Cobrinha esperta
Agenor Falamansa era outra figura pitoresca da Freguesia do Cercado. Viveu ainda muitos anos depois da emancipação política do Cercado. A este tive a felicidade de conhecer, quando ainda menino, trabalhei no Bar da Casa Velha. O velho era um assíduo frequentador, seus horários eram diferentes dos da maioria dos fregueses, pois já era aposentado. Ensinou-me coisas interessantes, entre elas a valorizar a todas as pessoas, independentemente da idade de cada uma. Os meninos crescem, como aconteceu comigo. Guardo ainda na memória, com incrível nitidez, a imagem do simpático velhinho palrador.
Contou-me ele que sempre que ia pescar traíras, saía primeiro à caça de pererecas que, segundo ele, é a melhor isca para tal peixe, que como era supersticioso punha o pequeno anfíbio dentro da boca por alguns segundos antes de prendê-lo ao anzol, que era para dar sorte; que o amarrava ao instrumento de pesca para que, permanecendo vivo, melhor atraísse a lobó. Disse que de uma feita não conseguira nenhuma perereca, e fora pescar assim mesmo, na pequena represa do Caidor. Estava ali acocorado a horas com isca de minhoca e nada de traíra. Resolveu tomar um trago de cachaça e acender um palheiro para espantar os mosquitos, foi quando vira uma pequena cobra jararaca que acabara de vitimar uma perereca e ainda a tinha esperneando na boca. Teve uma idéia despejou a cachaça que havia servido para si na boca da cobra e ela imediatamente soltou a perereca, ele a pegou ainda meio tonta e iscou o anzol.
Estava ele entretido pescando quando sentiu um leve toque no paletó. Olhou de lado e viu a pequena jararaca com outra perececa, esperando outra dose. Pode?
Até hoje não sei dizer s o velho Agenor falava sério ou bricava sobre essas coisas. O certo é que tenho muitas outras dele para contar.