A COLHER DO GARÇON
A COLHER DO GARÇON
Ao entrar em um restaurante reparei que o maitre levava uma colher no bolso do paletó. Achei esquisito, mas interpretei como um fato casual. No entanto, quando o garçom começou a me servir, notei que ele também carregava uma colher. Olhei em volta do salão e percebi que todos os funcionários levavam uma.
Quando o garçom voltou para anotar o pedido, queria satisfazer minha curiosidade:
- Porque a colher?
- Ah! O sr. notou! Os donos do restaurante contrataram uma empresa de consultoria, expert em eficiência, com o objetivo de revisar e melhorar nosso sistema de trabalho. Depois de muito estudo, constataram que nossos clientes deixavam cair no chão a colher com 73% mais freqüência que os outros talheres. Segundo eles, são 3 quedas de colher/hora/mesa. Então, se todos ficassem preparados para cobrir esta contingência, poderíamos reduzir o número de viagens à cozinha e poupar 1,5 hora de trabalho por homem/turno!
No momento em que encerrava a frase, um som metálico o interrompeu. Rapidamente o rapaz substituiu uma colher que havia caído pela que levava no bolso e, voltando à minha mesa, confidenciou:
- Pegarei outra colher, quando for até a cozinha; assim evito uma viagem para buscá-la agora.
Confesso que fiquei impressionado. E enquanto aguardava meu pedido, passei a observar a eficácia da recomendação dos consultores.
Então percebi um detalhe no uniforme: uma cordinha fina pendurada no zíper da calça usada por cada um deles.
Quando meu pedido chegou, questionei a existência do acessório.
- Ah sim! - respondeu o garçom baixando o tom de voz - Não tem muitas pessoas tão observadoras quanto o senhor. Essa firma de consultoria achou que nós também poderíamos poupar tempo quando na ida ao banheiro. Veja: amarrando esta cordinha na ponta do... bem, o senhor já sabe, podemos sacá-lo sem usar as mãos e, dessa forma, eliminar a necessidade de lavá-las. Com isso, economizamos o tempo gasto no banheiro em 37% por homem/turno.
Passei toda minha refeição refazendo meu conceito sobre consultorias e consultores. Pensando e matutando sobre o tempo e dinheiro economizado através das simples soluções adotadas.
Na hora da conta, aproveitei para perguntar:
- Tudo o que falou faz sentido, só não consegui entender uma coisa: se a cordinha ajuda a por para fora, como é que vocês fazem para guardar ele de volta?
- Bem, não sei como fazem os outros, mas eu uso a colher...