Vim do Futuro

Miltinho levanta no meio da madrugada pra ir no banheiro e tomar uma água. Quando acende a luz se depara com um homem sentado a mesa. Ele toma um susto.

- Aí meu Deus! – leva a mão a primeira coisa que consegue ver, uma raquete elétrica de matar mosquito.

- Fique onde você está.

O homem nem se mexe.

- Quem é você?

- Você!

- Não eu, você.

- Eu sou você!

- Como assim eu?

- Sou você mais velho.

- Bem mais velho.

Silencio.

- Então você sou eu?

- Sim, eu vim do futuro.

- Como?

- De ônibus.

Miltinho fica olhando abismado.

- Brincadeira, vim numa maquina do tempo.

- O que você veio fazer aqui?

- Vim te trazer uma mensagem.

- Por que não mandou um email?

- Eu mandei você não responde.

- Não recebi nada.

- Verificou o lixo eletrônico?

- Sim, alias eu recebi uma mensagem com o meu próprio email achei que era vírus.

- Não, era eu.

- Ah... Nunca se sabe né, hoje em dia ta difícil. Como está isso no futuro.

- Ta praticamente a mesma coisa.

- Quantos anos você está?

- 38.

- Caramba vou começar a me cuidar mais.

- E aí o como está minha vida? To rico? Casado? Tenho filhos? Me conta tudo.

- Não posso falar.

- Por que não?

- Por que se não pode altera tudo!

- Se não pode falar então o que está fazendo aqui?

- Vim trazer uma mensagem.

- Qual?

- Não entre naquele carro.

- Qual carro?

- Só posso falar isso?

- Como assim só pode falar isso? Eu entro em carros todos os dias!

- Agora é com você!

- Sim e você sou eu.

Silencio.

- Você gastou uma passagem do futuro até o passado pra dizer isso?

- Um dia você vai me agradecer.

Silencio.

- Se agradecer.

- É, pode ser que um dia sim, mas hoje eu to puto.

Miltinho do futuro levanta da mesa e vai se encaminhando para porta.

- Você não sabe nem os números da mega-sena?

- Não, você acha que se eu soubesse ia estar pobre, divorciado e cheio de dividas?!

Apaga a luz e sai.

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No canto do bar estão os últimos dois clientes, esse é um daqueles bares com a politica de só abaixar as portas depois que o ultimo cliente for embora.

- Poti.

Silencio.

- Poti.

Poti esta em silencio, olhando para a garrafa de cerveja que está no fim..

- Poti!

- Shiii!

- O que você está fazendo?

- Valorizando!

- O que?

- A cerveja. Aprendi a dar valor ao que me importa enquanto eu ainda tenho.

Assente com cabeça como se concordasse com ele.

- Cara se você pudesse voltar no tempo, pah!

- Mas eu posso.

- Como assim pode?

- Daqui seu relógio.

Puxa o braço dele, pega o relógio e volta os ponteiros.

- Pronto.

- Não cara, to falando sério.

- Eu também to! – ergue a mão para o garçom. – Garçom que horas são?

- Duas e meia da manhã. – responde o garçom, puto.

- Ele ainda está no horário antigo.

- Não, sério cara. Sério.

- Ta bom, vamo fala sério agora.

- Se você pudesse voltar no tempo, pra quando voltaria?

- Puxa essa pergunta é difícil hein, é hipotética, mas é difícil.

- Qualquer época, sem restrições.

- Só no passado? Não posso ir para o futuro?

- Não. Só voltar.

Silencio.

- Pra que época você voltaria.

- Para quando eu ainda era criança. Não tinha responsabilidade nenhuma. Minha maior responsabilidade era passar de ano, meu único trabalho era lavar a louça, e eu tinha o dia inteiro pra fazer isso.

- Verdade, bons tempos.

- E aí, pra quando você voltaria?

- Agora me deu saudades da infância também.

- Voltaria pra sua infância também?

- Não.

- Então pra quando voltaria?

- Pra quando está cerveja ainda estava cheia. – coloca o ultimo gole no copo e fica olhando para a garrafa com saudosismo.

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- Renato, desliga esse vídeo game e vai dormir por que amanhã você tem que acordar cedo.

- Mãe, amanhã eu não vou acordar cedo.

- Por que, não tem aula? Você não me mostrou nenhum bilhete. É feriado de que? Essas escolas de hoje em dia estão arrumando feriado onde não tem.

- Não é feriado nenhum.

- Reunião de pais?

- Não!

- Você foi suspenso Renato. Se você foi suspenso de novo eu juro que vou te bater. Alias eu não vou só te bater, eu vou te dar uma surra tão grande que eu vou entrar para o livro do guiness.

- Não mãe, eu não fui suspenso.

- Ah bom, por que eu não aguento mais ter que te bater!

Silencio.

- Agora vai dormir. – Fala e vai saindo do quarto. Então lembra que ele falou que não ia pra escola. – Pera aí, por que você não vai acordar cedo amanhã?

- Por que eu vou viajar.

- Viajar? Como assim viajar? Você pediu pra mim? Não, não pediu. Pediu pro seu pai? – tira a cabeça pra fora do quarto e grita. – Sergio o Renato pediu pra você pra ir viajar?

- Não. – vem um grito da sala.

- você não pediu pro seu pai também não. Que papo é esse de viajar?

- Eu vou!

- Que mané, ‘eu vou’, pra onde você pensa que vai.

- Vou viajar no tempo.

- Que papo é esse de viajar no tempo? Você ta fumando maconha? Se eu sonhar que voce está fumando maconha eu não sei o que eu faço. Alias eu sei, eu vou te dar uma surra.

- Não mãe.

- É esse vídeo game que está mexendo com a sua cabeça. É melhor você dar um tempo desse vídeo game. Ele ta fritando seu cérebro. Não sei por que seu pai te deu essa merda. – Coloca a cabeça pra fora do quarto e grita. – Sergio eu falei pra você não comprar esse vídeo game.

- Não! – grita o pai.

- Desliga esse vídeo game e vai dormir.

- Mas mãe, eu não vou pra aula amanhã. Eu vou viajar.

- A vai viajar, vai viajar sim. Não vai viajar não. Alias vai, vai viajar para o hospital se eu descobrir que você não foi pra escola. Agora desliga esse vídeo game. Se não eu vou viajar no tempo e fazer seu pai não comprar essa merda pra você.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 03/05/2012
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3646672