O CAIPIRA, A VETERINÁRIA E A ÉGUA NO CIO

Quinzinho contando um causo:

Uma veiz eu tava cuidano do meu sirviço lá na roça, tinha chuvido muito, e iscuitei um baruio de carro passano na istradinha de lá. Pensei:

-Esse carro vai atolá ali na frente, a istrada ta cheia de buraco. Poco despois iscuitei o baruio do çuleradô do carro, baruio de carro atolado. Canguei dois boi Carrero e toquei eles pro lado do carro. Já fui chegando e sintino chero de embreage e burracha quemada. Falei cum o motorista:

-Dianta çulerá não, ta atolado mesmo. Era uma muié. E bunita. Ela desceu do carro e recramô do istado da istradinha. Eu falei cuela que pocos metro adiente chegava na redovia e miorava um poco. Marrei as corda no pára-choque do carro e na canga dos boi e im poco prazo o carro já tinha saído do atolero. A muié ficô muito gardecida e quiria me pagá pro sirviço. Eu falei que num tinha que pagá nada não. Aí ela falô que era médica veterionara que tava passiano na casa dum parente. E priguntô se num pudia fazê nada pra mim. Eu falei:

-Foi Deus que mandô a sinhora aqui, eu tô cum boi Carrero meio perrengado, triste, disanimado... Ela foi inxaminá o boi. Feiz os inxame, apricô uma injerção que ela tinha na maleta dela, e falô que logo, logo o boi ia aprumá. Nois tava no curral, e lá perto tinha uma égua no cio. E um cavalo viu a portera aberta e foi pra banda da égua. O cavalo era daqueles sem ducação, já veio com o trem balangano e Crau! Na égua. Eu fiquei com muita vergonha, mas a muié nem ligô praquilo não... Aí nois fiquemo prusiano, eu veno que a muié era de prosa falei cuela:

-Dotora, trem bão é muié né... pra sinhora vê, cio de égua dura uns cinco dia, ela só aceita o cavalo nesses cinco dia, muié num tem tempo ruim pra elas não, quarqué hora, é hora...

Ela fico rino, dano confiança pra mim, eu era um rapais inté sacudido... A patroa tava pra cidade e eu tava sozinho quais uma semana. Tava a pirigo, num podeno nem vê perna de mesa, fiquei pensano:

-Esse negoço ta miorano, quem sabe dá um crima... Eu chamei ela pra dento de casa, mode ela lavá as mão, e tomá um cafezinho. Paricia quela tava ino cum a minha cara, eu já ia fazê uma preposta pra ela, quando iscuitei chamano:

-Ô de casa!

Fui vê quem era. Era meu vizinho o Zé Coquero, o maió dismancha roda e futriquero da região. Ele entrô pra dento e ficô cunversano, cunversano...cabô ispantano a muié que resorveu í imbora...

Eu tive vontade de capá o Zé Coquero...

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