Primeiro dia na Academia
 
            Segunda-feira é o dia clássico de se começar a frequentar uma academia. Um dia antes toma-se todas e come-se de tudo afinal, dizemos:
            - Hoje posso tudo: amanhã começo na academia... – Como se isso já nos emagrecesse por antecipação, sem considerar os excessos cometidos até hoje que desaparecem feito passe de mágica.
            O primeiro dia na academia é trágico: a recepcionista, geralmente falante, bonitinha, com corpo perfeito, faz uma série de perguntas incríveis:
            - Quer um Personal?
            - Para quê? A academia não tem professor?
            - Tem, mas o Personal ajuda mais e acompanha de perto.
            - Mas o professor, não vai me orientar?
            - Vai, mas não é como o Personal...
            Na verdade o Personal é mais caro e é também um meio das academias confessarem:
            - Desculpem, não conseguimos pagar bem os professores o suficiente para que te acompanhe, então, para ter melhor serviço, vai ter que pagar mais.
            Recuso o Personal, afinal, a academia já me parece cara o suficiente.
            Entro na sala com uma música estufando meus ouvidos e acredito ter errado o endereço:
            - É academia ou boate?
            Vejo ao fundo um pessoal pulando em uma sala freneticamente sobre umas mini-camas-elásticas circulares e me pergunto:
            - Esse pessoal tomou o quê?
            De cara vou à balança e confiro que os excessos do fim-de-semana realmente pesam bastante. Um professor me aborda:
            - Moço? A balança está desregulada... – Desço na hora feliz da vida. Ele mexe, remexe e afirma:
            - Pronto, pode subir.
            Confiro e percebo 200 gramas a menos. Não querendo perder a pose, respondo:
            - Puxa, ainda bem. Achei que tivesse engordado.
            - O Senhor é novo aqui?
            - O Senhor já me viu antes? – Ele nega com a cabeça.
            - Então sou novo, apesar do 46 anos bem vividos.
            - Quer fazer uma ficha?
            - Não, eu vim aqui para perder meu tempo.
            - Engraçado o Senhor, né?
            - O Senhor é mais, creia-me.
            Em seguida desfila uma ficha enorme com perguntas que não sei para que servem. Afinal, não sei nem a minha pressão, nem o nível do colesterol e nem meu índice de glicemia de cor. Devolvo praticamente vazia, apenas com meu nome e idade.
            - Quer começar por onde?
            Sendo o professor, será que ele não devia saber?
            - Costuma malhar?
            - Um pouco.
            Aponta para bicicletas e esteiras elétricas dizendo:
            - Vamos começar queimando.
            Logo imagino a idade média, com fogueiras e bruxas gritando entre as labaredas. Fico ali por meia-hora e, quando começo a sentir o suor banhando todo o corpo, ele volta:
            - Como o Senhor está?
            - Suado.
            - O Senhor é muito engraçado.
            - Bondade sua. O que eu queria é não precisar malhar.
            A aula segue com abdominais, supinos, puxadores, extensores e compressores. Saio de lá com uma sensação de leveza, embora exausto. No dia seguinte telefono para a academia e a secretária atende ouvindo a minha voz:
            - Vou processá-los.
            - Por quê?
            - Não consigo me mexer. Estou travado na cama.
            - Não se preocupe que vai passar.
          Uma semana depois a dor passou... Juntamente com minha vontade de voltar à academia.