Tenha Sucesso Puxando o Saco
Hoje, realizarei um serviço de utilidade pública. Darei uma pausa nas completas inutilidades de poemas e contos. Obviamente, não servem para nada. Além do mais, dessa forma conseguirei um número recorde de acessos. São poucos os que se interessam por poesias, essas coisas chatas. Agora, quem não quer aprender a ter sucesso na vida de uma maneira fácil (talvez nem tão fácil) e agradável? Pois bem, espero ajudá-los. Peço apenas que leiam com atenção as lições abaixo:
1) Primeiramente, é necessário determinar-se com exatidão a quem puxar o saco. Não pode ser qualquer pessoa, naturalmente. É preciso ter em mente o seguinte: devo puxar o saco com qual objetivo? Para que vou puxar o saco? Quais os benefícios pretendidos? Dinheiro? Status social? Influência política? Favores profissionais? Ou seja, é ostensível que devo procurar a pessoa mais adequada, de acordo com aquilo que desejo obter com meu trabalho em puxar o saco. Lembre-se que só se chega a algum lugar quando se sabe o que se busca.
2) Esqueça esse negócio de honra, dignidade, honestidade. De que adiantam essas baboseiras? Muito bem, você será honrado, digno, honesto, mas e daí? Continuará pobre, sem influência alguma, sem posição social, em um emprego medíocre, e por aí vai. Nos dias atuais, o negócio é ser prático, mais que isso, pragmático, deve se tirar proveito de todas as situações, não importando essa balela de princípios. Princípios é coisa de poetas retrógrados. Princípios não enchem barriga, não lhe darão um carro do ano, não farão com que você esteja sempre em meio aos que podem. Entendido?
3) Ah, você é inteligente e culto e não precisa puxar o saco para ter sucesso? Se afirma isso, então é não inteligente. Se o é, use a sua inteligência para puxar o saco com eficácia. Lembre-se que há dois tipos de Q.I.s. Use o primeiro para obter o segundo. O Quem Indica é até mais importante.
4) Seja submisso, pratique a subserviência. Sim, é chato, eu sei, mas tenha em mente que é para uma causa maior. Para se puxar o saco com eficiência, deve-se fazer tudo para aquele a quem você puxa. Tudo! E sem reclamar. Pedido feito é pedido realizado. Os invejosos dirão que você é um pato. Mas você esta pensando em seu futuro, é tudo matematicamente calculado. Você nada mais é que um esforçado, alguém que cumpre com prazer as suas obrigações com alguém que é naturalmente superior a você em algum ponto determinado.
5) Não esqueça: quem puxa o saco só tem razão quando essa razão coincide com a razão daquele ser superior de quem você puxa. Portanto, suas opiniões e seu comportamento, ainda que difiram integralmente das opiniões e do comportamento de quem você puxa o saco, elas devem ser esmagadas, pois não têm valor algum. Quem possui opinião própria e divulga suas opiniões somente consegue inimigos. E quem só possui inimigos acaba como? Sozinho, abandonado. É a lógica. Claro que nem sempre se pode aniquilar totalmente nossas opiniões, elas continuam dentro de nós, fermentando. Porém basta que as guardemos lá, bem sufocadinhas, sem nunca incomodar. Mas o ideal, o ideal mesmo, é que você mude de opinião, que passe a pensar exatamente como aquela pessoa da qual você puxa o saco. Tamanho sacrifício, tamanha abnegação chegam a ser sublimes! Alguém poderá dizer que você é um vendido, sem personalidade. Mas para você, suas ações são a de um grande mártir.
6) Lembre-se: aquela pessoa de que você puxa o saco sempre age corretamente, nunca erra, mas se erra, foi por culpa de outros e não sua. Suas qualidades são sempre muito maiores do que seus defeitos, se estes existirem. E tais qualidades não devem ser apenas reconhecidas por você, não, você deve alardeá-las ao máximo possível. Exagere um pouco, se for o caso. E se alguém intentar lhe contrariar, mostre-se profundamente ofendido, indignado, saia em defesa incondicional de quem você puxa o saco. Tais atitudes serão muito bem recompensadas posteriormente.
7) Existe um ponto de fundamental importância que não deve ser ignorado em hipótese alguma: para todos os efeitos, você NÃO é e nunca será um puxa-saco. A pessoa da qual você puxa o saco é, para os outros (é essa a imagem que você deve passar), alguém que simplesmente merece todo o seu respeito, a sua admiração, um grande amigo seu, um grande home (ou mulher) pelo qual você faria qualquer coisa, sempre o auxiliando, sempre o ouvindo, sempre o defendendo. Mas por pura e simples convicção, nunca com segundas intenções. Você até poderá me questionar: eu devo, então, ser um fingido? A resposta é: óbvio! Sim, deve fingir, dissimular, utilizar-se da hipocrisia, afinal, nunca ninguém vai saber mesmo (se você for cuidadoso) , e o que vale é a aparência. Não é assim? E é claro que o seu afeto pelo seu objeto de bajulação não precisa ser verdadeiro, autêntico. Você pode até falar mal dele pelas costas. Mas eu não aconselho, é muito perigoso. Imagina se alguém resolve espalhar? Ou chantagear você? Há muita gente invejosa por aí, há que se tomar cuidado.
8) E, finalmente, quando for se dirigir àquela magnífica pessoa de quem você puxa o saco, sempre, sempre! mantenha um sorriso no rosto, uma simpatia irretocável e um ar intensamente serviçal. Prontinho. O sucesso é garantido!