Bola fora
No mercado
- Opa e aí Paulo...
- Pedro...
- Não eu sou o Junior, não lembra de mim, colégio e tals...
- Sim lembro, to falando eu sou Pedro não Paulo...
- Pedro, Paulo tudo apóstolos... Quanto tempo hein...
- Pois é faz um tempo...
- Quanto mais ou menos?
- Ah, um tempão.
- Pois é faz tempo!
Silencio
- E aí o que anda aprontando?
- Ah nada demais, só correndo.
- É, a correria não para!
- E você?
- Correndo também.
- É não é fácil.
- Não é pra ninguém...
- Pra ninguém.
- Ninguém...
Mais um silencio.
- E a mulherada? Ãhm? Você era garanhão, todo mundo dizia que você não ia casar nunca.
- Casei!
- Meus parabéns...
- Valeu!
- E você e a Jennifer estão juntos ainda? Eram um casal inseparável, todo mundo tinha inveja...
- Nos divorciamos...
- Hum, acontece né, a vida é assim mesmo, bola pra frente.
- É!
Silencio
- E o futebolzinho? Você era bom hein... Foi o melhor lateral que eu já conheci!
- Eu jogava de gol.
- Isso melhor goleiro, melhor goleiro!
- Não jogo mais...
Silencio, novamente.
- E aí já teve filhos? Tem cara de quem já tem pelo menos uns 3...
- Descobri recentemente que sou estéril.
- Ah filho pra que né só enchem o saco... Não ta perdendo nada, só dão trabalho!
- To querendo adotar um!
- Eu ia te dar essa dica, adotar, pai é o que cria não o que esquece na escola, ou alguma coisa assim.
- Atenção senhor Leandro, senhor Leandro, a senhora Flavia te espera no caixa três.
- Ih não da mais pra se esconder te descobriram! É a policia... Mulher no mercado é assim mesmo... Não da nem pra se esconder...
- É a minha sogra!
- Pior ainda... se quiser te dou cobertura – fala e cai na gargalhada.
- Ela é deficiente...
- Hum... – todo sem graça.
- Melhor eu ir indo. – já saindo fora.
- Ah eu tenho que ir também...
- Abraço... Da um abraço na sogra!
- Abraço. – sai.
Chega uma mulher.
- Com quem você tava conversando?
- Ah era um amigo meu do tempo do colégio.
- Ah é... Teu chegado?
- Um dos meus melhores amigo.
- Ah então vamos lá convidar ele pra ir lá em casa jantar com a gente.
- Ih não dá?
- Por quê? É conhecido seu, você tem tão poucos amigos amor.
- Porque, por que... Ei eu não tenho poucos amigos!
- Ah não? Cita três pra mim. – para com a mão na cintura, e batendo o pé como toda mulher faz ao desafiar o marido.
- Tem o Kleber.
- Ele não é teu amigo, é teu colega.
- E qual é a diferença?
- Amigo é chegado, colega não.
- Ta bom, tem o Peter.
- Colega.
- Jeff.
- Colega de futebol.
Silêncio.
- Ta bom ele não era meu amigo, era só um conhecido da época de colégio que eu queria ver se conseguia reatar alguma coisa pra ter um amigo.
- Mas você não tem jeito mesmo, fica mentindo me enchendo de esperança achando que você tinha encontrado alguém. Vou te contar. – pega o carrinho de compra e vai embora.
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No meio da noite ele é pego com a boca na butija atacando a geladeira.
- A-Rá! Muito bonito.
- O que, o que foi? – jogando as comidas pra cima.
- O que você pensa que está fazendo?
- O que eu estava fazendo?
- Eu perguntei primeiro.
- Eu não sei...
- Não se faça de bobo Roberto.
- Não estou me fazendo de bobo, juro que eu não sei o que eu to fazendo aqui.
- A você não sabe?
- Não!
- Não?
- Não!
- Então deixa eu explicar. Você estava assaltando a geladeira, de novo.
- Sério?
- Ah, toma vergonha nessa cara.
- Juro que eu não sei como eu vim parar aqui.
- De novo essa do sonâmbulo?
- Dessa vez não é mentira.
- Das outras três vezes também não era.
- Aquelas eram, mas agora não é.
- Roberto...
- Juro! Deitei e dormi como sempre. Não sei como vim parar aqui.
- Como eu vou acreditar em você?
- Porque eu mentiria sobre uma mesma coisa, de novo?
- Porque você é um cara de pau.
- Tirando isso?
- Porque você não tem um pingo de vergonha na cara!
- Ta bom, não tenho credibilidade, mas juro que dessa vez é verdade.
- Roberto.
- Juro. A ultima coisa que eu lembro é de estar deitado na cama.
- É eu também, você estava deitado lá quando eu peguei no sono, então acordei pra vir tomar uma água e dei de cara com você!
- Pera aí porque veio até a cozinha tomar água se temos do lado da cama.
- Oi?
- Você veio aqui assaltar a geladeira também?
- Quem eu...
- Não eu...
- Eu vim te procurar...
- Procurar? Acabou de falar que tinha vindo buscar água!
- Não muda de assunto, você é quem está errado, não fui eu quem foi pego dentro da geladeira.
- Não foi porque eu vim antes.
- Então você não estava sonâmbulo coisa nenhuma.
- Quem ta mudando de assunto agora é você.
- Não acredito que eu quase cai nesse papo de sonambulismo de novo. Mas faz isso, continua assaltando a geladeira a noite que você vai muito longe, você ouviu o que o médico falou Roberto, você ouviu. Agora da licença que eu vou pegar o pudim porque eu estou estressada. – tira ele de dentro da geladeira e o empurra para o sofá.
- Boa desculpa. – resmunga.
- O que você disse?
- Nada.
- Olha eu só não mando você dormir na sala porque é mais perto da cozinha. – fala, vira as costas e vai em direção ao quarto. – Vem pro quarto.
- To indo vou tomar um copo de água.
- Tem água aqui no quarto. – Grita da cama.