A Batida

Depois de uma batida. Desce um de cada carro, ele achando que quem está errado é ela, e ela achando que quem está errado é ele.

- O senhor ta cego?

- O que? Eu? Eu o que?

- É e pelo jeito também ta surdo!

- Espera aí minha senhora quem tem idade pra ta surdo ou cego aqui não sou eu não!

- O que o senhor ta insinuando?

- Não estou insinuando nada, ainda!

- Você não viu meu carro não?

- Vi infelizmente eu vi. Você não sabe o que eu não daria para não ter visto.

- Se o senhor viu então porque não freio?

- Não sei, vai ver eu achei que tava brincando de carrinho de bate-bate! É lógico que eu freei, foi você quem não freou minha senhora!

- Minha senhora é o cambau, sua senhora ta na puta que te pariu. Se eu fosse sua senhora eu não deixaria você ter comprado carro.

- Ah você bate em mim e a culpa é minha?

- Eu bato em você? Eu. Bato. Em você?

- E depois eu é que quem estou surdo...

- Eu queria muito bater em você, mas não com o carro, sim com uma marreta!

Chega a policia para esfriar a discussão.

- O que está acontecendo aqui? – pergunta calmamente o policia.

- Daí eu concordava em arcar com as conseqüências. – disse ela.

- O que está acontecendo? – novamente pergunta o oficial.

- É pelo menos pra usar a marreta não precisa ter carteira!

- O que aconteceu aqui, cacete. – finalmente fazendo-os o ouvir.

Silencio. O guarda olha para os dois.

- É que alguém aqui tem dificuldades de diferenciar o freio do acelerador.

- Tem mesmo, mas não se preocupe que depois desse acidente ele vai se esforçar pra decorar.

- Não vão começar porque se não vou levar os dois em cana. – disse com aquela autoridade que só uma autoridade tem.

Silencio.

- Agora me digam o que houve.

- Eu ta vindo lá de baixo, dei o sinal pra pegar a direita...

- Nossa ele sabe diferenciar direita e esquerda. – interrompendo-o.

- Minha senhora deixa ele terminar a história dele.

- Desculpa, desculpa.

- Eu dei o sinal, e como eu vi que ela tava vindo muito rápido...

- Muito rapido? Muito rápido pra quem? Para o Rubinho?

- Minha senhora eu vou ter que pedir de novo?

- Hoje eu acordei senhora de todo mundo. – resmungou.

- O que a senhora disse? – virou segurando o cassetete para intimidá-la.

- Disse que não vai precisar pedir de novo!

- Então eu freei pra evitar o pior.

- E pelo jeito não adiantou... – ironizou o policia.

- É... Teria adiantado se ela soubesse que o freio é o do meio.

Silencio.

- Posso contar a minha versão agora?

- Sua versão?

- Pode.

- Eu vinha descendo a rua na velocidade permitida, mas como era uma decida a tartaruga Touché aí teve a impressão que eu estava rápida.

- Tartaruga Touché? Você é mais velha do que eu imaginava.

- O senhor vai deixar ele me insultar assim?

- Fica pelo tartaruga Touché. Agora prossiga a história.

- Velha... Hum... Então eu tava descendo, dei o pisca para a esquerda, e como ele já tava devagar e reduziu, e a preferencial não é de nenhum dos dois, então achei que ele estava sendo cavalheiro e me dando a vez.

- Como assim cavalheiro? Não existe cavalheiro desde o tempo da tartaruga Touché

- É ainda bem que você não é um cavalheiro assim eu não vou precisar ficar com dó na hora de cobrar o estrago.

- Você cobrar o estrago? Eu to certo e ainda vou ter que pagar. Acho que você está enganada.

- Estou enganada em estar discutindo com você, só vou pegar o numero da sua placa e ir embora.

- Não precisa pegar só o numero não, pega a placa inteira você já arrancou ela do meu carro mesmo.

- Ei, Ei. – gritou o policial.

Silencio.

- Vocês esqueceram que eu to aqui?

- Não, desculpa seu guarda. – disse ela.

- Se você não é a “minha senhora”, eu também não sou o “seu guarda”.

- Viu, deixa a lei falar.

- E você também fica quieto aí.

- Desculpa.

- Só quero dizer que cada um vai pagar o seu estrago.

- Pera aí policial eu não tenho dinheiro pra pagar isso agora, to apertado.

- Não acredito nisso meu marido vai ficar louco.

- Ficar louco? Ele é louco de ser casada com você.

- O que você disse aí. – partindo pra cima dele.

- Eita mais esqueceram de novo que eu to aqui? Quer ver eu levar os dois em cana.

- Desculpa.

- Desculpa.

- Vamos terminar logo com isso, cada um vai arcar com o seu estrago.

- Ta bom né, fazer o que... – disseram os dois, e já iam se encaminhando cada um para o seu respectivo veiculo.

- Pera aí não terminou, vamos até a viatura comigo.

- Ué porque? Já não ta resolvido?

- Até a viatura? Eu já perdi muito tempo aqui.

- Já ta resolvido sim. Só falta entregar a multa para os dois.

- Multa? – disseram novamente em coro.

- Multa por estarem entrando em uma rua contra a mão.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 17/10/2011
Reeditado em 17/10/2011
Código do texto: T3281201