A PULGA E O CARRAPATO

Um cachorro saiu de uma fazenda na baixada do brejeiro e disposto a encontrar uma erva qualquer nos pastos de meloso sumiu numa trilha de vegetação mista sem sequer saber ao certo onde iria parar acossado por terrível dor de barriga.

- Como é que pode uma dor de barrigas dessas me pegar logo agora que chegaram dois gambás que tenho que expulsar antes da galinha botar seus ovos? Deve ter sido aqueles ossos que estavam jogados debaixo do pé de embauba.

Passava lento por um caminho mostrando uma careta de enjôo e no seu pelo uma pulga já estranhava o itinerário, não gostando, até porque o cão ia num sol bastante quente.

- Para onde será que vai esse cachorro estúpido? Tive uma noite das mais agitadas e preciso de descanso, a briga por território com os pernilongos foi pesada e estou de fato bastante cansada e essa chacoalhada toda me deixa tonta.

Olha ao redor e vê que o ambiente em nada se parecia como terreiro poeirento onde poderia entre um pulo e outro dar uma boa pinicada no cachorro com variação para uma pato, umas dez galinhas e alguns cabritos.

- Se esse sarnento demorar demais, o jeito e voltar para o terreiro na garupa de algum passaro, porque o Sol já está me arrebentando cedo, para não falar nos solavancos, pois era para esse cão estar numa sombra dormindo por ter latido a noite toda ao invés de ficar por ai andando sem rumo pelo visto.

Como se atendesse ao clamor da pulga, ele para diante de um pé de estranha gramínea e apôs mastigar algumas de suas folhas peludas parece se dar por satisfeito melhorando a careta de enjôo.

- Ufa! Que alívio,acho que vou descansar um pouco debaixo daquele pé de lobeira ali para ver se recupero um pouco as energias.

Descansava pois com a pulga no lombo que agradou da idéia não sem antes dar nele uma dolorida pinicada que o fez um tapa no próprio dorso ralhando:

- Mas que diacho, tem uma danada de uma pulga aqui que não dá sossego nem com sol quente.

- Puxa vida quase que esse tapa me pega, mas o negocio é que não posso puxar minha sonolenta pestana de barriga vazia.

A sombra era boa e em pouco tempo o sono ocupou os dois que não perceberam a chegada de alguns carrapatos.

- Vejam bem pessoal, havia bem uns meses que não víamos viva alma por esses lados e agora esse cão aparece manso, e gordo dormindo debaixo dessa lobeira.

- Eeeeee!! Sangue novo!! Ao ataque!

- Um minuto ai espertinhos, - fala a pulga que tinha o sono leve e acordou na hora.

– o território por aqui está ocupado caso não tenham percebido.

- Ora,ora, uma pulga com jeito de mandona o que acham colegas?

- Acho que ela terá que procurar outro lugar para sua vida de parasita e sem demora.

- Se não cairem fora haverá derramamento de sangue por aqui.

- Sangue? Gostei do trocadilho.

- Sabe de uma coisa sua pulga, e exatamente o que procuramos, sangue e por isso antes que o haja derramamento do seu sangue, trate você de cair o fora e depressa, é a chance que te damos mas por pouco tempo.

- Molengas como são, como acham que me pegarão?

- Vamos partir pra cima dessa pulga fanfarrona e acabar com ela?

- E pra já. – decidem.

- Vejam se dão um salto igual a esse. E a pulga dá um salto fenomenal e empoleira bem em cima de um dos carrapatos que não tem tempo de pega-la diante da rapidez dela que ficando numa distância segura previne:

- Eu não sou forte para vocês, mas terão que ir embora porque com minha agilidade lhes cansarei sem dar trégua.

- Essa pulga é mesmo rápida pessoal.

- E daí, uma hora se cansará e nos a pegaremos, somos mais de um e verá como se dara mal.

A agitação deles provoca com era de se esperar grande coceira no cão que acorda e resolve voltar a arranhar todo o corpo sem sair do lugar contudo irritando a pulga que ralha como os carrapatos.

- Porque não vão se ocupar do lombo de um cavalo ou uma vaca que são sua preferência? – Não sabiam que cães sao para pulgas?

- Conversa ficaremos por aqui e cuidado com a gente, na primeira distração sua mamata acaba,vamos pessoal achar um lugar para montar nosso refúgio e olho vivo nessa pulga.

- Porque a preocupação, além de ser apenas uma ela nada pode fazer aos nosso duros couros podemos ate nos esquecer dela.

- Nada disso, alguma ela vai aprontar se não tomarmos cuidado.

E encontram os carrapatos lugar ideal na barriga aquietando-se de vez ao passo que a pulga de longe não gostava concorrentes e tramava alguma coisa para desaloja-los ate que teve uma idéia.

- Já sei, a mim basta perturbar esse cachorro o máximo e depois cair fora e ele pensará que são esse carrapatos e cuidará deles em meu lugar.

E se põe a pulga a ferroar o cão que cansados das coceiras resolve dar uma olhada na própria carcaça encontrando os tranqüilos carrapatos dormindo a sono solto e rapidinho os arranca da moleza com seus dentes afiados.

- Aposto que aquela pulga tem alguma coisa com isso.

- Onde ela está afinal?

- Aqui em cima pessoal e toda vez que vocês vierem ao meu território vou incomodar o cão para que ele faça o meu trabalho.

- Vamos cair fora, o lombo de um cavalo e mais tranqüilo.

Assim a pulga se livra dos intrusos que somem lentamente no pasto indo atras de outro animal sem deixar rastro.