Observações em migalhinhas (parte 1)
Nós dois foi junto.
Não é erro de sintaxe
Que o amor não conhece gramática,
nem matemática.
Para que concordar o verbo?
Ou a soma?
Melhor que a língua culta,
é se tornar um no beijo amado.
*
Je T'aime em Paris
I love you na América
Yo te amo em espanhol,
E não tens direito à retórica.
E vai que não entendas meu amor...
Eu te amo em bom português,
E ponto final.
*
Se não sou normal,
Que tens inveja em mim?
E lá vou eu ser cópia,
de você ou qualquer um?
Qualquer é este pronome,
que limita o sujeito,
a um substantivo comum!
*
O que chorando não me pede,
que enrolo a língua,
em linguagem que me fere
por não saber a pronúncia;
Amar é dom literato?
E quem só tem o primário
aprendeu a amar onde?
*
Brasileiro é tudo igual:
igual ao inglês, ao alemão, ao escocês;
Talvez tenha um só defeito:
ter nascido no Brasil!
*
Prosa, poema, crônica, poesia
Tudo é criatura de um só autor,
disperso em almas pares,
que como a tua não decifra o amor.
*
O violeiro toca sua amada,
e ela é seu violão;
Em cancioneiro e prosa maltratada,
que desafina no peito o coração.
*
O chef, francês ou brasileiro,
Se apaixona à moda da casa.
Ama como bom cozinheiro,
em alta brasa.
*
O Doutor receita cuidados,
ao enfermo de doença incurável.
Mal percebe seu coração em pedaços,
do amor que lhe fora inconsolável...
*
O mendigo na sarjeta pede esmolas
Tal qual fora a vida inteira
Apaixonado por belas moçoilas,
sem ter uma que o queira.
*
O poeta ama também,
mas esse...
Valei-me nosso Senhor!
*
Desses o que mais ama é o ser humano,
que não é profissão,
mas é desencanto.
E por isso mesmo só lhe vale,
o título de maior amante;
ou amador...
*
Caminho de volta
Por ruas aonde já passei.
No peito dor e revolta
Catando migalhas de quem só amei.
*
Não me ensina a fazer renda
que eu nunca namorei
Peço em bordado encomenda,
que o amor nunca... eu sei.
(continua...)