AFINAL, QUEM SOU EU?

A minha crônica de hoje talvez seja uma das menos improvisadas dentre as que já escrevi, posto que o assunto me veio quando o interfone logo cedo tocou, e eu a dedico a todas as mulheres deste mundo, às que mandam em tudo e em todos, e às que, assim como eu, já pensam melhor antes de "mandarem".

A vida é uma escola...mesmo!

O assunto é sociologicamente antigo, por aqui já foi até tema de peça de teatro "A FULANINHA E A DONA COISA", e versa sobre a relação das "patroas" e "empregadas domésticas".

Ara, obviamente que os dois vocábulos entre aspas já não se configuram mais na nossa sociedade, pois mais modernamente se já não há mais "patroas"... muito menos há "empregadas".

Hoje as relações são bem humanísticas e se configuram em ajuda mútua.

Certo? Mais ou menos! Às vezes as relações se invertem...

Digo isso porque, confesso, aqui em casa a coisa está bem mais para a Clau do que para mim, eu, um ser que "pisa em ovos" para sobreviver no tempo e que ensaia para não incomodar a logística do ofício dela.

"Que bagunça!" é o que não queremos ouvir da Clau quando nos distraímos...

É um risco dispensável, eu acho.

Se eu mando alguma coisa por aqui? Imaginem! Eu nem arrisco.

Aqui, juro, eu me justifico e então peço desculpas logo a seguir.

Por exemplo: sabem aquelas persianas bem fininhas que decoram o mundo de todas as casas do mundo? Fui obrigada a esquecê-las!

Falar em colocar mais uma delas por aqui é rescisão de contrato de trabalho e até de amizade!

Eu quando penso nelas imediatamente já ouço da Clau: "Ah, nada disso, nem pensar, aquilo é um inferno para limpar!

Claro que é, e seria eu a discursar ao contrário?

Nada! O tempo tem disso, nos faz ficar mais obedientes.

NELA EU NÃO MANDO...NEM MORTA!

E se a Clau encontra a roupa por mim colocada "de molho" só para lhe facilitar a lavagem? Vixi, eu nunca consigo agradá-la! Que inferno...

Pobre de mim se tento ajudá-la!

Logo faz uma enquete pormenorizada: quer saber que produto usei, o tempo do molho, se esfreguei com a força certa, se separei isto daquilo, e sempre me repete a mesma pergunta "ainda não aprendeu que assim encarde a roupa, não?

É, bem certo é que os tempos mudaram mesmo, mudaram tanto que eu me sinto despersonalizada.

Quem sou eu, afinal? Não sei, vou fazer terapia para tentar descobrir...

Enquanto isso, por aqui eu só obedeço. Não acredito que algum dia gritarei meu brado de liberdade, me falta coragem.

E para quem acha que marido é, paradoxalmente, "troféu e prisão", ara, ainda está valendo aquele velho ditado: "marido a gente arranja outro bem facilmente...hoje em dia já não somos tão exigentes para tal, já uma boa ajudante do lar...a tarefa é bem penosa."

Fica o meu sábio conselho: segurem a tranquilidade, acho bem mais inteligente...e razoável.

É só por isso que por aqui eu ainda me confundo com a paisagem. Para a Clau, eu peço licença até para pensar...e depois escrever.

Esta minha crôncia?

É claro que já me havia sido autorizada por ela ...e tudo por escrito.