Festa da empresa

Festa de fim de ano da empresa. Fila para o buffet.

Carlos – Nossa que buffet mais sem vergonha hein... – coloca a salada no prato.

Lauro – Nem me fale, a gente trabalha o ano inteiro e essa é a recompensa. – passa reto pela salada.

Carlos – Ainda bem que não vamos ter trabalhar depois de comer...

Lauro – Shiii! Não da idéia que é capaz deles querer que a gente trabalhe.

Pega uns ovinhos de codorna.

Lauro – Sorte que eu belisquei alguma coisinha em casa. – pega arroz com passas.

Carlos – Pior que eu não, to morrendo de fome, quer dizer tava, até ver esse buffet. – Também pega arroz.

Lauro – Porque que colocam passas em tudo na época do natal? – fala e para.

Carlos – Acho que é para aproveitar a safra.

Lauro – Mas eu nunca vi pé de uva passa.

Carlos – Ah não tem aqui no Brasil. – Segue o fluxo da fila, que anda lentamente.

Lauro – Deve ser isso mesmo. Porque você não a vê o ano inteiro, mas chega fim do ano colocam em tudo. – coloca uma colherada de peru com passas.

Carlos – É que representa o espírito natalino...

Lauro – Por que?

Carlos – Se não me engano foi uma dos presente que levaram pra Jesus na manjedoura.

Lauro – O que... Um pacote de uva passa?

Carlos – Não foi um pacote, naquela época não tinha em pacote, foi mirra com uva passa. – pega farofa com uva passa.

Lauro – Onde você viu isso? – para e fica o olhando.

Carlos – Tem numa passagem da bíblia.

Lauro – Deve ser mesmo, mas precisam colocar em todas as comidas? Na páscoa não colocam chocolate em tudo!

Carlos – Ah, mas é que eles usam como um artifício pra tentar disfarçar a cara feia das comidas. – pega pernil com molho de passas.

Lauro – Então deve ser por isso que esse buffet ta cheio delas.

Carlos – Aposto que o chefe não vai comer essa comida nem ferrando.

Dão de cara com o chefe. Que fura a fila pra pernil com passas.

Chefe – Opa, da uma licençinha pra mim.

Os dois param e sorriem. “Toda!”.

Chefe – E aí, o que acharam do buffet?

Carlos – Maravilhoso, ta melhor do que o do ano passado.

Lauro – Não que o do ano passado tivesse ruim, mas é que o desse ano superou.

Chefe – Ah que bom que gostaram, depois peguem uma sobremesa tem gelatina com passas.

Com certeza, falam os dois em coro.

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Paula – Menina olha a mini-saia da Claudia.

Ana – Aquilo é uma mini-saia? Pensei que fosse um cinto.

As duas caem na gargalhada.

Paula – Não sabia que era festa temática...

Ana – Temática?

Paula – É, era pra vir vestida igual funkeira...

Riem juntas novamente. Silencio.

Paula – Sei não, acho que ela está de rolo com o chefe.

Ana – Será?

Paula – Hum... Não desgruda dele.

Ana – Não, ela ta auxiliando na festa...

Paula – Mas desde o meio do ano? Olha lá como ele faz tudo pra ela...

Ana – Ele só esta sendo educado.

Paula – Esse não é o tipo de educação que eu quero passar para os meus filhos.

Ana – E outra, ele é casado. Olha, ta com a mulher ao lado dele...

Paula – E a amante do outro. – completa.

Ana – Aí que maldade.

Paula – Maldade nada é a mais pura verdade. Não dou três meses pra ela subir de cargo.

Ana – Que isso, o chefe não é desses...

Paula – Você quem pensa, porque não tem os artifícios dela...

Ana – Oi?

Paula – Ele não quer saber da gente, quer saber das novinhas, ele não faria nada conosco, agora com ela, deixa ela abaixar-se pra pegar alguma coisa pra você ver, ou vai dar processo ou aumento!

Ana – Pera aí, fale por você.

Paula – O que?

Ana – Saiba que o chefe já deu em cima de mim, eu é que não retribui...

Paula – Ele só estava sendo educado.

Ana – A nela ela está dando em cima, quando é comigo está sendo educado!?

Paula – É a verdade, se fosse mesmo não estaria a tanto tempo no mesmo cargo.

Ana – Olha quem fala...

