Carta ao Zé da Ingazeira VIII
                                           (Fim de ano)


Zé, vosmicê mi discurpe u silêncio
É qui nas festas di fim di ano viajei
Saí cum us cabra du seu Cremêncio,
U dono daqueli cabererero qui ti falei

Fumu pruma praia bem longi
Qui era pra módi uns barco sortá
Num mi lembro direito pra ondi
Neim cumé qui chegamo inté lá

Zé, us cabra fizeru uma roda
Nu meio di um grandi areal
Ficavam cantano umas prosa
Eu inté hoji num ovi nada igual

Intão cumeçarum a pulá
Falá dum jeito muito istranho
Mandaru uns isprito baixá
Fingí qui nem tava escutano

Mais quanu oiaram prá mim
Cum aquelis zoião butucadu
Achei qui já era meu fim
Sartei qui neim galo esporado

Disserum qui eu tava amarrado
I uns feitiçu elis iam tirá
Falaru prá eu ficá deitado
I começarum di novo a cantá

Mi meteru um charuto na boca
Disseru qui eu num pudia tragá
Zé, eu já tava com a voz toda roca
Di tanto qui cuidei di gritá

Era um tár di lê, lê, ô ... lê, lê, ô
Qui eu cumeçava a tremê
Preguntava pra Nosso Sinhô ...
... Ondi é qui eu fui mi metê ?

Inquanto eu ficava nu chão
Com os fundilho já tudo amarelado
Dizia cá cum meus botão :
... É u qui dá tê amigo viado !!!

 
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 10/01/2012
Reeditado em 10/01/2012
Código do texto: T3433660