Baú da felicidade.
"BAÚ DA FELICIDADE"
Valdemiro Mendonça
Dizem que a idéia do baú da felicidade surgiu num passado que remonta à época dos coronéis do café e que neste tempo por imposição de algumas religiões, moças tinham que se casarem virgens enquanto os rapazes... Ah os rapazes: "estes ao completarem a idade de treze anos tinham que enfrentar a pressa do pai para perder logo as condições de donzelo. Para isto os mais abastados mantinham uma escrava só para o específico ato de descabaçamento dos varões nascidos na família".
Se um rapaz com quinze anos ainda não tivesse a fama de grande garanhão, ficava mal falado e começava a ser apontado pelos visinhos male-dissentes com ditos jocosos: - lá vai ele, o maricon, tu viste ontem ele estava a brincar de rodas com as meninas enquanto outros moços divertiam-se a valer com a Mariquinha Trovoada? – Sim, pois vi. Deu-me cá uma vontade de chamar as falas o pai: "o coronel Joaquim Macambúzios". Só não o fiz: por estar correndo um boca a boca, desde quando o coronel ficou viúvo. Dizem que ele anda muito estranho sempre acompanhado daquele escravo o reprodutor de sua fazenda. – Sim, pois: até as mulheres estão a cochichar sobre o fato de ele ainda tão jovem, não ter se casado de novo. – Pode acreditar, aí tem coisa.
Assim era a vida dos rapazes, uma cobrança dos pais medrosos e tentando a todo o custo evitar que seus filhos fossem taxados de flozor.
Enquanto isto as moçoilas... Ao completarem dez anos, o pai pegava sua virgindade e trancava num baú pequeno, no ano seguinte colocava aquele bauzinho em um baú maior, junto trancando as chaves, e nos anos que se seguiam ia repetindo a operação, até, até... bem até o dia do casamento da feliz donzela, tendo o noivo certeza da sua virgindade.
Neste dia então o pai num ato solene, diante de inúmeras pessoas todas á servirem de testemunhas. Não faltando os visinhos, o padre o delegado, a mãe do noivo, as tias, que assistiam a abertura dos baús um a um até o ultimo. Este: era entregue ao já marido da feliz donzela casadoira, com a chave, ele fazia as honras da abertura. Guardando o bauzinho como preciosa recordação, que durante sua vida exibiria aos amigos e filhos, a toalha branca manchada com o sangue da virgem. Uma prova da sua macheza, e de que sua amada, só pertencera a ele.
Sabem aquele arco onde as moçoilas colocavam um pano esticado e ficavam bordando e de vez em quando espetavam o dedo? Furavam o dedo, saia sangue, saía sangue e tinham idéias, até idéias de na noite de núpcias, espetarem uma agulha no colchão... mas, isto é outra história, é aquela famosa história que Cherazar contava em capítulos todas as noites, aquela dos “mil e um chifrudinhos” pois é: esta é outra história.
Assim foi que ficou conhecido o tal baú e tendo daí nascido á idéia do famoso “BAÚ DA FELICIDADE” aproveitado pelo famoso dono de uma praça e repassado depois para um outro que ri a toa.
Mentira, então como é que foi? Uê... saiu do pinto foi para o prato eu conto uma, você conta quatro.
Trovador