Paula – Por isso que eu falei, NÓS, por que eu também não tenho chance.

Ana – É você não tem mesmo, agora eu minha querida... Você não viu o jeito que ele olhou pra mim o dia que eu abaixei pra colocar o café na mesinha.

Paula – Olhar ele até pode olhar, agora dar um aumento, aí já é outra coisa... – desconversa. – olha lá não para de gracinhas, mas é uma exibida.

Ana – Você duvida. – levanta da cadeira.

Paula – Duvida o que?

Ana – Que o chefe fica comigo e eu ganho um aumento.

Paula – Para de viajar, senta aí. Vamos falar da Marina...

Ana – Então fica vendo. – vai em direção a mesa do chefe, cruza com o marido.

Pedro – Peguei gelatina de uva passa.

Ana nem da bola e segue. Pedro chega à mesa.

Pedro – Onde a Ana foi tão determinada?

Paula – Ser promovida... ou despedida.

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Fim de festa

Agenor – Esse daqui é o melhor patrão que existe. – grita bêbado na orelha do chefe.

Chefe – Que isso, vocês merecem.

Agenor – Não merecemos tanto.

Chefe – Merecem sim.

Agenor – Ta bom, nós merecemos sim. Pode dar um aumento pra nós.

Todos riem. Inclusive o chefe.

Agenor – O senhor fez essa festa, pagou tudo, a comida, a bebida, o DJ...

Chefe – É o mínimo que eu posso fazer.

Agenor – É, isso é verdade, é o mínimo mesmo, por que aquele buffetzinho tava ruim, o do ano passado até que passava, mas esse ano... Meu Deus. – aponta com indicador pra dentro da boca com ar de desaprovação.

Todos riem, de novo. Agora o chefe não ri tanto.

Chefe – Ah não tava tão ruim assim, é que você está mal acostumado, sua senhora cozinha bem.

Agenor – Negativo, não, não. Não! Minha mulher é muito ruim na cozinha, só não é pior do que na cama.

Dessa vez até o chefe ri.

Agenor – E mesmo assim eu preferia ta comendo a comida dela ou estar na cama com ela do que ter comido daquele buffet.

Todos param de rir.

Agenor – Gelatina de uva passa? É isso que nós merecemos? E eu achando que tinha feito um bom trabalho durante o ano.

Chefe – Mas fizeram, todos fizeram.

Agenor – Então o senhor podia ter pedido um pudim, né!?

Junta mais funcionários, e os que acabaram de chegar puxam palma.

Chefe – Ano que vem eu peço pra fazerem pudim pra vocês.

Agenor – Obrigado.

Todos riem pensando que foi o fim da discussão, o chefe vai saindo.

Agenor – E a Claudia vai comer logo, ou vai ficar empatando pra gente.

Chefe – Oi?

Agenor – A recepcionista. Todo mundo viu que ta rolando algo.

Chefe – Me respeita minha mulher ta aqui.

Agenor – A minha também, mas nem por isso eu não ficaria com a Claudia.

Chefe – A Claudia é a apenas minha funcionaria, como qualquer um de vocês aqui.

Agenor – Não, não. O senhor nunca olhou pra minha bunda, ou ficou derrubando a caneta toda hora pra eu pegar e o senhor ver meu decote.

Alguns riem, outros ficam com medo. O chefe ri.

Chefe – Boa.

Agenor – Boa mesmo, eu no seu lugar já tinha dado um cargo maior pra ela e feito a festa.

Chefe – Que isso, eu nunca faria um coisa desta.

Agenor – Então promove ela e deixa que a gente faz! – fala e da risadas.

Chefe – Agenor você é uma figura. – fala e vai saindo.

Agenor – Valeu chefe, e você é um puta chefe, ou um chefe com uma recepcionista puta. – da risada e aquelas cutacadinhas que só os bêbados chatos dão.

Chefe – Rá, rá, rá...

Agenor – Esse é o nosso chefe. Uma salva de palmas pra ele. O senhor uva passa.

Todos riem e aplaudem.

Agenor – Velho, enrugado e só da as caras no fim do ano.

Todos continuam rindo.

Chefe – Esse Agenor não é facil. – fala e vai saindo – até segunda Agenor.

Agenor – Até, senhor Passas.

O chefe sai e todos ficam rindo do Agenor.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 13/12/2011
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