Na Garupa de uma Moto
Numa cidadezinha do nosso interior, às margens do rio São Francisco, de costumes ainda provincianos, seus habitantes teriam de recolher-se no máximo até às dez horas de noite, sob pena de alguma censura de ordem moral, principalmente se fosse mulher, que poderia ser tachada de “mulher falada”.
Como sempre, as pessoas de melhor poder aquisitivo mandavam seus filhos para a capital, onde poderiam estudar e adquirir hábitos mais modernos.
Certa feita, um moço daquela cidade foi passear na capital e, casualmente, numa bela madrugada, encontra uma de suas conhecidas daquela cidade interiorana em companhia de um rapaz, numa moto. Talvez sentindo uma dorzinha de cotovelo, achou ali um bom motivo para fazer uma fofoca ao pai da moça, quando regressasse à sua cidadezinha.
Na primeira ocasião em que encontrou o pai da moça, foi logo dizendo:
_ Mas seu Jerônimo (fictício), encontrei sua filha às três horas da madrugada, na garupa de uma moto.
_ Na garupa de uma moto, às três horas da madrugada? Eita menina de uma coragem danada!
Aquela minha filha sempre foi de uma disposição de dar inveja a qualquer um!
E o fofoqueiro, descabreado, foi saindo de mansinho, sem mais conversa. Não tinha moto nem morava na capital, pra que foi se meter com o velho?