O CAIPIRA QUE GOSTAVA DE DAR CONSELHOS

Quinzinho estava em uma roda de pinguços bebendo pinga e contando potocas, de repente um dos presentes falou a outro:

-Quando eu quisé consêio, eu te peço!

Quinzinho não perdeu a deixa:

-Quando eu trabaiava numa rádio, muita gente me parava na rua para pidí consêio, cumo se eu tivesse capacidade pra dá consêio pra arguem ...

Acendeu o pito e começou a contar seu causo:

-Uma veiz entrei num bar, mode bebê uma pinga e tinha um sujeito sentado lá numa mesa, cuma garrafa de pinga. Tava sarumbático, marcambuzo, me cunheceu e me chamô pra mesa dele. Me ofereceu uma pinga e eu num injeitei. Pidi ao dono do bar um limão. Ele troxe um limão Taiti, daqueles do tamanho duma laranja. Cortei a metade do limão e dispejei no copo de pinga. O sujeito dimirô:

-Isso num é pinga, é limonada...

Eu falei que gostava era assim. Ele cumeçô a contá o mutivo da tristeza dele:

-Quinzinho, tô paxonado dimais, minha noiva me largô e fugiu cum caxero viajante, tô até pensano em suicidá...

-Que isso rapais, ocê novo desse jeito, quereno morrê pur causa de muié?

Ele rismungô, e já bem “mamado” falô:

-Que que cê acha, já pensei em me inforcá, bebê veneno, ou metê uma bala no ovido...qual jeito que ocê acha que eu sofro menos?

Eu pensei, pensei e rispundi:

-Oia, cunheci um sujeito que foi inforcá: marrô a corda num gaio de pau, subiu nele pois a corda no pescoço e pulô...

-Morreu? Perguntô ele.

-Morreu nada, o gaio do pau tava podre, caiu na mulera dele, azangô a cabeça dele e ele ficô foi bobo, nunca mais prestô...

Bebeu um gole da pinga e continuou:

-Esse negócio de bebê veneno, num custuma dá certo não, cunheci um sujeito que bebeu veneno e num morreu, o veneno derreteu o figo e os rim dele e ele passô o resto da vida sofreno, viveno só de leite e cuaiada.

Quinzinho continuou:

-Cunhici outro sujeito que resorveu dá um tiro no ovido, pegô o revorve, incostõ no ovido direito e puxô...

-Esse morreu né?

-Morreu nada, munição veia, derrancada, a única coisa que acunteceu cuele foi ficá surdo..., agora se ocê quisé morrê mesmo, faiz o siguinte: compra um vidrinho de istraquinina, arruma uma corda de côro de matero, pega um revorve 38 e compra umas bala nuvinha, nuvinha..., aí cê põe o veneno num copo, marra a corda numa viga bem forte do teiado, pindura nela mode vê se o maderame num arreia im riba docê. Aí ocê sobe num tamburete, pôe a corda no pescoço, leve o veneno já pronto no copo, dexa o revorve já armado e incosta o cano no ovido. Intão cê bebe o veneno, hora que ele tivé quemano no istâmo, cê puxa o gatio, nocê puxá o gatio, cê vai caí do tamborete e vai ficá inforcado...aí num tem erro, morre mesmo...

Quinzinho deu uma boa gargalhada e arrematou:

-Vai cê bão pra dá consêio lá nos quinto dos inferno...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 13/02/2012
Reeditado em 14/02/2012
Código do texto: T3496255