Uma dia e uma noite na Serra…

Um destes dias li na imprensa que 2 casais franceses andaram perdidos num rio...e foi toda a gente atrás deles...e em pânico...durante a meia dúzia de horas de ausência ouve directos televisivos e testemunhos emocionados das famílias que foram incomodar a França, temendo-se o pior, numa certa imprensa bem fiel a uma parte do sentir português que tanto detesto, o antecipar de uma desgraça, o fazer um funeral antes sequer de se ver um corpo…e foram apenas meia dúzia de horas…E por isso dei comigo a recordar de forma nostálgica os meus tempos de adolescência…recordando que numa colónia de férias, e querendo armar-me em esperto ultrapassando toda a gente e chegado primeiro a essa colónia…, durante uma caminhada aliei-me a um amigo de ocasião e decidimos ir por uma via alternativa numa serra enorme e algo perigosa, confiantes no facto desse amigo ter passado por lá no verão anterior…por lá…algures…e reforço que a serra era enorme…E foi assim que o percurso alternativo se tornou em algo de perigoso que durou 10 horas quando demos por nós perdidos porque a noite caíra entretanto e o caminho era algo que só estava presente na nossa imaginação e esperanças de gente demasiado nova para se aperceber do perigo em que se metera…E foi assim que desesperados por encontrar um caminho trepámos rochedos enormes e nadámos através de um rio muito simpático e aprazível mas que viemos a descobrir mais tarde ser extremamente perigoso, perigo que ignorámos até mesmo quando um de nós se feriu ao saltar de um rochedo (que de salvação se tornara num beco sem saída…) para esse rio…E não houve nem equipas de busca nem nada… (raios…e eu que adoro helicópteros adorava ter dado uma voltita num que hipoteticamente nos iria salvar…) Por mero acaso demos por fim no meio da mais profunda escuridão por um caminho aleatório que nos levou por acaso até à colónia, onde o director desta além de hesitar em nos mandar para casa como castigo pelo disparate, nos confessou que não alertara as autoridades porque seguia um protocolo que indicava que só passado um determinado tempo se mandaria alguém em nosso socorro…-eu juro que nunca tinha ouvido falar de protocolo daquele tipo apesar de frequentar colónias daquelas desde muito jovem…-, mas director era director e ele lá devia ter razão…penso…), e só não fomos mais cedo para casa porque o homem ficara mais aliviado do que furioso por nos ver…Do mal o menos, passei a ser o herói do campo (o meu camarada de desgraça era demasiado calado e avesso ao protagonismo que eu assumi…) e de repente as garotas mais giras do dito campo passaram a andar à volta de minha pessoa e a pedir pela milésima vez que repetisse o relato da tal aventura…que se ia tornando num misto de lenda e de mito cada vez que o repetia, numa versão de histórias de pescadores passadas na Serra…) Mas ainda hoje me revolto por não nos terem ido buscar…está bem que tal aventura desenvolveu um espírito de desenrascanço que bem me deu e bem me dá jeito na vida, mas a indignação de nos terem deixado a sós perturba-me um pouco… Mas pensando bem...se calhar não vieram de propósito...;)

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 01/11/2011
Código do texto: T3311006
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