E DRUMMOND CAIU NO BURACO!
Vejam como a essência poética do mundo muda... mas nem tanto.
CAMINHO ESBURACADO
No meio da avenida
No meio da avenida tinha um buraco.
Não! Tinha dois buracos no meio da avenida...
Não eram três buracos?
No meio da avenida tinha quatro buracos.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida das minhas rodas tão fatigadas!
Não há como esquecer que no meio da avenida
Que tinha só um buraco
Agora tem incontáveis buracos...
Porque no meio da avenida
Sempre tinha só um buraco.
(com todo respeito às pedrinhas de Drummond)
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NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade