PÊNIS NOVO, "FERNANDINHO"?
-Ô mundo!
Começo minha crônica com uma exclamação catártica porque, deveras, esse mundo está pra lá de...digamos, muito além de "pernas para cima".
Já nem diria de cabeças para baixo porque hoje faltam muitas cabeças, e as raras de hoje, já não são com as de antigamente, porque estamos mais para um mundo de "quebra-cabeças".
Embasa-se o meu tema numa entrevista que assisti sobre a publicação dum recente estudo feito por um biógrafo, cujo nome me foge no presente momento, sobre a vida e a obra do (s) Fernando Pessoa.
Pelo que entendi, talvez seja mais um ensaio psico-sócio-literário a respeito do poeta, no qual o escritor escreve trechos com as "próprias palavras do poeta" na auto tentativa de decifrar os enigmas que giram em torno do escritor.
Aquilo sim me parece um achismo, isso concluí depois do final da entrevista.
Fernando Pessoa , sem dúvidas, é o poeta do século vinte que mais instiga a curiosidade e o fascínio dos estudiosos e historiadores da literatura clássica mundial, posto que era dono de "múltiplos personagens literários", vários escritores num só- ou um só em vários escritores-, que se expressavam através da poesia catártica, crítica, social e maquiadamente pueril, as suas personalidades contrastantes de sentimentos literariamente bem definidos a cada um deles, muitos dos quais sugerem até obras psicografadas...dada a dimensão da profundidade espiritual do que o poeta escrevia.
Em contraste à sua rica pluralidade literária, Fernando Pessoa é descrito como um homem de hábitos simples, de personalidade pacata e introvertida e de pontuais relações sociais baseadas numa elegante discrição.
Até aqui eu disse algo engraçado? Não, mas direi, então sigamos.
Num dado momento da entrevista, o entrevistador enveredou pelo assunto de maior interesse deste atual mundo "brother" tão contemporâneo: a cama dos outros.
Ah, isso não poderia faltar se o veículo é televisão para a massa, ainda que sob um tema mais "intelectualizado".
"O senhor finalmente descobriu, no seu estudo, algo sobre a virgindade prolongada ou sobre a possível homossexualidade do Fernando?"
Ui gente, que moderno!
Pergunta super normal, nada demais, não fosse a resposta do literato biógrafo:
"Olha, há indícios muito valiosos disso ou daquilo, pontuais aparições, talvez um poeta seu amigo tenha falado algo em verso sobre o tamanho "irrisório" do pênis do amigo, algo meio parecido com um clítoris...talvez isso o envergonhasse".
-Gente deste mundo: é demais!
A entrevista, que até então seguia culturalmente interessante, desandou para a importância que teria, enfim, o tamanho do pênis do Fernando Pessoa tanto para a literatura mundial, como no desenrolar da sua magnífica obra.
Tudo bem, tudo bem, os psicólogos adeptos de Freud diriam que um pênis é fundamental não só para tudo mas para todos! Independentemente do gênero literário!
Eu só não consegui entender quantos pênis ele possivelmente teria: Alguém já descobriu a matéria? isso seria um furo jornalístico!
Seria um só pênis para todos os seus heterônimos...ou seria um pênis para cada um deles? Isso o entrevistador não perguntou...
Todos seriam do mesmo tamanho? Será que um deles era um pênis homo, outro era bi, outro era hetero, e o outro pênis seria assexuado?
E para o FERNANDINHO, coitado, em pele e osso, sobraria o quê?
Para mim bastou sua poesia!
E a explanação do biógrafo não terminou aí não, tem mais, saibam:
"NO ANIVERSÁRIO DE CINQUENTA ANOS DA MORTE DO POETA O SEU CORPO FOI TRASLADADO PARA O BELÍSSIMO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS"
Muito bem, aprendemos a nota. JUSTA HOMENAGEM.
E continuou a sua explanação:
NO MOMENTO EM QUE ABRIRAM SUA URNA, O SEU CORPO ESTAVA INTACTO, MAS NINGUÉM TEVE A CURIOSIDADE DE BAIXAR SUAS CALÇAS ( a fala foi exatamente essa!) PARA CONSTATAR O TAMANHO DO SEU ÓRGÃO.
ASSIM O MUNDO PERDEU " A ÚLTIMA CHANCE" DE SABER O VERDADEIRO TAMANHO DO PÊNIS DE FERNANDO PESSOA.
Confesso que me desesperei com esse relato.
Não saber, depois de cinquenta anos de solidão fúnebre, ao que se reduziu um famoso pênis poeta, ara, é de enlouquecer a história da literatura mundial...E DA INDÚSTRIA TÊXTIL DA MODA. Afinal, que tecido teria tal durabilidade?
Agora confirmo: ô mundo desatento esse nosso!
Eu continuo achando: tamanho não é documento, principalmente quando se trata da paradisíaca obra de Fernando Pessoa.
Saibam, há vários caminhos que nos levam ao nirvana, a poesia de Pessoa é um deles...um caminho só dele ...algo "Personalíssimo"...em qualquer tamanho!
-Que mundo de cabeças pequenas...