O ENGANO
- Bom dia, Ana Luísa!
- Bom dia, Lourenço!
- Então, dormiste bem? - E fez um trejeito intencional. - Imagino que tenhas dormido mesmo bem?
- Claro que dormi bem. Porque estás a insistir tanto nisso?
- Está bem.
Dirigiram-se os dois para a sala, onde a tia Carmo e a prima Gilberta já estavam sentadas, preparando-se para iniciar o pequeno almoço.
- Bom dia, meus amores! - disse a tia, enquanto tirava um pequeno pão do cesto.
- Bom dia, tia, bom dia, prima! - respondeu Ana Luísa.
Quando Lourenço entrou na sala, foi cumprimentado pelas presentes. Gilberta olhou-o de forma mais intensa e espelhou um largo sorriso. Ao longo do repasto, a prima Gilberta não despegou os olhos de Lourenço. Às tantas, Lourenço sentiu-se incomodado e inclinando-se para Ana Luísa comentou isso mesmo.
- Não sei o que deu à tua prima, não despega os olhos de mim. Ontem estava muito diferente. - Quase nem lhe respondeu, enquanto jogavam gamão nessa mesma sala, durante o jantar e em todas as circunstâncias em que estiveram juntos…
Ana Luísa olhou melhor para a prima. Eram muito parecidas, morenas, da mesma estatura.
De repente, sentiu um arrepio, uma ideia doida passou-lhe pela mente… E se… Não, não era possível… Mas…
Inclinou-se para Lourenço e perguntou-lhe: - Olha lá, há pouco, porque é que me perguntaste tão insistentemente se tinha dormido bem?
- Então tens a memória curta? Esta noite foi nossa, nos meus braços decerto que subiste ao sétimo céu!
Ela olhou para ele aterrada. - Mas eu dormi sozinha!
Ele baixou a voz e respondeu: - Dormiste sozinha? É boa, senti-te tão arrebatada, agora já esqueceste?
- Juro-te, Lourenço, ninguém entrou na minha cama!
- Então… Mas o teu quarto não é o segundo do lado direito do corredor?
- Não, imbecil, o meu quarto é o segundo do lado esquerdo do corredor!
E olharam os dois em simultâneo para a prima Gilberta, que comia tranquilamente a sua torrada e os olhava divertida…