"FEIJOADA E SONHOS"
Estraído meu livro "O PAPA RISOS"
Valdemiro Mendonça.
Feijoada bem gostosa caipirinha cerveja e o jogão, Alemanha e Inglaterra e frio em: Belo Horizonte! Após o jogo a modorra, os meus olhos recusam-se a sustentar o peso das pálpebras e fecham-se! Minha cabeça cai para frente e eu fico ali pescando até que meu anjo protetor sugere que vá me deitar vou em seguida, antes, lembrando... Acordem-me antes do jogo do Brasil e França.
Desabo na cama larga, mexo as pernas ajeito o cobertor e aí sinto uma brisa fria no rosto vindo da janela aberta e fecho os olhos. As nuvens brancas passando acima da minha cabeça prendem-me a atenção por um instante, enquanto o tapete mágico desliza pelos ares sem uma direção fixa...
Lá embaixo o mar rebentando-se nas praias, faz ondas de espumas como se fossem as nuvens que desciam ao chão e caprichosamente pintavam aquele quadro para atrair minha atenção para as montanhas agrestes da ilha belíssima de areias douradas e cintilantes ao sol da costa de algum lugar da Grécia tão bela, antiga e cheia de mistérios quanto á força que movia aquele tapete persa.
Dei as ordens certas e o tapete desceu obedecendo-me, isso: mesmo eu não sabendo se o: “psiu, para baixo” eram as ordens corretas; deviam ser... Pois: depois de uma curva graciosa ele pousou numa clareira grande cercada de coqueiros que distavam algumas léguas desde as praias.
Levantei-me do tapete e ele transformou-se num criado mudo que me seguiu quando caminhei na direção de um bando de mulheres belíssimas no final da clareira. Quando mais me aproximei elas afastaram-se, menos uma de cabelos louros, claros, e encaracolados; que esperou minha aproximação! Notei que era proporcional ao seu tamanho com todos os músculos bem distribuídos e desenhando formas definidas num belo e tentador conjunto daquele corpo esguio e tostado ao sol.
Antes que eu abrisse a boca, ela falou com uma voz doce e sensual, meio rouca como se quisesse dizer uma coisa e as palavras que saiam da boca vermelha eram beije-me, beije-me, por favor, beije-me. Mas o que ouvi foi claro!- “Sou Safo e esta é a ilha de Lesbos”. E tu ó estrangeiro, quem és? – Sou de algum lugar que a senhorita com certeza não conhece, mas de onde venho: as pessoas conhecem a grande poetisa Safo que por sinal é responsável por uma palavra útil e muito usada no meu país que é: “safadeza” Não vejo homens na ilha, vivem sem eles? – Não exatamente, eles veem em ocasiões especiais, mais nos tempos de festas! Depois eles afastam-se e cá ficamos com nossa maneira de viver! – E suas amigas por que não se juntam a nós?– Elas o farão, porém: não agora! Sempre sou quem faz as honras a estranhos que aqui chegam.
Siga-me e lhe mostrarei onde poderás descansar em minha companhia se isso lhe aprouver. - Por certo que eu ficarei honrado em companhia tão linda e agradável, de onde venho... “Trovadores e poetas em geral nunca recusam a chance única de desfrutar da presença de uma musa, inda mais: tratando-se de uma poetisa de tão grande talento! - Disse que eu sou causa da criação de uma palavra útil para seu povo, poderia explicar-me por quê? - Talvez mais tarde, se eu tiver uma oportunidade! - Tem mais alguma coisa que sabem desta poetisa? - Sim claro, temos até algumas poesias suas traduzidas! - Poderia recitar-me algumas? – Claro, as menos safadas!
Recitei algumas traduções feitas numa universidade em Paris e trazidas por um professor Brasileiro. Quando terminei o recital improvisado, olhou-me agradecida, e com um sorriso meio cínico disse: - Oras... Mas estes são versos tão sem sal, os fiz quando estava apaixonada por um sacerdote e ele era um tanto moralista quanto ao vocabulário!
- Mesmo assim é considerada uma obra prima disse-lhe eu, dos poucos que se salvaram esses são: “os mais lidos”! Do futuro de onde venho, são muitos os anos! A maior parte da sua obra perdeu-se nas dobras do tempo, “claro que eu não ia dizer que os puritanos religiosos queimaram o grande tesouro deixado por ela”!
Entramos numa tenda feita de seda finíssima onde se notava um cuidado especial com a higiene e ela convidou-me a sentar numa das muitas redes que ali estavam esticadas! Saiu voltando em seguida com uma botija de vinho e dois copos de prata no qual entornou o liquido tinto que tomei e senti ser de um sabor doce, mas com um teor alto de álcool!
Ela não fez como eu! De uma vez ela esvaziou o copo e logo virando a botija encheu-o novamente oferecendo-me o recipiente para que eu fizesse o mesmo repetindo o gesto anterior de esvaziar o seu copo. Saiu e fez um gesto largo e logo eu entendi o que significava! Era um chamado prontamente atendido pelas suas companheiras que: com risadas e burburinho típico feminino quando em ocasiões festivas, entraram na tenda se apresentando uma a uma dizendo o nome, enquanto faziam uma reverencia graciosa e logo ia sentar-se nas redes iniciando um cântico alegre.
Logo, uma que me pareceu a mais velha, mas não a menos bela; trouxe vinho para todas inclusive para Safo e eu! Não me fiz de rogado e deixei que ela de novo enchesse meu copo. Fiquei meio sem graça ao ver as mulheres se comendo já que não eram aqueles beijos, mas uma verdadeira cena de orgia e sexo ao estilo ninfomaníaco que sem assustar-me: deixou meus hormônios acesos e o sangue a queimar-me as veias, fazendo com que Safo que parecia apenas aguardar minha visível excitação para se atirar em cima de um Trovador indefeso, mas doido para ensinar Safo o bom significado da palavra safadeza.
Pelo visto se alguém ali ia aprender alguma coisa era eu! Na verdade: em matéria de sacanagem, elas podiam dar aulas e cobrarem caro pelo profissionalismo! Enquanto Safo me lambia, outra fazia questão de puxar meu pé e eu sem saber a quem atender, prestei atenção a voz vinda de onde puxavam o pé: a voz doce, mas insistente soou mais alto, querido, querido vai começar o jogo! Benhêêêê vai começar o jogo! Acordei meio sem graça com o vira latas da minha neta me lambendo o rosto enquanto ela ria às bandeiras despregadas e minha esposa ainda puxando meu pé. Fui assistir ao jogo, passar raiva e me decepcionar como milhões de brasileiro, só que eu mais triste do que todos! Afinal... Ai Safinha, cadê ocê? Gente, que covardia me acordar.
Fim
Trovador