Meu amigo sapo
Apareceu um sapo em minha vida. É verdade. Tenho um banheiro que fica fora de casa, e sempre está aberto. É uma espécie de banheiro guarda treco. Desde panela velha, material de limpeza, lixo reciclável, e por ai afora. O sapo entrou se alojou e ficou. A primeira vez que o vi, estava descansando em cima de uma lata de tinta, tive vontade de gritar. Mas achei melhor não. Medo de sapo? Eu não. Sou uma mulher independente, sozinha e corajosa. Então sai de fininho e deixei o sapão lá. Fiquei matutando como me livrar dele. Nenhuma idéia. Ou melhor, todas as idéias eram impraticáveis. Jogar sal nele: Dizem que mata. Água quente. Não... De mais a mais eu não queria machucá-lo, sou contra violência, e é um sapo bonito. (se é que sapo pode ser bonito). Com umas manchas amarelas, marrons, e pretas (cor de algum time de futebol, com certeza), olhos grandes amarelados. Disseram-me que é sapo velho, porque só sapo velho que é colorido. Vá que é o meu príncipe encantado. Quem sabe um charmoso príncipe de meia idade. Então achei melhor deixá-lo lá. Tudo bem que teria que beijá-lo. Difícil. Não entro mais no banheiro sem uma vassoura. De vez em quando converso com ele. De longe. Ele empoleirado em alguma traia, ou meio escondido atrás de algum saco de reciclagem. Fiz um trato com ele: Você fica na tua sem pular em mim, e eu não te aborreço tentando te tirar daqui. Acho que agora estamos bem. Será que posso dizer que tenho um amigo sapo?