"......sentindo dores"

dener versiani kröger*

Vez em quando fico a imaginar a origem da dor. Sem explicação neurológi-ca, é claro.

Sabidamente é que o tamanho da mesma só pode ser medida por quem a es-tá sentindo. Geralmente quem a tem sempre dirá que a dele é maior que a dos ou-tros.

Se tem uma da qual ninguém sente saudades, e todos já passaram por ela al-gum dia, é a tal da dor de dentes.

A dor no baixo ventre ou na famosa boca do estomago, sofrida por uma bo-lada, se possível com uma bola de futebol de salão é uma das mais clássicas. Ou ainda a mesma dor provocada por esta bendita bolada no saco.

Tem aquela que; ao se levantar do selim para dar uma pedalada na bicicleta a mesma acaba falhando, você desaba em V sobre o quadro. Vai tudo pru chão.

A cólica renal, coisa que só pode contar quem já sofreu .

As mulheres sempre insistem em dizer que a dor do parto ganha de todas, motivos óbvios, nem precisa dizer pois nesta não podemos competir. Mas posso insistir; elas dizem isto é porque nunca levaram um chute no saco.

Aquele que sofre das hemorróidas, sem gastar muito tempo logo dirá com toda propriedade e cheio de razão que uma coceira dilacerante na região sul lá pelas bandas da área de serviço não tem paralelo.

O reumatismo é uma dor aguda e incisiva que não define área e nem local é como se estivesse sendo espetado por agulhas de ponta rombuda que nem nos ritu-ais de Wodoo. Segundo Rapfha.

Tem coisa pior do que um calo num dia quente, com o inditoso usando um sapato dois números abaixo e estar num lotação da “Alprino” lotado até a topa, de pé ?. Pior vai ficar se uma linda gata depois de pisar no calo lhe pedir desculpas.

Destarte, não podemos desprezar uma dor de barriga aguda, diarréia, ca-ganeira a ou carreirinha, daquelas em que a barriga ronca mais que uma caixa de Rural Willys , e ainda , estar longe da privada, digamos caminhando pela Rua Simeão Ribeiro quando de repente dá de cara com o - Café Galo ou Bar Cristal - , nos dias de hoje que não tem WC. Aí o negócio é destambocar lá pra praça Dr. Carlos. Chega lá tem fila. Ruma para o Shoping Popular, idem. É triste.

E uma picada de maribondo chapéu no beiço. Você ficará lindo na foto.

E quando a frieira ataca os entrededos em pleno inverno ? Aliada a uma trombada do mesmo dedo no pé de uma mesa de sucupira ?. É uma boa pedida para você sair por aí conversando sozinho.

E uma martelada no dedo num dia frio de inverno, tem coisa pior ? A pri-meira coisa que providenciamos é enfiá-lo na boca e chupar. É muito bonito.

E para quem já morou na roça e levou uma rabada de vaca no olho bem na hora em que estava tirando leite , hein?

Uma prensada de dedo na porta do carro teria qualificação?

Tipos de dores que não têm a intensidade e a persistência de uma dor de dente, mas podem ser definidas por dores morais, abalam a auto-estima do vi-vente:

A urina de difícil trânsito, percorrendo pela próstata inflamada, ai, ai, que ardência.

Uma coceira no saco durante uma cerimônia longa e todos olhando para você ; e a incapacidade de esboçar qualquer atitude porque contraria as regras mínimas de etiqueta social ?.

Já pensou estar num ambiente social, tipo Clube Rui Barbosa, em tempo de festa, ou no Automóvel Clube no lançamento do livro de Itamaury Telles,? Aí es-corre nariz abaixo aquele líquido muco e, nos deparamos que no bolso não está aquele lenço salvador . O remédio é terrível, dar um ré com a caixa seca, aquela da Rural Willys, chamando a atenção de todos, logo, logo ele volta. Só de escrever está me dando cócegas no nariz.

Como priorizar as dores?

Poderíamos fazer um simpósio, onde todos expressariam suas angústias. Tenho certeza que aqueles hipocondríacos da crônica anterior se sentirão no direito de ganhar, e com toda razão. Como diria o saudoso Pedrinho , quando um dia lhe perguntei como ia, ele respondeu: se você me perguntar onde é que não dói eu te digo. Ele tinha experiência e vivência, não é por nada que na Idade Média definia a felicidade como a ausência da dor.

*Acadêmico de Direito e sócio honorário da Aclecia