Leão marinho
Uma das primeiras lições a se aprender sobre um relacionamento é: que se a sua mulher não gosta de alguém, automaticamente você também não gosta.
- Não sei por que, mas eu não vou com a cara do Marquinho.
- Ué, por que?
- Acabei de falar, que não sei o por que!
- Estranho ele é gente boa, nos trata sempre muito bem.
- É, eu sei...
- Faz de tudo pra nos agradar...
- É... é...
- Sempre solicito, atencioso...
Silencio
- Vai ver é isso!
- O que?
- Por ele ser tão assim, solicito, atencioso, tudo isso. Eu fico com pé atrás.
- Por quê?
- Não sei, não tem motivos pra ele ser assim. Acabou de nos conhecer!
- Você ta viajando!
- Pode ser, mas que eu não gosto dele, eu não gosto.
- Besteira.
- Pode até ser, mas eu não quero você com ele pra cima e pra baixo.
- Ué, por que amor? Ele é gente boa!
- Por que eu não gosto dele.
- Só por isso eu não posso gostar.
- Bem, você sabe o que faz.
Silencio.
Esteban começa a dar uns beijinhos no pescoço de Luiza, que o afasta.
- Nem comece.
- O que foi?
- Não sei, vai perguntar pro Marquinhos, ele não é o ‘gente boa’.
Vira para o lado e cobre-se até o pescoço.
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- Pedro não gostei nada do jeito que você tava olhando para Kikinha.
- Que jeito que eu tava olhando pra ela?
- Você sabe muito bem o jeito.
- Não tava olhando de jeito nenhum, tava tentando ver o sinal.
- Sinal? Que história essa?
- Do truco!
- Mas precisava piscar pra ela!
- Sim, eu tava com o gato!
- Ah tava com o gato? A vez que eu queria adotar um gato você me encheu o saco.
- Mas não é esse gato que eu falando.
- Que gato é esse então, é algum apelidinho entre vocês dois?
- Não, é a carta, a que virou... Não tem nada a ver com o gato bicho!
- Então por que deram esse nome?
- Não sei, é do jogo!
- Sei, sei...
Silencio.
- O que é que foi aquilo
- Aquilo o que?
- Ela te chamando pra ir conversar a sós...
- Ãhm?
- Eu vi muito bem a hora que ela ergueu a sobrancelha pra você.
- Ela tinha espada?
- Que papo é esse de espada?
- É a segunda carta mais forte...
- Não quero saber do jogo. – interrompe – quero saber que papo é esse de espada.
- Justamente, é do jogo.
- Sei, sei...
Silencio.
- Se é do jogo, por que você respondeu tanto faz?
- Tanto faz?
- É. Ela ergueu a sobrancelha você chacoalhou os ombrinhos que nem uma bichinha...
Ele cai no riso.
- Do que você está rindo?
- É que eu tava com três.
- Sei, sei...
Ele continua rindo. Ela fica em silencio.
- Da próxima vez vamos jogar Pifi!
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Ela está sentada tentando adivinhar quem é, e ele está fazendo a mimica.
- Tubarão, tubarão...
Ele acena com a cabeça falando que não. Coloca as mãos em frente a boca e fica abrindo e fechando.
- Piranha, piranha.
Faz que não de novo com a cabeça. Abre um dos braços e gira ele em volta da cabeça.
- Cabeça, redonda, em volta.
Ele faz que não. E continua fazendo o movimento.
- Girando, pelo, cabelo, juba.
Pela primeira vez ele faz que sim com a cabeça. Ele coloca as mãos em frente a boca, novamente, e repete o movimento de abrir e fecha-las.
- Boca.
Ele faz que sim. Faz o movimento da juba e em seguida o da boca.
- Cabelo na boca.
Balança a cabeça dizendo não. E fica repetindo o movimento.
- Boca no cabelo.
Balança a cabeça cada vez com mais força.
- Cabelo na comida.
Pitagoras para.
- Cabelo na comida Vanessa?
“ih perderam, perderam, não pode falar” – grita os amigos em coro.
- Eu achei que era.
- Como assim?
- Ué, quando eu falei cabelo você falou que estava certo.
- Não era o cabelo, era a juba. Juba. – faz o movimento com o braço contornando a cabeça.
- Eu achei que era cabelo.
- Mas mesmo assim, como conseguiu chegar no cabelo na comida.
- Ué, falei cabelo você falou que sim, depois boca, também. Tinha que chutar alguma coisa.
- É mimica sobre animais Vanessa.
- Ah Pitagoras, eu sei, mas eu fiquei desesperada. E eu não sei o que você está falando. Suas mimicas também não ajudam muito.
- O que, fui campeão de mimica com a Carolzinha.
- Então da próxima vez vai jogar mimica com ela. – levante, pega a bolsa e sai do apartamento.
Todos olham torto e fazem uma cara que nem precisa ser bom em mimica pra identificar que ele fez besteira. Antes que a porta do elevador feche ele entra.
- Desculpa amor, eu não queria falar aquilo. Mas sabe como eu levo a sério mimica.
Silencio.
- Não queria perder de novo. Por isso agi daquela forma.
Silencio.
- Vamos voltar lá, eu vou ter mais paciência.
Silencio.
- Me perdoa, você é a melhor dupla que eu já tive. Se você quiser nem precisamos mais jogar. Abdico da mimica por você.
Silencio.
Ela resolve voltar junto com ele.
- Qual era o animal que você estava fazendo?
- Esquece.
- Qual era?
- Leão marinho!
- Hum, sabia!