crise profunda. Seca e muitas cercas no interior. Desemprego e muitos desempregados na zona urbana. Fome, enfim!
A família decidiu: A mãe vai para São Paulo com o filho, e a filha dela fica com o genro morando em Campina. Sim! A gata, o xodó da sogra, também ficaria.
E deu tudo certo. Mãe e filho se empregam na grande metrópole nacional e, todo mês, manda (nas cartas!) algumas cedulazinhas que a inflação comia, na viagem, a metade do que valiam. Mas, tudo ia como "Deus quer"....
Num dia, o rapaz encontra a mãe caída no chão. Um infarto? Um "ataque nervoso"? Ninguém soube ao certo o que houve. Mas, o importante é que ela ficou boa.
E o importante também é que se descobriu a causa do mau súbito que a mulher teve: Numa carta, depois das "mal traçadas linhas", vem o golpe: "Minha sogra, sua gata morreu"!
O filho manda uma carta para o cunhado: "Pô, tu é doido. Do jeito que mãe gostava da gata! Tu era pra ter feito assim: Numa primeira carta, diria que a gata subiu ao telhado. Numa segunda, que a coitadinha caiu dele. Numa terceira, é que falaria na morte".
O objetivo óbvio do rapaz era este: A mãe ia psicologicamente se preparando para que pudesse suportar a informação principal.
E assim ficaram todos combinados: Nunca mandar uma notícia grave de supetão, uns para os outros.
E a vida continou assim por um bom tempo, até que o filho encontra outra vez a mãe desmaiada!
A primeira coisa que ele fez foi olhar a nova carta que a mãe recebeu. E nela estava escrito: "Minha sogra, sua filha subiu ao telhado"!