Falando sozinho

Os dois estão sentados no sofá assistindo televisão.

- Aí... Tava aqui pensando...

- O que?

- Ah... Nada não, esquece.

- Começou a falar, agora fala.

- Mas eu não comecei a falar, só disse que tava pensando.

- Mas o que você tava pensando?

- É besteira.

- Fala!

- Esquece continua assistindo.

- Não quero mais assistir. – fala e desliga a TV – Quero saber o que você estava pensando!

- Não era nada demais. – Liga a TV – assiste lá!

- Não tem problema. Quero saber o que é. – Desliga a TV.

- Eu já esqueci. – Liga a TV.

- Fala... Eu quero saber. – Desliga a TV e tira as pilhas do controle – Se não depois você fica falando que eu não ligo pra sua opinião.

- Mas não é minha opinião, era só um pensamento. Da as pilhas.

- Só depois que você me contar o que tava pensando.

- Não era nada demais. Da as pilhas aí amor.

- O que você tava pensando.

- Aí Cleiton que chato.

- Só falar.

Silencio.

- Fala!

- Aí... Tava pensando: to com uma vontade de comer um doce, bem que você poderia ir comprar um sorvete pra gente.

Mais um silêncio.

- O que, era isso?

- Sim. – pega as pilhas da mão dele, coloca no controle e liga a TV.

- Não acredito.

- Era isso, eu disse que era besteira.

- Eu pensei que você tava falando que era besteira pra não precisar falar.

- Não era besteira mesmo.

Silencio.

- E aí o que você acha?

- Do que?

- De ir lá comprar um sorvetinho pra gente.

- Ah eu to assistindo, né! – fala sem tirar os olhos da TV.

Ela pega o controle, desliga a TV e tira as pilhas.

- Pra saber o que eu tava pensando você não tava assistindo, né.

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O pai para na porta do quarto do filho, que está jogando vídeo game e nem da atenção.

- Filho vem cá. – assente com a cabeça.

- Agora pai? – pergunta sem nem mesmo olhar para o pai.

- Não semana que vem.

Silencio.

- Filho.

- Ãhm?

- Vem!

- Onde? – sem tirar os olhos da tela.

- Cá!?

- Mas eu to jogando.

- Não quero saber o que você ta fazendo, quero que você venha.

- Espera aí.

- Espera o que?

- Espera só eu salvar.

- Salvar o que? Você virou herói e ninguém me avisou.

- Salvar o jogo.

- Acho melhor vir agora se não você vai ter que arrumar alguém pra TI salvar.

- Ta bom, to indo...

Silencio.

- Pedro.

- O que?

- Vou ter que falar de novo?

- Falar de novo o que? – apertando os botões cada vez com mais força, e ainda sem olha para o pai.

- Que é pra você vir aqui.

- Mas eu já to indo.

- É pra vir já!

- É a ultima fase.

- É meu ultimo aviso.

- Se eu desligar agora perco todo jogo.

- Se você não vir agora você vai perder o vídeo-game.

- Ta bom. – vai em direção ao vídeo game mas ainda jogando.

- E aí.

- Espera aí... Espera aí... Espera aí...

- Eu já to esperando a tempo demais.

- Só mais um pouquinho, mais um pouquinho, mais um pouquiii...

O pai entra no quarto e desliga vídeo game.

- Pai! – grita o filho.

- Filho.

- Porque você fez isso? Era o ultimo chefão.

- Não, não. Eu sou o chefão aqui. Agora vem! – sai do quarto com ar de superior.

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O marido escuta a mulher conversando com alguém ao entrar na cozinha.

- Com quem você estava falando?

- Oi?

- Você, estava falando com quem?

- No celular, com a Meire.

- Ué, mas seu celular ta la na sala.

Silencio.

- Você estava falando sozinha, de novo?

- Não. Eu tava falando com a gata.

A gata entra na cozinha se espreguiçando como se tivesse acordado de um sono de mil anos.

- Com ela?

- Porque você quer saber com quem eu tava falando?

- Porque eu quero saber se a minha mulher ta ficando louca.

- Desde quando falar sozinho é sinal de loucura?

- Não sei, desde sempre!

- Aí nada a ver. Eu não tenho culpa se meu marido não conversa comigo.

- Ei, não vem jogar a culpa da sua loucura em mim.

- Que loucura? Eu só tava pensando alto. E outra se eu tiver ficando louca pode ter certeza que você vai ser o primeiro a saber.

- Ta bom desculpa. – Sai da cozinha resmungando. – E o primeiro a fugir!

- O que você disse aí?

- Nada, tava pensando alto.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 21/11/2011
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