Hum...Aí, aí.

Logo depois do almoço.

- Ei... Oh... – cutucou o amigo.

- Que foi?

- Acorda!

- O que já ta na hora de voltar?

- Não, temos mais treze minutos!

- Ah então me deixa aproveitar...

SILENCIO

- Você acredita em vida após a morte?

- Hum?

- Vida após a morte! Morre e vai pra outro lugar.

- Que outro lugar?

- Sei lá, outro lugar que não seja esse...

- Do que você ta falando cara? Essas horas...

- Cara esse é um assunto sério, é um assunto que todos deveriam discutir!

- Mas logo depois do almoço?

- Eu pensei em perguntar durante o almoço, mas não queria estragar a sua fome.

- Meu sono tudo bem estragar?

- Foi mal...

SILENCIO

- E vida após o almoço você acha que existe?

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- Eu queria fazer um brinde!

- Querido para com isso... – disse puxando-o pelo terno.

- Para por quê? Deixa eu fazer meu brinde.

- Porque isso é um velório!

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Os dois estão deitados lado a lado na cama depois da “ação”

- Hum... – Ela dá um longo suspiro. – aí, aí!

- O que foi?

- O que foi o que?

- Você fez: “hum”, seguido de um suspiro e um aí, aí...

- E?

- E esse é o sinal universal de quem quer falar alguma coisa!

- Da onde você tirou isso!

- Foi comprovado cientificamente.

- Rá-Rá! Engraçadão.

- To falando sério. Fizeram teste em ratos de laboratório.

- Ratos?

- É toda vez que a rata chegava perto do macho ela soltava um hum, seguido de um suspiro e um aí, aí. Eles entendiam que ela queria falar alguma coisa!

- Nossa que nada a ver.

- Fala isso para os cientistas.

- Eu não to querendo falar nada!

- Tem certeza?

- Tenho! Se eu quisesse falar alguma coisa, já teria falado!

SILENCIO

- Hum... – mais um longo suspiro. – aí, aí!

- A-RÁ! Sabia.

- Sabia o que?

- Que você queria falar alguma coisa.

- Eu não quero falar nada.

- Tem certeza?

- Tenho.

- Então porque to com a impressão que você quer falar algo.

- É só impressão.

- É deve ser só impressão.

Silencio, ele começa a cochilar, ela cutuca ele.

- O que você está fazendo?

- Cochilando.

- Não é pra cochilar!

- Por quê?

- Porque eu quero conversar.

- Ué, mas você não falou que não tinha nada pra falar.

- Eu realmente não tinha, só que você ficou insistindo tanto que eu arrumei algo, agora pode fazer o favor de se manter acorda!

- Hum... – suspiro. – aí, aí!

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- Eu queria fazer um brinde também.

- Querido. – Puxa-o pela camisa.

- Que foi dessa vez?

- Senta.

- Porque? O senhor ali acabou de levantar a taça e fazer um brinde.

- Aquele é o padre...

- Ah...

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No consultório.

- Pode sentar-se fique a vontade. – diz o médico.

- Obrigado, to meio nervoso nunca fiz isso.

- Relaxe, fale-me um pouco sobre você.

- Tem certeza que quer que eu fale sobre a minha pessoa? Não sei se interessa.

- Interessa sim, você é muito importante.

- Não sou não...

- Conta a sua história que eu vou provar isso pra você!

- Olha acho que essa é uma aposta que o senhor vai perder, eu conheço a minha história, já estive nela e posso confirmar não é nem um pouco interessante.

- Mesmo assim conte!

- Posso contar de outra pessoa? Tem um amigo meu que tem uma história sensacional.

- Não quero falar sobre ele, queremos que você se abra.

- Não vale a pena. Vamos pegar uma história boa!

- Não quero uma boa, quero a sua!

- Ih pelo jeito o senhor já conhece. Só pelo jeito que falou...

- Não conheço... É modo de falar.

- Mesmo assim acertou o chute.

- Mas não foi um... Esquece. Vamos do começo, porque você veio aqui?

- Tem certeza que quer falar de mim?

- Sim.

- Mais eu paguei, posso falar sobre quem eu quiser. Vamos aproveitar melhor esse dinheiro, não desperdiçar falando de mim.

- O senhor tem complexo de inferioridade.

- Que isso, eu não mereço tanto!

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- Se alguém tiver alguma coisa contra esse casamento que fale agora ou cale-se para sempre!

- Eu...

Todos olham para trás.

- Querido...

- Eu queria fazer um brinde!

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 06/10/2011
Reeditado em 06/10/2011
Código do texto: T3260245