Lógico, é carnaval!

- Onde você ta indo?

- Pular carnaval!

- Como assim pular carnaval?

- Ué, pulando, dançando, cantando, se divertindo...

- Mas você é um cachorro, não pode pular carnaval!

- Por quê?

- Porque cachorro não pula carnaval.

- Quem disse?

- Eu. E o mundo inteiro.

- Nunca vi o mundo inteiro dizer isso, só to vendo você. E outra eu pulo carnaval todos os anos. Desde que eu completei dois anos. Você que não viu por que só sabe dormir.

- Ah eu durmo mesmo, os feriados foram feitos pra isso.

Silencio.

- O que você ta esperando?

- O Bob, e o Max vão passar aqui. Tão terminando de vestir a fantasia.

- Fantasia?

- É vamos num baile a fantasia.

- Baile a fantasia de cachorro? Só me faltava essa.

- O que, você nunca foi?

- Não!

- Nem de baile a fantasia de gato?

- Não. Gato não comemora o carnaval!

- Nossa que chato ser gato.

Silencio.

- Veste uma fantasia de cachorro e vem com a gente!

- Não, eu não gosto de fervo, bagunça. Prefiro dormir.

Silencio.

- Não é um baile a fantasia?

- Sim!

- E por que você não esta de fantasia?

- Mas eu to!

- Do que?

- De vira lata!

Silencio.

- Eu tava sem dinheiro pra alugar fantasia. Vou lá, eles chegaram.

------------------------------------

- Mãe to indo.

- Onde?

- Pular carnaval.

- Ta bom.

Ele vira as costas e vai saindo.

- Ei se for transar use proteção.

- Mãe!

- O que?

- Eu vou transar, não jogar paintball.

------------------------------------

- E aí, já pegaram quantas?

- Eu já peguei cinco.

- Eu peguei sete.

- Caramba acredita que ainda não peguei nenhuma.

- Não acredito.

- Sério.

- Ta muito fácil, por que não pegou?

- Não sei, eu to chegando em todas, e nada.

- Porra, mas você é o que sempre pega mais.

- Pois é, sei lá o que ta acontecendo.

- Será que não é a tua fantasia.

- Não, não pode ser.

- Sei não.

- Não é. Minha fantasia ta perfeita.

- É, realmente está perfeita.

- Mas não sei se devia ter exagerado tanto.

- Não tem como se fantasiar de Lady Gaga sem exagerar tanto.

- É ele tem razão.

Silencio.

- Por que será que não to pegando ninguém. – fala e sai desfilando no salto atrás das mulheres.

---------------------------------

- Pai to indo.

- Onde?

- Pular carnaval.

- Ta, cuidado pra não arrumar um filho por aí.

- Que isso pai, não sou irresponsável assim. Uso sempre camisinha. E com tanta propaganda assim tem que ser muito burro pra acontecer alguma coisa desse tipo no carnaval.

- Ei, saiba que na minha época não tinha tanta propaganda assim. Eu não tenho culpa.

---------------------------------

- E aí cade a camisinha.

- Putz, não tenho!

- Não sem camisinha não rola.

- Ah não é.

- Não.

- Mas é carnaval!

- Por isso mesmo que você tinha que ter camisinha.

- Por que.

- Por que é a época que mais se usa camisinha.

- Mas eu não esperava que ia rolar alguma coisa.

- E não vai.

- E se eu correr lá buscar uma.

- Aí eu vou perder o clima.

- Não vai não. Eu vou correndo e volto correndo.

- Ah não, se você sair pedir camisinha agora vão saber que você vai fazer sexo.

- E o que é que tem?

- Eu tenho vergonha.

- Vergonha por que? É carnaval.

- Por isso mesmo, vão pensar que eu sou dessas que sai dando pra qualquer um no carnaval.

- Ei eu não sou qualquer um.

- Eu não sei nem seu nome.

- Dimas! Pronto não sou mais qualquer um.

- Ta, mas mesmo assim não da...

- Por que, é carnaval ninguém ta nem aí pros outros.

- Ah mas e se alguém ver você pegando...

- Ninguém vai te ver. Eu vou lá peço pra um amigo e volto.

- Mas e depois quando você me apresentar para o seus amigos, o que eles vão pensar?

- Eu não vou te apresentar pra eles.

- Ué, por que não?

- Por que é carnaval!

----------------------------------

- Ei gatinha que tal você dar uma ré na minha marchinha! – fala no ouvido.

- Que palhaçada é essa.

- Aí caramba, você é homem.

- Sim. – responde e arruma a calcinha, bravo.

- Desculpe, me confundi.

- Confundiu é, você vai ver só. – sai.

Silencio. Ve outra de costas para o balcão.

- Delicia, quer ver a mangueira entrar. – chega cochando.

- Ei, que porra é essa de mangueira?!

- Você é homem também. – leva um susto.

- Claro. Tira essa mangueira pra lá! – arruma a saia.

- Foi mal, é que eu vi de costas, parecia uma mulher.

- Opa, opa... Como assim?!

- Quer dizer, não é que parecia, parecia... É que eu já bebi, e...

- Então da uma segurada na bebida aí.

- Verdade, né. Desculpa novamente.

- Dessa vez passa, por que é carnaval. – arruma os peitos falsos e vai embora.

O homem fica parado no balcão, tomando uma dose.

- E aí gato, bora pra pista, só tava faltando você pra completar meu bloco! – arruma a gola da camisa.

- Sai pra lá!

- Ei você ta louco.

- Ah você é mulher.

- Claro que eu sou mulher. O que você pensou que eu era? – coça a calça na parte do saco.

- Sei lá, você ta vestida de homem.

- Lógico, é carnaval.

---------------------------------

Alta madrugada, a porta se abre, o homem entra de fininho, sem camisa com colar havaiano, confetes e serpentina no corpo. Acende a luz, se depara com a mulher esperando ele no sofá.

- Bonito, em seu Zé!

- Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele? Oi, amor!

- Onde você estava?

- Na empresa.

- Como na empresa, hoje é feriado. Você saiu buscar pão e sumiu...

- Fui buscar o pão na empresa.

- Oi?

- Oi!

- Zéééé...

- Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele?

- Cala a boca.

- Desculpa!

- Por que você está sem camisa e cheio de confetes na cabeça.

- Por que é carnaval!

- Eu sei que é carnaval. Eu quero saber o que isso tem a ver?

- Tem tudo a ver, vai num baile de carnaval pra você ver se não sai assim também!

- O que você foi fazer num baile de carnaval?

- Buscar pão?

- Quem é que vai buscar pão num baile de carnaval?

- Eu. Era o único lugar aberto.

- E cadê o pão.

- Não tinha pão.

- Claro que não tinha, é um baile de carnaval, lógico que não vai ter pão.

- Você que pensa! Tinha até ET, por que não pode ter pão.

- Você não tem vergonha na cara?

- Tenho.

- Não parece.

- É, por que está debaixo dos confetes e das serpentinas.

- Zéééé...

- Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele?

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 20/02/2012
Código do texto: T3510295