Eu disse isto mesmo?

Há muito tempo trabalhava naquele local. Todos a conheciam. Atendia ao público de maneira atenciosa, respeitosa e amiga.

Muitos momentos ficaram na sua memória.

Certo dia, lembrou-se de um objeto perdido que deveria estar guardado, ainda, no armário. Foi conferir...lá estava! O dono deveria estar precisando dele. Era um casaco preto, esquecido sobre a cadeira, em um dos dias de grande movimento. Não havia identificação...o jeito era guardá-lo e aguardar pelo retorno do dono, que não apareceu até a data atual. A perda foi no inverno passado. Os dias agora estão frios novamente. Pensava: "O dono daquele casaco deve ter comprado outro ou não?! Quem sabe precisará voltar e se lembrará que esteve aqui naquela época? Vamos aguardar..."

No seu trabalho, entre tantas tarefas, recebia e fazia muitas ligações telefônicas.

Em uma ocasião, lembrou-se de uma cena, entre tantas divertidas. Precisava marcar reuniões. Avisou a todos que constavam na sua lista, programou a agenda, reservou as salas.

Uma das reuniões já havia começado, na sala 6.

Em um intervalo destas agitadas atividades, uma pessoa telefonou querendo saber sobre um dos participantes daquela reunião, iniciada há uns trinta minutos.

Ela já havia se acostumado com perguntas assim, e entre muitas delas, havia aquela, que a incomodava: - "Quando irá acabar esta reunião? Quando poderei falar com ele?"

Ela sempre pedia para que ligassem depois, mais tarde ou que fossem pessoalmente lá, após uma hora ou mais. Que não tinha previsão do término, que algumas delas duravam pouco, outras não...dependia dos assuntos tratados.

Mas, neste dia, a pergunta foi a mesma...mas, a resposta, não!

Ela disse, rapidamente, ao telefone: - "Ele estará na reunião até ela acabar". (Despediu-se e desligou!).

Após o seu ato repentino... espantou-se com sua resposta e perguntou aos mais próximos, que trabalhavam ao lado:

- "Eu disse isto mesmo?"

E todos confirmaram, já gargalhando...ela não se conteve...gargalhou junto.

Foi dar uma volta, lanchar, respirar ar puro, para, depois, voltar ao trabalho, com mais tolerância e calma.