PAPAIL NOEL "DÁ" EM ÁRVORE

Bueno, pra começo de conversa este fato sucedeu-se na casa do meu compadre Ari, numa vila na cidade natal deste que vos conta, e não é do tempo que se amarrava cachorro com lingüiça, é bem recente.

Na casa do meu compadre tem duas famílias, uma de gente e outra de cachorro. Mas ele trata muito bem deles, chega dá inveja. Pois olha a cuscada é tão bem tratada que quando ele vai ao açougue o carniceiro já sabe. Antes dele pedir algo, o homem vem lá de dentro com um saco de bofe, tripa gorda, bucho e outras “cocitas” mais. E depois vem o pedido do compadre, que geralmente é meio quilo de agulha pra tira uns bifes, que a comadre passa o dia surrando pra morder de noite com uns tocos de dentes. Bem, mas isto foi só para esclarecer o tratamento dado aos cachorros do meu compadre que mais parecem uns terneiros de tão grande.

Ari é uma pessoa pra lá de especial, o homem é “melhor que dinheiro achado”, por isto ninguém se nega a um pedido dele. E um pedido eu testemunhei no bolicho do Xico, em Dezembro do ano retrasado. Na verdade nem foi um pedido, foi uma idéia que surgiu entre um gole e outro de canha, na conversa onde estava eu, o Ari e o Zecão. Este Zecão é um índio veio barbudo e bueno demais também, pois são mais ou menos 100 quilos de bondade e disposição, sempre contando piada. Na conversa Ari nos convidou para comer uma carne no Natal, na casa dele, e seria a oportunidade de reunir os filhos, netos e os vizinhos que se achegassem com um pedaço de “pecuária”. Na hora eu lasquei, - o Zecão pode ser o papai Noel, barriga ele tem de sobra. O Ari gostando da idéia, falou que conseguiria a roupa. E assim ficou combinado que o tal de Noel chegaria depois da meia noite, mas antes passaria na minha casa onde estariam escondidos os brinquedos e entraria pelos fundos na casa do Ari.

Então a coisa foi tomando jeito naquela noite festiva com o churrasco já estendido nas trempes, numa churrasqueira improvisada na frente da casa sobre uns tijolos. A fumaça e o cheiro invadindo as casas da vizinhança. A comadre gritando sem sucesso com as gurias para saírem de dentro da cozinha que já estava abarrotada de gente com as filhas preparando umas guloseimas. E eu fui incumbido de vigiar para que não fossem para os fundos, de onde sairia o Noel improvisado. Enquanto isto a cuscada se lambia de olho na carne que de vez enquando leva uma chamuscada, e o compadre assador de pronto providenciava em jogar um pouco de água na labareda. Enquanto isso, Junior o meu piá mais velho e sapeca, não parava de mexer nas bolinhas da árvore de natal, feita de um galho de cinamomo.

Lá pela meia noite, a cachorrada começou a latir e uivar com o foguetório dos vizinhos por perto. O assador gritou pra comadre, que já estava com os pratos distribuídos na mesa, dizendo que estava levando a carne. A algazarra e barulheira do arrastar de bancos e garfos batendo nos pratos facilitaram para a entrada sorrateira do Noel pelos fundos.

A fantasia tinha uma máscara para esconder a cara gorda do Zecão. Os cachorros estranharam e saíram ao seu encalço. Desesperado com os “terneiros” no seu garrão subiu no primeiro pé de árvore que encontrou. O barulho lá dentro era tanto que não perceberam os latidos. Zecão conhecia os cachorros e até chamava pelo nome, e em vão tentava dizer que ele era o tio Zeca, mas os cuscos não queriam saber de nada, e até já tinham furado a calça do papai Noel. Foi o quanto deu para ele jogar o saco pra cima do galho e subir. Não sei de onde ele tirou tanta destreza naquela hora.

Depois do plat - plat da louça na pia sendo lavada, o povo foi se acomodando na sala, no aguardo da chegada do Noel. A criançada foi avisada e já estava inquieta. Olhavam pra fora e tentavam descobrir de onde ele viria. E nada do homem do saco vermelho aparecer.

Estranhando o atraso e sabendo de onde ele viria o Ari me convidou para ir lá nos fundos e ver o que havia acontecido. Junior muito esperto, ouviu e saiu na frente e não demorou para voltar e entrar perguntado bem alto: - papai Noel dá em árvore?

Alguns se olharam e sem saber o que havia acontecido e mesmo antes que pudessem imaginar alguma coisa, uma das netas respondeu: - claro que não né burrinho. E o Junior lascou: - é que tem um lá fora no cinamomo. Alguns ficaram numa gargalhada que dava pena e outros correram para ver.

A comadre acendeu a luz dos fundos e o que se viu era hilário: O Zecão agarrado no galho com o saco de presentes pendurado, e um furo na calça bem na altura da “poupança”, num pavor só. Com os olhos arregalados que nem um pila pedia para que tirassem os cachorros da volta dele no pé do cinamomo.

O compadre depois de rir muito começou a ralhar com os seus “terneiros”, para que deixassem o Noel descer para entregar as encomendas. Zecão perdeu até o ânimo de distribuir presentes, foi ajudado pelas mães da gurizada.

Depois, refeito do susto, comia feito bicho e ria muito. Dizia: - além do medo dos cuscos, minha preocupação era por não saber até que hora ficaria trepado no cinamomo com aquele saco de presentes, eu era o próprio enfeite numa árvore de natal gigante. Então o Zecão ficou na história da vila como sendo o Papai Noel que deu em árvore.

Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 21/11/2011
Reeditado em 21/11/2011
Código do texto: T3348544
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