Na recepção
- Alo é da recepção?
- Não... Recepção, que recepção?
- Do hotel.
- Não é de recepção, você deve ter discado errado.
- Tem certeza que você não é a recepcionista?
- Como assim? Eu tenho certeza que eu não sou, isso é algum trote?
- Não eu to no hotel e tentei ligar para a recepção!
- Sinto muito, mas você deve ter discado errado.
- Estranho ta aqui no cartãozinho: numero da recepção, e esse numero.
- Mas não é!
- Ta bom então, desculpa.
- Está desculpado.
Desliga o telefone. Confere no cartão e liga novamente.
- Pronto.
- Alo recepcionista.
Silencio.
- Alo... Alo...
- Você ligou errado de novo.
- Oi?
- Você ligou pra minha casa de novo.
- Sério?
- Não eu to brincando.
Silencio.
- Qual é o numero que você esta ligando?
- Qual numero é o seu?
- Fala você quem ligou.
- é: zero, jogo da velha e o nove.
- Você discou isso e caiu na minha casa?
- é o que parece... estranho geralmente os números residenciais são sempre oito números.
- Mas aqui em casa também é!
- Tem certeza que não é zero, jogo da velha e o nove.
- Claro que eu tenho certeza.
- Vai ver então, deve ser alguma linha cruzada.
- Deve ser.
- Vou ter que descer lá pessoalmente. Desculpa o incomodo, vou aproveitar e falar disso pra ele.
- É aproveita.
- Obrigado, e novamente desculpa.
- Não esquenta, acontece.
- Tchau...
- Ei espera aí. – fala antes dele desligar.
- Oi?
- O que você queria na recepção?
- Não, não era nada, não esquenta.
- Que isso pode falar, vai ver eu posso ajudar. Já que incomodou tanto mesmo.
- Tem certeza que você não é recepcionista?
- Não... Bobo.
Os dois riem.
- E aí, o que era?
- O que?
- O problema?
- Ah... então, minha TV não está pegando.
- E isso acontece sempre aqui em casa também. Já tentou mexer no cabo?
- Cabo, que cabo?
- Atras da TV, as vezes está solto.
- Não, vou dar uma olhada. Obrigado.
- Que isso.
Desliga. Vai até a televisão, mexe no cabo, a TV volta a funcionar. Ele fica pensativo. Pega o telefone e liga pra agradecer. Dois toques. Atendem.
- Oi, pegou, brigadão!
- Pegou o que senhor?
- A TV, voltou a funcionar.
- Ela tinha parado de funcionar?
- Quem está falando?
- Da recepção.
Silencio.
- Alo, senhor, aconteceu alguma coisa.
Silencio.
- Senhor...
- Não, nada não, liguei enganado.
- Ta ok, precisando de algo é só ligar senhor.
Desliga o telefone. Vai assistir a TV que agora está funcionando. Mas só consegue pensar na “não-recepcionista”.
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- Ei o que você ta fazendo?
- Guardando umas toalhas.
- Como assim?
- É brinde amor, por que você acha que deixam tantas toalhas assim? Como cortesia para os hospedes.
- Tem certeza.
- Sim, tem dez toalhas, ninguém usa dez toalhas em vinte quatro horas. Nós usamos a mesma toalha a semana inteira.
- Sera?
- To falando, ninguém usa tudo isso de toalha, nem o Tony Ramos não usa.
- É né!
- Claro, vai por mim eu já viajei muito.
- É eu sei, mas ainda bem que você parou de fumar...
Silencio.
- Pega os shampoo e os mini-sabonete no banheiro também
- Oi?
- Shampoo e mini-sabonte? Pra que?
- Ué vão ficar aí, ele vão jogar fora. Eles não reaproveitam essas coisas.
- Sim, mas não é pra nós levarmos também.
- Amor nós pagamos uma fortuna por uma diária, quando vi preço achei que era preço de uma mensalidade, não o de uma diária.
- Tem certeza?
- Sim, eles nem ligam.
- Então ta.
Continuam recolhendo as coisas. Ela vai mexer no frigobar.
- Ei, o que você está fazendo?
- Já que eles não reaproveitam as coisas vou pegar as coisas do frigobar.
- Não, você está louca?
- Por que?
- Isso é roubo!
- Ah é?
- Sim. Guarda esses refrigerantes lá e vem me ajudar a tirar esses lençóis.
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- Desculpa senhor, mas o café da manhã já encerrou.
- Mas pera aí, disseram que ficava até as dez.
- Pois é, e agora já são dez e quinze.
- Ah... Mas que isso moça ta cheio de gente comendo...
- Mas é que eles chegaram no horário.
- Eu sei, eu sei. Só que eu perdi a hora por que a mulher da recepção não ligou pra me acordar assim como eu tinha pedido.
- Sinto muito senhor.
- Senti muito? Senti muito?
- Sim, sinto muito!
- Eu quero falar com o seu gerente.
- Ele está na mesa tomando café!
- Então deixa eu entrar falar com ele!
- Sinto muito, mas só posso deixar entrar até as dez.
- Que palhaçada é essa.
- Não é palhaçada senhor, são as regras, está no contrato.
- Moça eu frequento esse hotel toda vez que venho a cidade, você não deve me conhecer por que é nova aqui.
- Deve ser.
- Então, abre uma exceção pra mim.
- O senhor vem sempre no hotel?
- Toda as vezes me hospedo aqui.
- Então o senhor sabe como funciona.
- Sim, eu sei.
- Então sabe que não podemos deixar ninguém entrar depois das dez.
- Ta, mas não vai mais acontecer.
- Que bom, eu não gosto de ter que barrar nenhum hospede.
- É deve ser ruim mesmo.
Ela fala, vira as costas e o deixa na porta.
- Ei, abre aqui então pra mim.
- Sinto muito, mas não posso! Se abrir pra você vou ter que abrir para os outros.
- Que outros não tem mais ninguém aqui.
- Isso é o que o senhor pensa. Isso é o que pensa.
Ele fica na porta, ela pega um prato e se serve com ovo mexido e salsicha com molho.