Uma ida à Televisão...

Em tempos, nos anos 90 do século XX, havia um programa na televisão privada que era invulgarmente popular apesar da temática ser velha e muito vista: um actor fingia ser uma pessoa como as outras e metia-se com pessoas da rua que desconheciam que ele era actor, originando situações mais ou menos originais das pessoas perante um imprevisto…é o chamado “Apanhado”, algo quase tão velho como a própria televisão em si…Mas no entanto é uma formula de sucesso que continua a atrair audiências…Ora um desses programas tinha a atracção, de nos intervalos da visualizarão dessas cenas ter outros espectáculos…: era assim que por exemplo convidavam ranchos folclóricos que cantavam e dançavam para a audiência do estúdio, era assim que convidavam tunas de estudantes académicos para cantar, pois as tunas estavam então na moda…Ora um dia estava com amigos e surgiu-me o convite para ir com uma dessas tunas…o problema é que eu nem sabia cantar e muito menos fazia parte de uma tuna…Mas não havia problema, ia com o fato académico, durante as gravações só moveria os lábios e passaria por ser um elemento da tuna…afinal um estudante vestido de preto não se distingue dos outros…E foi assim que começou a minha primeira experiência televisiva…

Mesmo entre o irreverente meio académico, os estudantes da minha cidade possuem uma forma muito típica e peculiar de estar…que ou era de todo desconhecida de quem nos convidou ou menosprezaram essa fama…que desde logo veio ao de cima mal entrámos em estúdio…: havia a proibição de fumar, de beber e de comer nesses estúdios…havia…a malta até iria obedecer naturalmente por uma questão de respeito, mas a produção caiu na asneira de utilizar a palavra “Proibido” em vez de “Não é aconselhável”…e nós seguíamos à letra uma máxima do Maio de 68: “é proibido proibir”…

E foi assim que num ápice surgiram cigarros acesos, sandes de mão em mão e até uma garrafa apareceu do nada…

Quando verificámos que a produção estava à beira de um ataque de nervos a malta parou…Até que o apresentador do programa caiu na suprema asneira de acender um cigarro à nossa frente, afinal ele podia, ele era a vedeta…Pois…e num ápice enquanto um de nós lhe cravava um cigarro, dos bolsos dos outros fumadores surgiram cigarros e de repente o estúdio tinha uma névoa que mais parecia um nevoeiro de uma cidade fortemente industrializada…

Por fim o pesadelo da produção acabou, com o final das gravações, e foi então que a produção aliviada nos convidou para o prometido lanche que sucederia às gravações…e a malta comeu de forma ordeira, até que alguém perguntou se "poderíamos levar algo para o caminho...?" Porque tínhamos pela nossa frente umas horas de viagem, e fazer esta de estômago vazia seria doloroso…A produção, caiu no derradeiro pecado da ingenuidade e respondeu afirmativamente...Coitadinhos...não conheciam a malta da minha cidade, nem tinham aprendido a lição que demos durante as gravações...: um de nós abriu a capa do fato académico e...fiquei a saber que numa capa cabem muitas latas de bebida e lanches...apenas com o que estava numa capa ocupámos o banco inteiro traseiro de um autocarro...no mínimo foi lindo...então a cara deles, da produção quando viram a capa cheia...Algures em casa de um de nós está ainda a cereja em cima do bolo da desgraça da produção…: a cabeça de um robocop de cartão que alguém levou no meio dos lanches…porque havia ainda um bocadinho de espaço na capa…E em minha casa está uma rara gravação do vídeo que passou na televisão…Onde parecemos anjos bem comportados, pois naturalmente a televisão não se coaduna com as divertidas cenas que protagonizámos e muito menos com a cara de choque do apresentador vedeta e da produção à beira de um ataque de nervos…

Mas nunca mais fomos convidados para coisas do género…

Ainda hoje estou para saber a razão de tal…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 27/10/2011
Reeditado em 27/10/2011
Código do texto: T3301214
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