Arquivo confidencial
Apresentador – Vamos chamar aqui um artista da mais alta qualidade. Com vocês no domingão essa grande figura. Entra Japiaçú que já é nosso sócio no quadro Arquivo Confidencial. Fala Japiaçú.
Japiaçú – Não gosto de embolação. Eu sou um canalha, filho de pai e mãe canalha. Sou canalha desde o primeiro leite materno. Na escola fui um canalhinha. (Rola o VT retrospectivo).
Ex-colega de Japiaçú dá depoimento – Pois é Baustão, o Japiaçú foi meu colega e estragou o meu visual colando chiclete no meu cabelo punk. Agora que ele aparece nas novelas... Quero dizer que ele é um baita filho duma... (Corte)
Mãe centenária de Japiaçú – Baustão eu assisto sempre ao seu programa. É uma grande honra estar aqui falando do meu filho. O seu programa é maravilhoso, mas o Japiaçú não presta. Nunca me cedeu um centavo desse cachê que ele recebe da Gordo Television. Muito pelo contrário, ele liga pedindo algum pros birinaites que ele entorna. Ele toma de verdade e apronta. Baustão, te amo. Beijos no coração.
Baustão – O povo brasileiro nunca viu uma declaração como esta. Olha que faz anos que ocupo o mesmo espaço. É preciso coragem para expor a vida pessoal de um talento como o do Japiaçú. O público está aplaudindo de pé. (O público aplaude de pé)
Pai de Japiaçú - Oi Baustão. Quero pedir aqui no seu programa... (Tosse, fuma e volta a falar) exame de DNA para confirmar a paternidade desse garoto. Ele é talentoso demais para ser meu filho. Bebi durante vinte e quatro anos, vinte e quatro horas por dia, e hoje larguei de beber nos dias pares. Esse desgraçado nasceu meu filho e acabei pegando amor por ele. Tivemos várias empregadas lá em casa, sabe como é, bem escolhidas, quero um DNA porque aquela passista que cozinhava, lavava e ... (Corte)
Baustão – Vejam que declaração ao vivo diante de todo o povo brasileiro. Repete. Repete. Mostra a bordoada no final.
(Chega uma ordem judicial proibindo a repetição). Baustão lê calado.
Pai de Japiaçú continua agarrando o microfone a força - Por causa do Japiaçú deixei tudo pela birita, nunca mais voltei a beber canjebrina calado. Também fui embora porque era duro agüentar a família reunida pegando do meu pé. Nunca mais voltei. Nem para pagar pensão alimentícia, aliás, este é o único país do mundo que prende pai que não paga pensão alimentícia quando nem ele pode se alimentar. Isso é uma vergonha porque continuo sem dinheiro e em cana. Eu queria pedir pro Japiaçú ao vivo pra me livrar dessa fase ruim. O povo agora sabe que ele pode emprestar algum pro seu pai que batalha para dar tudo de bom a ele. Pô! Preciso tirar o meu da reta, afinal filho tem que servir para alguma coisa. (Câmera foca o pai enquadrado na lei).
Japiaçú - (Chorando comovido) Pois é papai eu ia mandar algum pro senhor, mas aguenta uns meses aí que eu estou gravando uma novela imbecil que vai levantar o maior dinheiro do mundo. Vai dar para pagar pensão até para a empregada que eu transei sem camisinha e mandei embora sem fundo de garantia. Essas coisas de família. Segura firme aí. Beijos, você serve para exemplo da galera que faz guerra de torcidas.
Baustão – Vejam que coisa de louco essas declarações de alta sinceridade. São tão sinceras que escorre lágrimas de cachaça na poltrona da senhora dona de casa que está aí engordando ao lado do marido calvo, gordo e desusado. .
Ex- prostituta de Japiaçú – Aí Japiaçú tu tá mais difícil de ser encontrado do que um DIU no baú do Clodovil. Tu tá me tirando, e ainda por cima devendo aquela transa na barra que tu nunca me pagou. Vou aí tentar arrumar as coisas e se não der vai ter barraco grosso.
Japiaçú – Vem que aqui dar é mole. Todo mundo tem que dar tudo de si para arranjar um papel. São os ossos do papel de ofício...
Baustão – Eu não dei nada para entrar porque no começo eu estava perdido na noite. Vamos chamar os reclames antes que alguém tenha que dar alguma coisa para sair. (Entram os reclames: Carvão Pompéia. Sandália Mexicana. Creme Fixador de Dentaduras Resgate).