Uma galinha no divã

Crônica de uma Galinha

Numa manhã de domingo, sentada à sombra de uma mangueira, estava a observar um grupo de galinhas que ciscavam animadamente um amontoado de lixo. Me deti observando aquela imagem. Eram cinco ou seis galinhas, umas magras e outras gordas.

Uma delas me chamou a atenção, era a mais animada e robusta, daria um bom cozido. Mas o que me passou pela cabeça, não foi a panela e sim a vida daquela galinha. Em minha fértil imaginação pensei como seria a vida de uma ave como essa: ciscar, comer, botar, chocar e ir direto para a panela. Não..., não era só isso... Fui além... Em minha imaginação ser galinha estava acima desses verbos.

Afinal além de quê? Acima de quê? E se eu fosse uma galinha? Na verdade se eu fosse uma galinha, iria ao analista. É isto! Perfeito! Me deitaria confortavelmente no divã, só para entender o mundo dos humanos que usam meu nome para dar sentidos a algumas situações e reações.

Para começar a análise queria saber por que me deram o nome de galinha. Com certeza não é feminino de galo, senão seria gala. Acompanhe meu raciocínio: na língua portuguesa as palavras com sufixo “inha”, dizem respeito ao diminutivo, como: menininha, florzinha, borboletinha. Talvez queiram dizer que sou pequenininha. Se for isso, o galo deveria se chamar galinho, pois geralmente temos o mesmo tamanho, salvo alguns. Poderiam me chamar de galaça, galanha, já que estes sufixos significam grandiosidade, e juro, me sentiria bem melhor.

Na segunda visita ao analista gostaria de entender o fato de uma galinha na mesma panela com arroz se chamar galinhada. Ora, até onde sei os sufixos “ada” estão relacionados a grupos: meninada, mulherada, boiada. Se na panela tem uma galinha porque se chama galinhada? Ou, será que está relacionado a muitos pedacinhos de galinha? Que horrível essa nomenclatura.

Algo que me levaria outra vez ao divã, é que não entendo o motivo de apelidar algumas mulheres de “galinha”. Dizem isso daquelas que têm muitos parceiros. Então não podem ser comparadas a nós, pois no terreiro temos um galo para todas as galinhas e aceitamos dividi-lo com todas , não brigamos, somos humildes.

Continuando com o termo “galinha” me intriga também a questão de chamarem o homem com meu nome. “Homem galinha” , para os homens que não querem compromisso sério. Afinal, de onde tiraram essa ideia? O correto seria “homem galo”, então deixem as galinhas fora dessa.

O mesmo ocorre com filhos de mulheres que não são bem cuidados, logo são chamados de “filhos de chocadeira”. Perguntaria a ele, com certeza não me responderia, porque esse apelido, se nós galinhas botamos nossos ovos com muito carinho, depois chocamos com mais carinho e quando nossos filhotes nascem cuidamos deles muito bem até que sejam independentes. Francamente, se fossem filhos de uma galinha chocadeira seriam muito felizes.

Como seria complicada a ida ao divã para essa galinha, creio que nenhum analista daria conta de suas interrogações. Melhor é continuar assim, galinha sendo galinha, gente sendo gente, eu sendo eu em minha profunda análise louca querendo levar uma galinha ao divã.

Só sei que a história da galinha terminou assim: seu dono veio e pegou uma das galinhas, delas a mais magrinha. Olhou para mim, sorrindo me disse que ia comer uma galinhada no almoço. Quando lhe questionei porque não escolheu a mais gorda, logo escutei que, aquela era boa chocadeira e lhe dava muito lucro. E fiquei pensando... será por isso que ela era a galinha mais feliz do bando que ciscava aquele lixo?

Vai saber o que se passa na mente de uma galinha....

Ivanilda Alves 17/04/12 (Pitufa)

Pitufa
Enviado por Pitufa em 17/04/2012
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