CONGELANDO A "POUPANÇA"

Dentre as inúmeras “cagadas” do ex-presidente Fernando Collor, uma delas me atingiu diretamente: O congelamento da poupança. Através da ministra Zélia Cardoso, fomos pegos de surpresa pela desastrosa notícia. Eu era economiário, funcionário da extinta Minascaixa, fechada por um governador que nem gosto de falar seu nome. Esse Judas Iscariotes piorado fora presidente da mesma. Havia rumores do tal congelamento. Clientes procuravam-nos apreensivos. Eu dizia:

-Que isso, a poupança é intocável, onde já se viu? Meter a mão no dinheiro dos outros. Caso aconteça é só você chamar a polícia... Crime de apropriação indébita...

Nosso gerente, Gaspar Lamounier, uma das pessoas mais honestas que já conheci, garantia que tal não acontecia. Certo dia um cliente querendo abrir uma conta e temeroso de perder o dinheiro, foi conversar com ele perguntando se não haveria perigo. Ele sem titubear disse que se ele quisesse daria uma promissória assinada por ele próprio garantindo o depósito. Eu próprio tinha umas parcas economias que deixava para alguma eventualidade, na caderneta de poupança.

Um belo dia veio a notícia: Fernando Collor numa clara demonstração de absolutismo, já mostrando o caos que seria seu governo assinou a malfadada medida provisória decretando o congelando da poupança de todos os brasileiros. Foi um Deus nos acuda, ninguém entendia nada, só que o dinheiro guardado com sacrifício estava indisponível por dezoito meses. Indignação geral, revolta total.

Um fazendeiro havia vendido sua fazenda e colocado todo dinheiro na caderneta de poupança. De repente se viu no mato sem cachorro. Sem o dinheiro que estava bloqueado não podia honrar seus compromissos. O coitado até “enfraqueceu” a cabeça, vivia reclamando pela cidade. Certo dia, ouvi-o conversando em um bar, onde bebia sem parar, querendo esquecer sua desgraça:

-Essa tal Zélia Cardoso, parece uma serpente: ela conversa assobiando, sibila que nem cobra, e o Fernando Collor: esse não tem raça, veja só o que o pai dele fez lá no senado: brigou com um colega e atirou nele, errando o tiro e matando um coitado que não tinha nada com a história. A hora que ele foi fazer o Fernando Collor devia ter brochado, ou do contrário ido á beira de um córrego e masturbado, jogando ele lá para os peixes...

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