Ressurreição

- E aí, ta pronto pra voltar?

- Oi?

- Pra voltar pra lá!

- Lá onde? – olhou em volta.

- Pra terra.

- Como assim, eu acabei de vir de lá.

- Sim, eu sei...

- Então. – interrompe.

- Mas é que você tem que voltar pra provar quem você é mesmo.

- Que isso, todo mundo já sabe quem eu sou, ainda mais depois de ontem.

- Claro, mas temos que mostrar que eles não venceram.

- É... Tecnicamente eles venceram.

Olha com cara bravo pra ele.

- Mas quem disse que vencer é tudo. – fala, tentando consertar.

Silencio.

- Vou ter que ir mesmo.

Balança a cabeça fazendo que sim.

- Mas já, aqui é tão calmo, não tem ninguém me pedindo nada.

- Ainda...

- Oi?

- Nada, nada. Vai se arrumar.

- Pra que me arrumar?

- Não vai vestido assim, né?!

- Ué por que não. – se olha tenta ver o que tem de errado.

- Tem que causar uma boa impressão.

- E ressuscitar já não causa.

- Sim, claro, mas é bom estar bem vestido. Passa mais credibilidade.

- Não estou com a mínima vontade de ir.

- É preciso!

- ‘É preciso, é preciso’... é preciso, então vai você. – resmunga.

- Disse alguma coisa.

- Não, não disse nada...

- Não adianta ficar emburrado.

- Ah pai, deixa mais uma semaninha, depois eu vou. Isso vai impressionar mais eles.

- Que mais uma semaninha, você tem que usar o mesmo corpo.

- O que?

- Sim, não achou que eu ia te mandar com outra aparência.

- Claro que achei, você troca de aparência toda hora!

- Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.

- Mas aquele lá ta meio acabado. Ainda mais depois de...

- Não, mas já estou dando um jeito. – interrompe.

- Ah bom!

Silencio.

- Coloca mais um pouquinho de musculo nele?

- Que mané musculo.

- Ah pai, me deixa ficar mais hoje.

- Não posso deixar as coisas esfriarem.

- Mas não vai esfriar.

Fica olhando pra ele.

- Amanhã cedinho eu vou, antes da missa.

- Será.

- Sim, vamos deixar eles refletirem hoje. E amanhã: BAM!, eu apareço de surpresa.

- Não sei.

- Ah pai, fazia 33 anos que eu não ficava de bobeira em casa.

- Ta bom então.

- Valeu. – corre abraçar Deus.

- Mas amanhã cedinho você vai. Sem falta.

- Ta!

Deus vira as costas e sai. Jesus volta a assistir televisão.

- Obrigado Pai! - grita.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 08/04/2012
Código do texto: T3601425