Aluno stand-up

Sinta-se mentalmente aberto para passar de gnomos às flores no amanhecer. Conseguirá viver feliz sonhando versões modificadas das coisas do mundo. Saborear a poética como acontecimento anterior às consagrações.Para aliviar a alma filosófica do problema original. Ora, Senhor. Se existiu ou nunca existiu? Tudo acabará em juízo prático com num riso de salada. É preciso libertar a ansiedade. Carregá-la para dentro do tema solucionado nem que seja pelas mangas. Solucionar fantasiosamente o buraco metafísico com o breve traçado da imaginação. Requer exame minucioso como um adeus nessa didática humana profunda e superficial.

O sujeito com dislalia progressiva ganha púlpito. Deste ponto ele dialoga sozinho o tempo integral. Dislalia para “conversa de começo” vira stand-up no perímetro alegre do bairr. Amanhã será outro dia e então é soltar a voz, falar sozinho para todo mundo escutar. Apertar o “curtir” da dislalia no verdadeiro espetáculo porque atualmente o tempo anda curto. Tudo em movimento rápido, rápido. Diga “sha-la-la-la-la”, pronto acabou o tempo. Ninguém fala mais de um minuto sobre qualquer assunto. Vivemos da incompletude. Alguém lá do fundo está perguntando: mas e daí? Não é o mesmo que falar sozinho? Dislalia ainda não tem saberes... Mas como saber se você tem dislalia compulsiva? Como diferenciar de frenesi? Por exemplo: você permanece quanto tempo com uma ideia fixa na cabeça sem poder tirá-la de lá? Para quem tem dislalia a resposta é simples: Rindo passa.

Como você não ri jamais... Utiliza recursos como conforto, incluindo a mentira mágica do tipo "pedras que voam, rostos que se modificam, alma que renasce, quejandas fábulas".

Dislalia é método de pensamento. Você precisa da dislalia para utilizar o computador ou trocar o canal da televisão. Eis o poema tecnológico para dislalia. (Parece letra de música).

Todo mundo sabe o que é dislalia. O computador sobreleva o pensamento até que alguém, você aí, seja acusado de vinculação ao mundo dos setecentos milhões de vírus graças à dislalia.

A dislalia oprime o hospedeiro longe do stand-up como um código civil para internautas que navegam blagues e não blogs. São fugas da narrativa, maravilhosas fugas em termos de percepção individual. A acácia é uma espécie de espinheiro, mas e daí? Tem que diga que é um tipo de couve. O pintassilgo, a pandorga, as expansões individuais também podem ser imediatamente convidadas a liberdade cínica.

Soberanamente a dislalia se transforma em célebre espetáculo privado do qual somente a literatura tem chance. A escrita e a leitura pelo menos tendem a resguardar o espaço certo para situar a enorme energia subjetiva. Sobre esse negócio feito com a liberdade fica bem claro: todos deviam ter direito ao espaço fixo com direito a uma canção da Gal Costa em casa. Pronto. Estrutura social e apoio de sonho. Mundo adorável para atingir o fenômeno através da coerência cultural diante da pouca incidência poética.

O portador de dislalia avança em todos os assuntos. Galopante. Em história segue direto para o chapéu de Santos Dumont. Legal, é o começo do pára-quedas. Não é? O inventor do avião esboça pára-quedas através de seu todo alado e flutuante. Na verdade é sempre alguém com o relógio além do seu tempo para uma resposta ao nível da exigência.

Com tempo curto ficamos compreendendo o seguinte: o lado estudantil de alguém com dislalia cabe todo num stand-up. Essa é a ansiedade. É um tipo de alcoolismo sem a bebida, cerebralmente rica em felicidade ofuscada pela falta de tempo em algum assunto ameno. É a vida correlata num assunto que vai vadeando a sensação imediata. Alegria e alcoolismo andam sobre curvas paralelas. Não é à toa que “álcool” tem dois “óos”, dizia o aluno com dislalia. São duas copas óbvias na mesma embaralhada sensação de porre dúbio. Óbvio que nasce da coxinha de galinha na salada da imaginação. (Rindo alto) O óbvio deve a própria existência simbólica a dislalia plena. São como espelho para insinuações por onde imagens misturam-se perfeitamente.

O stand-up, como dizia o ancestral, era apenas “um tipo de droga do nosso tempo”. Acrescentando em seguida: perdão! Eu assisto South Park, vá à merda. (Perdão, Leitores. Nele caía bem até vitupério). Momentos atrás morria atrás do jornal. Nas horas de folga havia sido soldado na Revolta de Canudos, depois andou lutando na Invasão da Coréia. Um belo dia resolveu serenizar, voltar para casa, ver mamãe, aposentar suas mentiras. Sempre na retaguarda, paisano, alegre até no adeus. Essa orfandade deixa mesmo vozes que foram criadas para preencher espaços vazios. Essa é a consagração do pai no silêncio de cada dislalia.

Conversando com outro pai todo poderoso perguntei-lhe se teria o mesmo sucesso sem tanto poder pessoal. Ele olhou nos meus olhos vazios e disse, abnegado: qual é cara ? Veja o meu tamanho e olhe o seu. Deus incomensurável não cabe na humildade. As pessoas estão sempre achando que religião é uma forma de sucesso, essas coisas da dislalia. Aleluia. Glória. O stand-up é tudo aquilo que transforma entrelinhas em parágrafos alegres para morrer de rir.

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Treine a dislalia e conseguirá um bom público para o seu stand-up

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 18/05/2012
Reeditado em 18/05/2012
Código do texto: T3674390
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