DONA DÔZA

Das tias que já tive, talvez tenha sido a mais autentica;sem perder a sua fibra de mulher com M maiúsculo; era de dar de goleada hoje em dia. Saber o que sairia de sua boca, num repente, era tão misterioso quanto o seu nome próprio. O mais prudente era chamá-la de Dôza e por fim ouvi-la; pois assim todos sairiam ganhando alegrias. Ela tanto era batalhadora quanto defendia com unhas e dentes o que era seu. Amável e disciplinadora com os filhos e todos em volta. O bom humor sempre estava presente em seu cotidiano. Dona Dôza era amiga da religião; frequentava a igreja católica (Matriz na época) com a mesma desenvoltura de quem saia às ruas de Correntina; Era comum ela entrar na igreja, já acompanhando os cânticos nas rezas e missas. Certa vez, a ela atribuiram um fato cômico ocorrido . Diz-se que, enquanto seguia normalmente uma procissão pelas ruas da cidade, alguém tocou-lhe sem querer no ombro, prendendo o vasto xale que ela carregava. Imediatamente, enquanto ela cantava "Bendito louvado seja...." emendou na mesma melodia um "diabo, larga meu xale..." O certo é que dona Dôza sempre enfrentou a dureza da vida com bom humor. Defendendo o que era seu, se ela não conseguia tirar o seu companheiro da esbórnia, pelo menos a roupa dele ela trazia para casa consigo. A sua ida à feira no mercado municipal de então, era um belo ato de alegria para muitos. Costumava passar pelas casas dos irmãos Vital, Joaquim, Elias, Ubaldo,Osvaldo, Jussa, Zeferino; e em cada visita saia sempre uma gostosa pilhéria. Num determinado tempo de sua vida, ela esteve ajudando o seu irmão Elias, na loja gerenciada pelo velho Augusto. A famosa casa Leal vendia vários artigos de tecido. Num belo sábado, loja cheia, dona Dôza tenta vender uma saia para um freguês que por sua vez pechinchava o máximo. Era um tal de "...dona, deixa o preço da saia por meno pois minha filha tá nua e S.João tá encima..." e ela, a vendedora tentando resistir no preço. Foi conversa pra lá e pra cá até que a saia foi vendida por um preço módico para o insistente freguês. Pois bem, passaram-se algumas feiras de sábado e numa delas eis que D. Dôza chega ao mercado para compras. É importante dizer que ela adotava a sua dúzia com 14 unidades, fosse para comprar ovos, laranja, bananas etc.; e ninguém conseguia contestá-la. Mas, essa dúzia de 14 era só para compras. Assim, ela partiu para a compra de ovos junto a um certo senhor, que nada mais , nada menos era aquele freguês que lhe havia comprado a saia na loja de Elias. Sem perder tempo, dona Dôza começou a contar suas dúzias de ovos, enxendo o cesto dobrável, de arame, que ela carregava sempre; ao mesmo tempo em que bombardeava de perguntas e pechinchas no preço dos ovos. O cidadão não suportou e tentou resistir tardiamente. Já com o cesto cheio de ovos ela volta-se para o vendedor entregando-lhe o dinheiro para o pagamento e solta, num arremate final, diante do protesto do vendedor: " Hum, naquele dia você me pegou pela saia mas, hoje eu te pego pelos ovos..." Dona Dôza, casada com o sr. Limírio Rodrigues, deixou dentre os inumeros filhos que teve, Rosa, Melson, Milson, Dete, Fia, Geremias Neto, Carlos Tibério (Juruna), Silvio Roberto (Baé),Ceiça, Vânia; além de Raimundo(Branco) e do inesquecível Valdo. Hoje o Céu é mais alegre com a presença dela.----------------------------------

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Bahia, fevereiro de 2012.

Alorof
Enviado por Alorof em 19/02/2012
Reeditado em 27/02/2012
Código do texto: T3508486
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