A BUCHADA...

Numa cidade pequena do interior, aconteceu um aniversário ainda hoje comentado no lugar. Sr João estava completando mais uma primavera, e nada melhor que uma festa para reverenciar mais uma ano de vida. Cidadão valente, de olhos encarnados e esbugalhados, pelos do nariz emendando com o bigode, magro parecendo uma tabica, quase esquelético, e portador de uma barriga de fazer inveja a qualquer mulher grávida de nove meses. ´

Família presente, disco na vitrola, tocando um arrasta-pé daqueles que fariam qualquer cangaceiro de lampião ressuscitar. Lá pelas tantas, como de praxe, veio o parabéns, com direito a bolo, velinhas, salgados e docinhos como de costume em quase toda festinha desse tipo. Seu João muito satisfeito, ao abaixar-se para tentar apagar a vela, desinflou sem querer...Mas, salvou-se da decepção porque ouviu-se um apito, talvez, uma criança travessa resolvera apitar no exato momento do Pum ! As cores do ambiente se transformaram numa nuvem de fumaça mais preta que a cor da pele de um trabalhador de carvoaria, ou de moradores situados nas vizinhanças de certas fábricas que soltam sua fuligem na atmosfera.. O mau cheiro impregnou totalmente o ambiente. Urubu teria repudiado o cheiro da carniça. Algo como se fosse um caminhão transportando galinhas suadas após uma grande distância.

Imediatamente sua filha Crisanéia, tentou, em segredo, remediar a questão oferecendo-lhe uma gemada, alegando que seria muito bom para o fígado. Sem pestanejar, seu João engoliu um ovo inteiro com casca e tudo, e logo em seguida, acabou com a festa, sob a alegação de que iria descansar, pois, no dia seguinte teria que pegar pesado no batente. Na verdade logo que o último convidado saiu, sob o riso falso da agonia, seu João internou-se no vaso sanitário e esqueceu do mundo ao som de algumas interjeições verbais e intestinais. Aquela buchada de bode não estava boaaaaa, frase repetidíssima, sempre que era compelido a fazer forças.

Uma semana depois, seu João começou a sentir um pia-pia de sua barriga. Então, foi até a casa de seu Zé Enfermeiro, um curioso em Medicina da região e contou-lhe o fato. Pois bem ! Deita aí seu João... vamos ver que troço é esse dentro de sua barriga. Apertou-a lateralmente à direita e ouviu um piar, depois à esquerda e outro pio, no centro uns piu, piu, piu, piu... É seu João o negócio aí é tão sério que nem médico resolve. Vou mandar o senhor prá consulta com o "Pai Dadá", talvez, ele resolva o seu problema. Seu João disse-lhe agoooraaa. O que quero é ficar bom.

Chegando ao Centro Alma Penada, foi recebido pelo pai de terreiro, que receitou-lhe uns banhos e chás à base de ervas, durante sete noites, até que a piadeira definitivamente desaparecesse, além de umas sessões de descarrego e orações durante os banhos... --Disse seu João - Ói seu Dadá, não tem nada que possa arresorver essa assombração na minha barriga do tipo assim: "tiro e queda", não? Não! Respondeu-lhe o Curandeiro, tendo acrescentado que seria preciso dar tempo para a legião de Santos trabalhar. Após sete dias de tratamento, e logo após o deleite de um sarapatel de porco, nenhum piado se repetiu. Não houve mais piu-piu.

Mas, o que seu João não contava era que 15 dias após a solução de seu problema, um netinho seu, apareceu-lhe perguntando por um apito que teria deixado na cozinha, durante os preparativos de seu aniversário.