Certo ou errado

Glauber está no banheiro masculino, cabine individual, de uma boate chique. Ele está parado em frente a um espelho, se olhando daquele jeito que só um homem que sabe que vai aprontar olha. Ele abaixa a cabeça pra lavar o rosto, quando ele olha no espelho, ve atrás dele, um homem, de terno, com um aspecto meio avermelhado, parado. Glauber toma um susto.

- É isso aí, vai lá e pega ela de jeito.

- Aí cacete! – da um pulo.

- O que? – olha em volta.

- Quem é você?

- Denis. – estende a mão.

- Como você entrou aqui?

- Pela porta, ué.

Glauber pega duas toalhas de papel pra secar a mão. Denis, retira mais um monte e vai entregando pra ele.

- Parabéns pela gostosa hein!

- Não, eu não to com ela, eu sou casado.

Denis olha para o dedo de Glauber e não ve aliança. Glauber esconde a mão.

- Sim, eu sei, mas isso não o impede de pegar aquela gostosa.

- Como não.

- Ah, para! Eu sei que você estava pensando isso.

Denis vira Glauber para o espelho, e ele volta a pensar na “gostosa”.

- Quando você vai ter uma chance dessa de novo?

Silencio. Glauber fica pensativo.

- Então, quando você acha, que uma gostosa daquelas vai te dar moral de novo?

Silencio.

- Todo dia!

Fala, aperta a descarga e sai de dentro do lugar onde fica a privada.

- Aliás, ele tem uma gostosa daquela, talvez até mais, esperando ele em casa.

- Aí caramba! – Glauber toma mais um susto, e sai do transe do “diabinho”.

- Porra, até aqui.

Se apertam os três no banheiro.

- Quem é você? – pergunta Glauber que já não está entendendo mais nada.

- O que você queria? Está enchendo a cabeça dele com besteiras.

- Quem são vocês?

- O que, estou ajudando ele.

- Ajudando?

- Alguém por favor quer responder minha pergunta?

- É, o cara só está querendo se divertir.

- É e enquanto isso a mulher dele ta em casa.

- Como vocês sabem de tudo isso?

- Prazer, Mateus. Não se preocupe que eu estou aqui pra te ajudar.

Batem na porta.

- Ajudar ele a continuar na merda de vida que tem?

- Ei!

- Merda pra você que é contra o casamento.

- Eu não sou contra o casamento.

- Ah não?

- Não! O mundo é!

Batem na porta, novamente.

- Eu vou sair daqui, vocês são malucos. - segura na maçaneta.

- Isso finaliza aquela gostosa!

- Não. – segura a porta com o pé.

- Quer deixar eu sair.

- Não, você vai fazer cagada, trair sua mulher.

- Eu não vou!

- Ah, então ta. – tira o pé.

Ele vai abrir a porta, Denis coloca o pé.

- Como não.

- Porra!

Batem na porta, agora com mais força. ‘ei, anda logo aí, tem mais gente querendo usar. Drogado!’.

- Vai perder de pegar aquela gostosa. Sabe quando vai ter uma oportunidade dessa novamente? Nunca.

Glauber volta a pensar.

- Por que convenhamos, você não é um cara que possa se dizer: ‘nossa, como ele é bonito’.

Glauber olha torto.

- Ele não é feio.

- Sua opinião não conta.

- Por que?

- Por que você foi educado a achar todo mundo bonito.

- É.

- E você também, não é um cara rico, o que hoje em dia já perde muitos pontos.

- Onde você está querendo chegar? – pergunta Mateus.

- Que ele nunca mais, vai ter uma oportunidade dessas!

Glauber concorda com a cabeça. Batem novamente na porta. Agora é o segurança.

- Se você não abrir a porta eu vou arrombar.

- Verdade.

- Como assim verdade?

- É verdade mesmo, eu só falo a verdade. – solta a porta.

Glauber sai. O segurança olha pra dentro do banheiro, mas não vê os dois. O cara que estava na fila entra. E vai direto para a privada.

- Só fala a verdade. – reclama Mateus.

- Ah, e eu menti sobre ele ser feio e pobre?

- Não, mas...

- Então?

Dentro do lavabo escutasse uns peidos.

- Aí cacete.

Os dois somem.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 23/04/2012
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