HUMOR – Meu final de semana
 
 
 
HUMOR - Meu final de semana – 09.10. 2011

        
          Meio chateado com um mal estar de última hora, segui sozinho para a minha casa de praia, que é o lugar onde costumo esquecer as mágoas do dia a dia, pois lá eu tenho a minha horta, meu pomar, meu material de pintura e meus barquinhos para passear e pescar no nosso lindo litoral.

          Claro que o meu lema na medida em que os anos se passam tem sido tentar melhorar a minha vida, o meu relacionamento, preservando os valores, as novas e velhas amizades, além de tentar ser mais justo e acessível àqueles que me cercam e também com os novos amigos que vão se incorporando ao nosso círculo.

          Mas vamos ao que me propus: Minha esposa ficara em Recife e só iria no sábado. “Acorda Georgito, vamos pra casa de praia, acorda, cara”, insistia ela. – Deixe-me dormir, estou com sono, respondia o garotão. -- Sabe, teu avô vai fazer pipas à vontade pra você empinar, aproveita, e isso foi o suficiente para que ele desse um pinote da cama.

          Quando eu menos esperava, eis que adentra o menino com sua avó por volta das 17:00 horas, e vai logo perguntando: “Vovô, cadê as pipas, o senhor já as fez”. Evidentemente que eu de nada sabia, pois ela não havia combinado comigo, por conta da confiança, mas respondi que estava tudo certo para começar; chamei o caseiro e pedi que ele providenciasse meu material (bambu, linha, a faquinha bem afiada, papel de seda, tesoura e cola), a fim de iniciar a tarefa.

          “Não achei a caixa doutor; lembro-me de que a coloquei na garagem desde o verão do ano passado, assim como faço todos os anos, mas o papel, a cola e a tesoura devem estar aí dentro de sua casa”. -- E agora, interroguei-me baixinho; tem nada não, consiga uma vara de bambu já seca e afie essa faca que eu dou um jeito, mas não se esqueça da linha pelo amor de Deus, respondi. “Eu estou indo ao povoado e comprarei a linha, falara minha mulher”. – Compre das finas, número dez, por exemplo, que tanto pode ajudar a construir os artefatos como para levantá-los, respondi.

         Nisso a noite já ia surgindo, mas o importante agora é que já dispunha do material necessário para cumprir a tarefa. Mãos à obra cortei as varetas do bambu, peguei o carretel de linha e por fim saíra a primeira armação, e agora seria somente cobri-la; pelo adiantado da hora bastaria uma, porquanto não se iria empinar papagaio à noite, embora não seja impossível.

         A tesoura que achei não cortava coisíssima alguma, passava pelo papel e nem sinal, deslizava como os seiscentos diachos. Todavia, vendo que a história das pipas era verdadeira ele se acalmou ao entrar na internet e participar dos games de que gosta. “Mas amanhã de manhã o senhor termina, certo”? – Claro meu garoto. Nem é necessário dizer que ele é por demais exigente e teimoso de pai, mãe e avô.

         Manhã do domingo acordei cedo, como sempre, peguei o meu bugre e foi com o caseiro ao povoado de Gaibu, a fim de adquirir uma tesoura. Contudo não consegui. Não é possível, a única lojinha que poderia vender tal ferramenta estava fechada; perdi a viagem, e agora vovô? Indagara de mim mesmo...

         Desolado, o Georgito ficara assim meio amuado, e nem mesmo a piscina atraiu a sua atenção. Nesses casos temos de ter a paciência de Jó, até por que perder a confiança dos garotos não é de boa política...

         Coloquei a criatividade para funcionar e me lembrei dos meus tempos de rapazola. Peguei algumas folhas de papel tipo carta, chamei-o pra perto de mim e falei: Cara, você vai ver como se faz uma pipa com muita facilidade, senta aí juntinho, vai. Aguçada a curiosidade dele, comecei o trabalho; peguei uma folha e fui fazendo as dobras de praxe, culminando com uma “periquita” (¹) pronta; peguei a linha, fiz o cabresto, arranjei uns pedacinhos de saco plástico e fui fazendo a cauda, até que ficara pronto o protótipo. “E isso sobe meu avô, perguntara”? – Claro que sim, vamos pra beira da praia testar...

         Na primeira tentativa lá estava a pipinha subindo com a maior facilidade, fomos nos chegando até passar a linha pelo muro lateral da casa e nos dirigimos pra área da minha horta; entreguei o comando da periquita ao Georgito, que a essa altura vibrava de contentamento: -- Vovô o senhor é o maior avô do mundo. Descuidou-se, porém e o carretel de linha se soltou de sua mão, em face da ventania, e lá se vai a pipinha embora; todos atrás dela, mas o quê... Por obra da sorte, a linha foi se amarrar no alto de uma papoula, mas o carretel ficara enrolado na rede elétrica. Quando o caseiro colocou a escada para resgatá-la, eis que cai um toró tão forte que ao molhar o invento este caiu como um parafuso e se desmantelou todo, nem escapou a rabada, a cauda, quero dizer.

         Daí pra frente novas pipinhas foram feitas, e da área interna da piscina ele saboreou um dia de criança feliz, sem camisa, mas com aquele objeto diferente voando nas alturas, e eu cumpri a minha missão naquele dia tão feliz, que me fez esquecer os aperreios de última hora...
 
(¹) – Nome dado em face do formato dela.
 
Ansilgus.
Em construção/revisão
ansilgus
Enviado por ansilgus em 10/10/2011
Reeditado em 10/10/2011
Código do texto: T3268107
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