NEM TUDO QUE PARECE...É!
Uma criança de nove anos, a Beatriz, foi quem me inspirou o seguinte relato.
Para quem já chegou aos "cinquentinha e um e meio" , essa para lá da meia idade que faz com que a gente se olhe e observe algumas transformações no tempo, é interessante observar como as crianças pensam e sentem "os adultos um tanto mais velhos", digamos assim.
Eu acabava de rever alguns amigos que não os via há muito tempo, e confesso, é natural que às vezes demoremos para reconhecer alguém da mesma idade da gente, e vice-versa e ali, o diálogo com aquela menina me encantou...a me lançar na relatividade do tempo.
Eu a conheci num desses momentos de lazer quando nadávamos juntas e não demorou muito para que enveredássemos por uma boa conversa.
Ela, muito falante, me dizia que estava aprendendo a nadar -"você acha que eu nado bem?"-numa atividade extra da sua escola e quando eu lhe disse que a natação é um dos esportes mais completos que existe porque exercita todos os sistemas orgânicos sincronicamente, ela logo concluiu " ah, então deve ser por isso que insistem tanto para que a gente nade lá na minha escola".
E já que o assunto era escola então eu lhe perguntei se gostava de estudar. "Estudar é meio chato, eu não gosto muito de português, lá na minha escola ninguém gosta de escrever, mas eu só adoro mesmo é a geografia".
Bem, matutei sobre aquilo que ela me dizia, de fato, algumas matérias como geografia, que era a matéria que eu odiava porque eu nunca conseguia imaginar o que era o meu "mundo' naquele enorme espaço, hoje então entendo que seria melhor os alunos a aprenderem vendo.
Disse-me que o que conhecia e achava bem legal na geografia era estudar sobre a "rosa dos ventos".
"Você estudou o espaço, conhece as estrelas?" me perguntou com os olhos brilhantes e então lhe respondi com uma pergunta.
" E você já foi ao planetário?' - ao que ela me respondeu que não a também me perguntar do que se tratava.
Depois que lhe expliquei o que era o planetário, um lugar lindo que conheci com a idade dela, aonde podemos ter a ideia do planeta no contexto do espaço sideral, ela então me exclamou:"nossa, VOCÊ FOI LÁ COM NOVE ANOS, então esse tal de planetário é BEM VELHO!".
Ahã, que ótimo aquele elogio para quem entrou bem disfarçadamente-nunca aos olhos duma criança!- nos cinquenta e um e meio...mas ufffa, depois do susto meu e dela (putz, acho que devo estar bem mal mesmo, pensei bem baixinho), ela me finalizou:
"Quantos anos você tem, então?".
Espaço do meu tempo a parte, me digam, como eu poderia dizer a minha idade verdadeira para aquela menina depois do baita susto que ela levou com a IDADE DO MEU PLANETÁRIO?
Decerto pensaria que eu vinha de outro planeta bem distante do dela!
"Vamos lá, vamos ver se você adivinha, quantos anos você acha que eu tenho?" eu lhe perguntei já me preparando para a resposta...
"Ah, acho que você tem...uns trinta...uns trinta e seis..."
"Quase acertou, mas eu tenho quarenta..." eu lhe disse já me sentindo um pouco melhor, mesmo ao tentar mentir um número mais compatível com A CARA do meu tempo- " Tenho quarenta e quatro!"
Nossa, nem parece, minha mãe é BEM "mais velha" que você...ela já tem...já tem quarenta e seis!
Achei engraçado e juntas demos uma boa gargalhada...
Moral da minha crônica?
Pois é, taí algo relativo mesmo, o tempo das pessoas, principalmente na cabeça das crianças.
Já na cabeça dos adultos... tempo parece algo absoluto, de inexorável geografia.
Bem, eu aprendi com a Beatriz que, nesse espaço, nem tudo que parece ser de fato é...e melhor ainda: às vezes nem tudo que é...é o que parece ser...nesse nosso tão curto "espaço" de tempo quando contado na realidade material frente à relatividade metafísica e atemporal do infinito espaço sideral.
Foi assim que eu a convenci a conhecer aquele "meu velho planetário", para que lá ela percebesse o quanto todos somos parte dum tempo infinito que não pode ser mensurado.
O que vale é...click!- acender o planetário dentro de cada um de nós,
porque toda luz estelar brilha no infinito de qualquer espaço, a qualquer tempo.